Ovar sob ‘cerca sanitária’ com serenidade

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Ovar, 17 de março de 2020 (Foto de João Elvas).

O que este primeiro dia mostra é a realidade das vantagens de antecipação na sensibilização e alerta frontal para um cenário previsível à luz do que vinha acontecendo no mundo, de continente para continente, de país para país, de terra em terra, até às famílias, numa cidade acabadinha de ter recebido em vários dias de Carnaval muitos milhares de forasteiros nacionais e estrangeiros.

José Lopes *

Não fosse uma inexplicável hesitação entre as declarações tomadas ontem pelo Governo, que originaram confusão sobre a inclusão das unidades industriais do concelho de Ovar, que acabaram por ser retiradas na versão final do Despacho do Governo, que em Diário da Republica publicou o decreto de estado de calamidade, e este primeiro dia de ‘cerca sanitária’ devido ao coronavírus Covid-19 seria de grande naturalidade e serenidade.

Como no essencial está a ser, com inevitáveis focos de confusão entre, sobretudo, os trabalhadores de algumas empresas que insistem na sua laboração, mesmo não sendo de produção indispensável para garantir bens essenciais nesta fase de resistência e de luta contra a proliferação do vírus Covid-19.

Sendo inevitável resolver as contradições provocadas no capitulo da laboração da indústria, a exemplo da decisão de hoje da Yazaki Saltano, que encerra depois de há alguns dias ter o seu nome ligado a esta crise pandémica, quando surgiu o primeiro caso em Ovar.

A vida da população local já vinha sendo planeada para tal eventualidade de quarentena mais assumida colectivamente.

Sem sinais de alarmismo, o dia tem decorrido sem perturbações, só mesmo visíveis nos postos de controlo dos acessos a Ovar.

Os bens essenciais já tinham tido no dia anterior uma significativa procura, quando se soube da evolução para a fase de ‘calamidade’ alertada pelo presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, que na linha da posição que vinha assumindo através da sua página do Facebook, sensibilizando repetidamente para ‘isolamento social’ e ‘fiquem em casa’, ao mesmo tempo que exigia do Governo medidas mais eficientes e corajosas.

O autarca já tinha conseguido sensibilizar muitas dezenas de comerciantes locais a encerrarem como caminho mais responsável para fazer face ao drama vivido num concelho com mais de 30 casos de infectados com o Covid-19, com particular destaque na concentração de infectados na Unidade de Saúde Familiar de S. João.

Ainda que surja a duvida sobre eventual inconstitucionalidade do decreto de ‘calamidade’, uma vez que alguns consideram que teria de ser o Presidente da República a tomar uma tal decisão. Ou a polémica sobre a lamentável descoordenação entre Governo e Câmara Municipal de Ovar, sobre as diferentes versões dos decretos para submeter o concelho a ‘cerca sanitária’.

O que este primeiro dia mostra é a realidade das vantagens de antecipação na sensibilização e alerta frontal para um cenário previsível à luz do que vinha acontecendo no mundo, de continente para continente, de país para país, de terra em terra, até às famílias, numa cidade acabadinha de ter recebido em vários dias de Carnaval, muitos milhares de forasteiros nacionais e estrangeiros.

Na angústia de espera de medidas que correspondam de forma corajosa ao avanço de um tal inimigo, como é o Covid-19, em Ovar viveu-se sobretudo a antecipação do novo quadro de combate nacional decidido pelos Órgão do Poder que hoje será assumido no respeito pela democracia.

José Lopes.

* Colaborador da imprensa regional residente em Ovar.

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