Os Pilares do Desenvolvimento Infantil e os Ecrãs

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Tecnologias.
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O desenvolvimento infantil é um processo complexo, alicerçado em três pilares fundamentais: a interação humana, a linguagem e a concentração. Estes pilares não só permitem à criança desenvolver competências cognitivas, emocionais e sociais, como também moldam a forma como ela se relaciona com o mundo que a rodeia. No entanto, vivemos numa era em que o digital está cada vez mais presente na vida das crianças, e a exposição excessiva ao ecrã ameaça comprometer estas bases essenciais para um crescimento saudável.

Por Diogo Fernandes Sousa *

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A interação humana é o primeiro pilar. Desde os primeiros meses de vida, as crianças constroem o seu entendimento do mundo através da relação com os outros — pais, educadores e pares. Este contacto humano não se resume à palavra, mas também ao olhar, ao toque, ao tom de voz e às expressões faciais. São estas interações que ensinam a empatia, a capacidade de resolver conflitos e até a forma como as crianças aprendem a regular as suas emoções. No entanto, quando os ecrãs se tornam um substituto da interação, esta riqueza de experiências humanas perde-se. A criança que passa horas em frente a um televisor ou com um tablet na mão perde oportunidades de aprender, ficando muitas vezes mais reativa e menos habilitada para enfrentar os desafios emocionais.

O segundo pilar é a linguagem, que vai além de palavras memorizadas ou do simples ato de comunicar. Aprender a linguagem é um processo interativo e dinâmico, que se fortalece no diálogo e na troca. Os estudos mostram que o desenvolvimento linguístico é diretamente proporcional à quantidade e qualidade de palavras ouvidas pela criança nos primeiros anos. Conversar, ouvir histórias ou simplesmente estar presente em ambientes ricos em diálogo são essenciais para que uma criança desenvolva a sua capacidade de pensar, expressar-se e compreender o mundo. Contudo, quando o entretenimento é substituído por vídeos rápidos e estímulos passivos nos ecrãs, há uma perda significativa deste enriquecimento linguístico. O mundo virtual, com a sua superficialidade, não consegue oferecer à criança a profundidade e a troca de ideias que ocorrem numa conversa.

Por fim, a concentração, um dos maiores desafios na sociedade moderna, é o terceiro pilar ameaçado pelo digital. A capacidade de manter o foco numa atividade é algo que precisa de ser trabalhado desde cedo. Brincar com peças, desenhar ou ouvir uma história são momentos que ajudam a criança a desenvolver atenção sustentada. Por outro lado, o ritmo frenético das tecnologias digitais, com constantes mudanças de imagem e som, habitua as crianças a um estado de hiperestimulação, dificultando a sua habilidade de se concentrarem em tarefas mais lentas e exigentes no futuro.

A verdade é que o mundo virtual se tem tornado mais atrativo do que o mundo real para as crianças. Com cores vibrantes, sons apelativos e a possibilidade de recompensas instantâneas, o digital é uma espécie de atalho que prende a atenção sem exigir esforço. No entanto, esta atratividade vem com um custo elevado: a perda de interesse em atividades simples, mas fundamentais para o crescimento. Uma ida ao parque ou uma conversa com os pais pode parecer desinteressante em comparação com os jogos digitais ou os vídeos curtos das redes sociais.

Isto não significa que a tecnologia deva ser demonizada ou completamente excluída da vida das crianças. Quando utilizada com moderação e de forma consciente, pode ser uma ferramenta educativa. Contudo, o equilíbrio é fundamental. Os pais e educadores precisam de criar momentos em que os ecrãs sejam deixados de lado e a prioridade seja a vivência do mundo real: brincadeiras ao ar livre, leitura conjunta, atividades criativas ou, simplesmente, tempo de qualidade em família.

Preservar os pilares do desenvolvimento infantil é uma responsabilidade coletiva. Garantir que as crianças cresçam num ambiente rico em interação humana, que valorize a linguagem e que cultive a concentração é essencial para o seu futuro. O mundo virtual pode ser tentador, mas não substitui a profundidade e a riqueza do mundo real. Afinal, é na vida real, com todas as suas subtilezas e imperfeições, que as crianças aprendem a ser humanas.

* Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”. Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte.

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