Os bombeiros serão sempre bombeiros…

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Nas duas últimas décadas, os Bombeiros têm vindo a ser alvo de ataques, mais ou menos sub-reptícios, que se alternam com algumas palavras de reconhecimento, procurando criar um ambiente permanente de dúvida nos cidadãos, se devem considerar os bombeiros como heróis ou dispensáveis. Claro está que sendo a maioria dos nossos Bombeiros de origem voluntária, as Associações Humanitárias de Bombeiros também sofrem com esta tentativa de dilema.

Por António Manuel Marques Nunes *

Basta chegar a principal época dos incêndios florestais para uns quantos, mas todos ligados à mesma origem, saírem das “tocas” para deixarem uma neblina sobre o papel indispensável e insubstituível dos nossos heroicos Bombeiros. Grita-se bem alto que a prevenção deve ser a prioridade e que o combate tem de ficar para segundo plano, mas há mais de 30 anos que ouvimos esse “fado”. Talvez seja por isso que nunca se constituiu uma comissão de peritos com os comandantes de bombeiros, mas sempre com intelectuais e peritos da floresta, como se os Bombeiros que há mais de 40 anos, todos os anos de forma sistemática, combatem incêndios, não tivessem conhecimento ou fossem incapazes de contribuir para a prevenção e o combate. Mas, é mais fácil, no final de cada ano, misturar o combate com a prevenção e a sensibilização das populações, para se concluir que o combate deve estar em segunda linha, mas não se reconhecendo que se não fosse o combate, as áreas ardidas em Portugal e os prejuízos em vidas, bens e ambiente, seriam muito piores. Esses senhores eruditos esquecem-se de quantos bombeiros faleceram no contributo para o combate aos incêndios florestais, procurando esquecer que essas mulheres e homens que deram a sua vida em prol da comunidade, deixando infelicidade, infortúnio e profundo sentimento de saudade nos seus familiares, amigos e colegas bombeiros.

Qual foi a força de segurança e socorro que lamenta ter registado 243 falecidos nos últimos 43 anos, para além de milhares de feridos? Também não se interrogam se os sistemas que defendem, procurando por todos os meios implementar no nosso país, e que contemplam uma separação entre “Bombeiros Florestais” e “Bombeiros Urbanos”, são os mais adequados à defesa de vidas, bens e ambiente, num momento e num território onde se fazem sentir as alterações climáticas, que condicionam as hipotéticas boas práticas “da enxada e do fogo controlado ou contrafogo”. Deixemo-nos de teorias e aproveitemos os nossos Bombeiros, a nossa experiência, o modelo de comportamento do fogo no nosso território e construamos um sistema resiliente baseado na informação aos cidadãos, na atividade preventiva aos incêndios florestais, na dotação dos nossos Corpos de Bombeiros com meios adequados (o Estado Central não distribuiu qualquer viatura de combate a incêndios desde 2012), e acabemos com a criação de agências e de “corpos de bombeiros” como anjos salvadores dos processos. Sejamos, de uma vez por todas, transparentes e colaborativos, dizendo a verdade e enfrentando os problemas que uma floresta desordenada, dividida e inadequada, traz para o combate.

Os Bombeiros merecem uma atenção muito diferente. Mas, se pensam que nos desanimam, que nos derrotam, que nos convencem a desistir, esqueçam porque os “bombeiros são os anjos da esperança que lutam e avançam”, e será o que vamos fazer sempre, quando nos acusarem que “os bombeiros recebem por área ardida” ou que “os municípios despejam milhares de euros nos bombeiros”, mas não cuidam da floresta.

E, quando apareceram uns quantos, poucos, que numa reverência desconhecida, procuram justificar o injustificável, logo vêm corroborar falsidades ou tentar justificar o que não tem justificação. Quando assistimos incrédulos a palavras pouco dignas para com os bombeiros e associações humanitárias, várias Associações de Municípios e municípios apareceram a protestar, mas sem que houvesse um reconhecimento público de quem disse um “disparate”, porventura involuntário ou descontextualizado, assumiram o silêncio, ficando os Bombeiros, através da Liga dos Bombeiros Portugueses e das Federações distritais de Bombeiros, a lutar pela dignidade dos nossos bombeiros e associações, exigindo que seja reposta a verdade, para que não apareçam cidadãos e comentadores, a tentar contribuir para justificar umas frases falsas ou que amanhã um cidadão menos atento possa também usar essas palavras, num qualquer momento de desespero, para com os Bombeiros. Os nossos políticos têm obrigação de fazer muito diferente e clarificar publicamente os subsídios que atribuem aos Corpos de Bombeiros/AHB, respeitando os mais de 50.000 bombeiros, os mais de 6.000 dirigentes associativos, os mais de 2 milhões de sócios das AHB e os milhares de beneméritos, para que não reste qualquer dúvida sobre a forma transparente como os Bombeiros são permanentemente subfinanciados. Porventura, por terem de vir informar os portugueses que os Bombeiros andam há anos a ser subfinanciados e que há muitos anos as taxas sobre os prémios de seguros criadas pela Assembleia da República são desviadas anualmente para o orçamento da Proteção Civil nacional (ANEPC), assim como as publicitadas percentagens das verbas dos jogos (SCML), tentam deixar passar o tema quente, procurando que o tempo cure a “ferida”, até porque neste momento, a decorrer a época mais complexa de combate aos incêndios florestais, é preferível não abrir ou esfregar as “feridas” existentes. Porém, não contem com esta Liga nem com as Federações distritais de Bombeiros para isso. A identidade dos nossos Bombeiros, das nossas Associações Humanitárias, dos nossos dirigentes, dos nossos sócios e beneméritos, não pode ser beliscada passando adiante. Não vamos permitir e vamos continuar a lembrar, semana após semana, as falsidades pronunciadas, até que a verdade seja reposta.

Não queremos, neste momento, abordar as questões como a falta de logística de apoio aos teatros de operações nos incêndios florestais, ou a manifesta falta de organização na mobilização dos grupos de apoio ao combate, ou as faltas locais de coordenação ou de oportunidade de ação, mas vamos gritar bem alto que os Bombeiros e as suas Associações Humanitárias não recebem por área ardida. Temos, também, de informar que os Bombeiros não têm o seu comando, que não mobilizam os meios aéreos, que não mobilizam as máquinas de rasto e que existem agências a mais no combate a incêndios florestais que desempenham tarefas em sobreposição com os bombeiros.

Os Bombeiros estão cansados de promessas não cumpridas. Mas estão ainda mais cansados de existirem ataques inqualificáveis à sua capacidade de defesa dos cidadãos, de combate aos incêndios florestais ou de serem acusados de beneficiar com os fogos, quando não são eles que planeiam, organizam, contratam e procedem à gestão dos meios de combate. Situação interessante, não é?! Quem nada decide é quem “nessas vozes estranhas” beneficia de tudo!!!!

Reafirmamos que os Bombeiros não recebem por área ardida e que os Bombeiros pagam para prestar socorro pelo que se não fossem os Municípios e os beneméritos a minimizar o subfinanciamento crónico das AHB, não existiria a capacidade de socorro instalada que hoje Portugal dispõe com os seus bombeiros de génese voluntária.

Quem tiver dúvidas ou quiser saber e debater a verdade pode aparecer na Liga dos Bombeiros Portugueses que nós lá estaremos para discutir, analisar e informar o que se passa na verdade. Depois disso, se quiserem continuar a dizer “coisas”, estamos num país democrático, pelo que respeitamos a opinião de todos, exceto as falsidades.

* Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses. Posição subscrita pelas Federações Distritais e Regionais dos Bombeiros.

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