Os portos europeus, cruciais na trama do comércio global e na ligação entre continentes e culturas, enfrentam agora uma transição sem precedentes rumo à sustentabilidade.
Por Iris Delgado
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O recente estudo do ESPO, Port Investment Study 2024, que aponta para a necessidade de investimentos na ordem dos 80 mil milhões de euros nos próximos 10 anos, é um testemunho das expectativas elevadas e dos desafios consideráveis que se colocam. A transformação de pontos de trânsito meramente comerciais em hubs multimodais sustentáveis destaca o papel vital que os portos têm na promoção de energias limpas e na economia circular.
Especialistas em economia marítima, como o Professor Lars Jensen da Copenhagen Business School, destacam que “os portos que lideram em sustentabilidade atraem novos negócios e investimentos, redefinindo padrões industriais e estabelecendo novos benchmarks para o setor”.
Ora, como já sabíamos, o financiamento é uma barreira significativa. Isto leva à necessidade de implementação de modelos de financiamento inovadores, como parcerias público-privadas. É essencial que os políticos europeus forneçam um quadro de apoio robusto, incluindo incentivos fiscais para projetos verdes e fundos específicos para infraestruturas sustentáveis.
Em Portugal, a discussão sobre o investimento em infraestruturas portuárias assume uma conotação especial. A autonomia dos portos para realizar investimentos estratégicos é mais do que uma necessidade; é uma urgência. Num contexto em que a pressão para reduzir despesas muitas vezes supera o impulso para investir em inovação, é fundamental reconhecer que certos gastos não deveriam ser vistos como meras despesas operacionais, mas sim como investimentos essenciais no futuro.
A classificação de projetos inovadores, como o fornecimento de energia em terra e a implementação de sistemas de energia renovável nos portos, como despesa de exploração, é um equívoco que retarda o progresso. Estas iniciativas, embora possam exigir desembolsos substanciais no curto prazo, são investimentos no sentido mais puro da palavra: preparam os portos para eficiências futuras, reduções significativas nas emissões de carbono e, crucialmente, alinham-nos com os objetivos do Acordo de Paris.
A criação de modelos de financiamento inovadores, tais como (mas não só!) parcerias público-privadas, é vital. Estes modelos podem oferecer aos portos portugueses a flexibilidade necessária para gerir o seu desenvolvimento de forma sustentável. A Europa, e Portugal em particular, necessita de políticas que não apenas incentivem, mas que efetivamente apoiem financeiramente a sustentabilidade portuária através de fundos específicos para projetos verdes e infraestruturas sustentáveis.
Os portos não são apenas pontos de passagem de mercadorias; são catalisadores de mudança e inovação. Para que Portugal possa liderar nesta nova era de resiliência geoeconómica, é imperativo que os seus portos tenham a capacidade e a autonomia para investir estrategicamente. Somente assim poderão contribuir verdadeiramente para uma economia mais verde e sustentável.
À luz dos resultados do estudo, a ESPO apela aos decisores políticos para que reconheçam a importância estratégica dos portos europeus e para que estabeleçam um quadro de apoio robusto que aborde os desafios de investimento enfrentados por estes portos. O estudo atualizado sobre Investimentos Portuários evidencia que o papel cada vez mais amplo dos portos acarreta novas responsabilidades e necessidades de investimento, frequentemente envolvendo retornos menos previsíveis.
Neste novo contexto geopolítico e geoeconómico, é crucial que os portos recebam o apoio necessário para cumprir com a sua missão e responsabilidades.
A colaboração entre o governo, a indústria e as comunidades locais é essencial. Juntos, devemos assegurar que os investimentos realizados hoje nos portos, europeus e, concretamente portugueses, não apenas respondam às necessidades imediatas, mas que pavimentem o caminho para um futuro sustentável e próspero.
* Mestre em Gestão Portuária, pela Escola Náutica Infante D. Henrique. Artigo publicado originalmente no site Transportes & Negócios.
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