Pandemia, emergência e vacinação

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Nas medidas a adotar não se faz qualquer referência direta a cuidados específicos para os Lares. Ou porque ainda virão a ser dadas orientações direcionadas ou porque os dirigentes das Instituições têm sabido interpretar outras orientações e corresponder às muitas solicitações.

Por Lino Maia *

1. Com um desagravamento em vários municípios, nomeadamente na região Norte, que apesar de manter incidências elevadas tem já um desagravamento, parece estar a verificar-se uma tendência de descida da epidemia de COVID-19 em Portugal. Na região de Lisboa e Vale do Tejo também se verifica uma variação decrescente, o que são boas notícias. Ter-se-á atingido a incidência máxima cumulativa por via de notificação no dia 25 de novembro, havendo já uma tendência de descida, que se deseja que seja brevemente consolidada.

Outra boa notícia é que o grupo de 60/70 anos e 70/80 anos estão relativamente protegidos em relação aos outros grupos etários.

No entanto, o grupo de mais de 80 anos é um grupo que tem maior dependência, maior intensidade de contactos e, por isso, tem ainda uma incidência mais alta. E este é o grupo que percentualmente mais apoiado é nos Lares, nomeadamente nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e nos Lares Residenciais das IPSS…

Segundo informações avaliadas pela Segurança Social, no início deste mês, no dia 1 de dezembro, não se diferenciando a natureza dos Lares (sector social, privados ou não legalizados), depois de, até então, se terem feito 40.129 testes, verificavam-se 281 surtos ativos em Lares (um surto verifica-se quando há 2 ou mais pacientes), com 4.786 utentes e 1.749 trabalhadores positivos.

Se comparativamente com o que se passa noutros países congéneres, estejamos menos mal, continuamos a sofrer com um doente e a chorar uma morte, pelo que não podemos baixar a guarda e precisamos que o Estado corresponda melhor aos custos dos cuidados prestados e a prestar.

2. A Pandemia está para perdurar e o Estado de Emergência para durar.

Dando seguimento à renovação do Estado de Emergência decretado pelo Presidente da República, o Conselho de Ministros aprovou o decreto que regulamenta as medidas a adotar, em todo o território continental. No essencial, o decreto mantém, as regras atualmente vigentes e estabelece medidas especiais para os períodos do Natal e do Ano Novo.

Nas medidas a adotar não se faz qualquer referência direta a cuidados específicos para os Lares. Ou porque ainda virão a ser dadas orientações direcionadas ou porque os dirigentes das Instituições têm sabido interpretar outras orientações e corresponder às muitas solicitações.

Mas este é um período particularmente sensível. Natal e Ano Novo, mas especialmente Natal. Muito provavelmente mais do que nunca os idosos sentem a necessidade da festa, da gratidão, do afeto e do encontro. E merecem tudo isso e muito mais.

Não se devendo baixar a guarda e sabendo que todos os cuidados nunca serão demasiados, com engenho, coração e arte, os dirigentes, os trabalhadores, as famílias e os voluntários de todos os Lares e de todas as IPSS encontrarão formas de celebrar o Natal sem as dores da solidão e sem riscos para os seus utentes.

Como bem lembrou o Primeiro-Ministro, “o Natal não assegura a imunidade de ninguém”. Por isso, vamos começar desde já a preparar um Natal sem dor mas com amor.

Para que o novo ano o seja de renovada esperança.

3. A esperança para o novo ano é a de que praticamente começa com a vacinação contra o Covid-19, como já anunciou o coordenador da Task-Force para a vacinação, Francisco Ramos.

Quanto aos grupos prioritários, anunciou que numa primeira fase serão vacinadas cerca de 950 mil pessoas.

O primeiro grupo é o das pessoas com 50 ou mais anos e com patologias associadas, profissionais e residentes em lares e unidades de cuidados continuados, profissionais de saúde que prestem cuidados diretos no âmbito da pandemia e forças de segurança. Neste primeiro grupo não são referidos os dirigentes voluntários e dedicados dos Lares, lacuna que já foi identificada e que se deseja ultrapassada.

Numa segunda fase, será dada prioridade a pessoas com mais de 65 anos sem patologias associadas e pessoas com mais de 50 anos, mas com outras doenças associadas, como diabetes, neoplasias, entre outras, estimando-se que sejam abrangidos cerca de 1,8 milhões de cidadãos.

A terceira fase englobará o resto da população.

De acordo com a ministra da Saúde, Marta Temido, haverá 22 milhões de doses disponíveis. “Portugal tem um plano para a distribuição de vacinas. Este é mais um passo de um trabalho que começou há muitos meses”, salientou quando foi apresentado o plano de vacinação.

Além da monitorização das reações adversas, da possibilidade de agendamento da vacinação e do desenvolvimento de estudos de seguimento clínico, prevê-se “uma campanha de comunicação ampla que gere confiança na população”, exemplificou Francisco Ramos.

A vacinação será universal, gratuita e facultativa, tal como já tinha sido noticiado, cumprindo-se o que ficar estipulado no resumo das características do medicamento.

Talvez não seja possível, mas é desejável que ao completar-se um ano (2 de março) sobre a identificação dos primeiros doentes Covid já a vacinação tenha chegado a todos os Lares de Portugal.

* Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Editorial do jornal Solidariedade de Dezembro.

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