A política florestal deixou de se discutir entre os grupos profissionais envolvidos na criação e gestão da floresta.
Por Eduardo Oliveira e Sousa *
Hoje, mais do que alguma vez o foram, as florestas e a sua gestão surgem como parte da solução para alguns dos maiores desafios globais que se colocam à sociedade e seu governo.
Política climática e o objetivo da neutralidade carbónica, biodiversidade, bioeconomia e economia circular, promoção de serviços do ecossistema, são alguns dos temas que atualmente condicionam, ou mesmo regem, a política florestal.
Para trás ficou um tempo em que, embora relevantes, aspetos como a salvaguarda e proteção dos recursos hídricos e do solo, ou o combate à desflorestação e à perda de biodiversidade, não afastavam a política florestal, enquanto política pública, do âmbito económico. Nem diminuíam o foco dos proprietários florestais e suas necessidades financeiras do aproveitamento dos produtos florestais.
A política florestal deixou de se discutir entre os grupos profissionais envolvidos na criação e gestão da floresta. Hoje, a mais das vezes, nessa discussão prevalecem os grupos sociais e políticos não diretamente ligados à gestão florestal ou às atividades económicas dependentes da floresta e dos seus produtos.
Goste-se ou não, esta é a realidade, e Portugal, à semelhança de outros países europeus, tem hoje a responsabilidade política das florestas sob a tutela do Ministério do Ambiente.
Como pode (deve) o setor florestal português adaptar-se a esta irreversível realidade?
A mera proclamação dos anseios, de vontades ou necessidades das classes profissionais do setor, como até aqui se tem feito, não será certamente a forma mais produtiva de obter resultados. Por mais justas que possam parecer aos próprios, dizem pouco à grande maioria da sociedade e, principalmente, aos grupos politicamente mais ativos que procuram condicionar os diversos aspetos da política de ambiente.
A comunicação dos que representam a visão e defendem os interesses do setor florestal tem de se fazer na mesma “linguagem”, e as grandes preocupações coletivas do presente, bem como os novos valores que se impõem, têm de ser genuinamente interiorizados.
Mas, para que a floresta cumpra todas as “funções” que hoje se lhe impõem, é essencial que exista, que esteja sujeita a uma gestão ativa e que esta possa cumprir, primeiro, embora não exclusivamente, as necessidades dos seus proprietários e gestores, para que, depois, mas não secundariamente, possa satisfazer as solicitações que a sociedade lhe endereça.
A Confederação dos Agricultores de Portugal está bem ciente deste desafio e procura dar a resposta mais adequada, atuando num quadro de abertura a todos os quadrantes de opinião e procurando, genuinamente, incorporar na defesa dos interesses dos proprietários florestais os valores e as preocupações da sociedade.
* Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal. Artigo publicado no site ProdutoresFlorestais.pt.