Uma onda de calor é um evento climático em que as temperaturas ultrapassam os limites esperados para a região e época do ano, persistindo por um período prolongado.
Por Susana Vaz *
Há várias definições de ondas de calor. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, considera-se que ocorre uma onda de calor quando a temperatura máxima diária excede em 5°C a média diária durante pelo menos seis dias consecutivos. Nos meus estudos defino onda de calor como um período de, pelo menos, três dias consecutivos em que a temperatura máxima diária é 10% mais alta em relação à média climatológica observada nos últimos 20 anos.
Embora as ondas de calor possam ocorrer em todas as estações do ano, são mais comuns no verão quando os centros de altas pressões se formam e permanecem estacionários por períodos prolongados, de dias a semanas, causando tempo seco e quente.
Com as mudanças climáticas em curso, a probabilidade de ocorrência de ondas de calor aumentou significativamente em comparação com o período de 1971 a 2000. Somente este ano, em 2023, já tivemos uma onda de calor em abril e a segunda poderá ocorrer nos próximos dias. Prever as ondas de calor é um desafio complexo, pois envolve a compreensão de diversos fatores, como a variabilidade climática e o comportamento dos sistemas atmosféricos ainda não compreendidos na sua totalidade. Para já, as melhores ferramentas, são os dados de modelos climáticos, como aqueles que o Grupo de Climatologia da UA (CLIM@UA) utiliza e que são fundamentais para se perceber como o clima vai evoluir.
Oito a dez ondas de calor no final do séc. XXI
Segundo os nossos estudos, infelizmente, este cenário tende a agravar-se no final do século XXI, com projeções indicando cerca de 8 a 10 ondas de calor por ano. A única maneira de diminuir o número de ondas de calor é minimizar o aquecimento global, isto é, reduzir a emissão de gases com efeito de estufa.
É importante destacar que as ondas de calor representam riscos significativos para a saúde e estudos epidemiológicos comprovam o excesso de óbitos associado ao calor extremo. Portanto, é essencial que a população adote medidas de precaução para proteger sua saúde e bem-estar devendo prestar atenção aos grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com condições médicas pré-existentes.
Com base nos estudos efetuados pelo grupo CLIM@UA, Portugal está numa região de transição climática, muito vulnerável e exposto às alterações climáticas, em seca frequente, com projeções futuras de mais eventos extremos, menos chuva, mais calor e maior risco de incêndio. Este cenário força a sociedade a procurar soluções de adaptação e mitigação.
As ondas de calor representam um desafio para a população portuguesa, exigindo cuidados especiais para preservar a saúde e minimizar os impactos. É crucial que as autoridades, os serviços de saúde e a população em geral estejam preparados para lidar com essas condições extremas. Além disso, a conscientização sobre as causas das ondas de calor e a importância de medidas de mitigação das mudanças climáticas são cruciais para enfrentar esse desafio a longo prazo.
* Investigadora no grupo CLIM@UA. Departamento de Física/Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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