Uma nova política energética europeia deve ser ambiciosa, competitiva e de longo prazo. Além disso, a política energética deve trazer benefícios a todos os europeus.
Por Joaquim Borges Gouveia *
A Europa está a ficar cada vez mais dependente de gás e hidrocarbonetos importados da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em particular.
A manter-se o atual statu quo, a dependência da União Europeia (UE) face às importações de energia passará dos atuais 50% do consumo energético total da UE para 65% em 2030.
Pensa-se que a dependência das importações de gás aumentará de 57% para 84% em 2030, e a de petróleo de 82% para 93% atuais políticas energéticas da UE não são sustentáveis.
Mesmo com uma política eficaz de eficiência energética, só para o consumo energético ao longo dos próximos 25 anos, será necessário um investimento da ordem dos 900 mil milhões de euros.
A previsibilidade e a existência de mercados internos eficientes do gás e da eletricidade são essenciais para investimentos a longo prazo que permitam preços competitivos.
Uma nova política energética europeia deve ser ambiciosa, competitiva e de longo prazo. Além disso, a política energética deve trazer benefícios a todos os europeus. Os objetivos da UE noutros domínios, como a Estratégia de Lisboa para o Crescimento e o Emprego e os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, serão também mais difíceis de alcançar.
A criação de incentivos ao investimento, sobretudo em eficiência energética e energias renováveis, deverá criar emprego, promover a inovação e a economia baseada no conhecimento na UE, aliando a transição energética com a transição digital.
A União Europeia já é hoje o líder mundial em tecnologias renováveis e tem potencial para liderar o mercado mundial em rápido crescimento das tecnologias energéticas com baixas emissões de carbono. No caso da energia eólica, por exemplo, as empresas da UE dominam 60% do mercado mundial. A determinação da Europa em continuar na vanguarda da luta global contra as alterações climáticas dá-lhe a oportunidade de liderar a agenda global da investigação. A fim de assegurar o desenvolvimento de tecnologias emergentes, devem ser mantidas todas as opções.
Políticas energética e ambiental europeias: novas vias que se abrem
Ao mesmo tempo, a dimensão social da política energética europeia deve ser tida em conta ao longo de todas as fases de conceção e execução das várias medidas. Ao mesmo tempo que esta política deverá contribuir em geral para o crescimento e o emprego na Europa a longo prazo, poderá exercer um impacto significativo no comércio internacional de alguns produtos e processos, nomeadamente no domínio das indústrias com utilização intensiva de energia.
A política energética e a política ambiental europeia constituirão nos próximos anos uma enorme oportunidade de criar possibilidades de desenvolvimento sustentável em territórios até agora com uma base tecnológica menos intensiva nas tradicionais tecnologias baseadas numa economia intensiva no carbono.
A definição de um modelo de desenvolvimento sustentável baseado em novas soluções energéticas e permitindo a introdução, numa visão integrada, de sistemas energéticos sustentáveis através de um programa de demonstração de “clean technologies”, deverá e poderá transformar Portugal num território modelo de aplicação dessas soluções criando um movimento verdadeiramente demonstrador dessas novas soluções energéticas sustentáveis aliadas à digitalização do setor energético.
Finalmente, Portugal, dada a sua localização geográfica, poderá desempenhar através do porto de Sines uma ligação alternativa para fornecimento de matérias primas energéticas oriundas de África e do continente americano, norte, centro e sul, possíveis fornecedores de gás natural e petróleo à Europa.
* Professor Catedrático Aposentado da Universidade de Aveiro e Presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Management. Artigo publicado originalmente na revista Linhas.
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