O verdadeiro enigma da Europa

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“A Ideia de Europa”.

É necessário que tudo na Europa sejam vitórias para que a grande vitória permanente seja afinal a Europa.

Por João Pedro Dias *

[…] Assim se construiu um património em cujo eixo se encontra a crença na diversidade como condição para criar alternativas donde saem tanto as grandes como as pequenas mudanças cuja acumulação e encadeamento constituem um verdadeiro processo convergente de cultura.

E nisso consistirá o verdadeiro enigma da Europa. De uma Europa cujo sentido unanimista reside justamente da genialidade dos seus díspares – permitindo que, mercê de uma profunda atração sobre raças de todo o Mundo, no Velho Continente se tenha radicado a maior diversidade de pessoas – o que permitiu que, em todos os campos e nos mais variados domínios, religioso, político, científico, artístico, quando surge uma personalidade de génio capaz de congregar atrás de si milhões de vidas, logo se erga, com idêntica genialidade, uma personalidade oposta, capaz de concitar a adesão de outros tantos milhões de vidas que creem nesse oposto.

Os exemplos proliferam e abundam. Quando a Europa inteira escutava Erasmo e este parece conquistar em toda a dimensão da sua personalidade o Velho Continente, logo despontam Maquiavel e Lutero; e quando Lutero pareceu vencer e realizou o grande golpe contra o catolicismo, concitando em torno de si o Norte e o Centro da Europa, de imediato despontou Inácio de Loiola para guiar e iluminar de novo a fé católica no Sul e no Ocidente do Velho Continente. Vencem Erasmo, Maquiavel, Lutero e Inácio de Loiola.

Ganham o Norte e o Sul da Europa. Ganha a Europa no seu todo e ganha a Humanidade. E mais perto de nós, no plano temporal, quando triunfa a Revolução Comunista na Rússia, logo triunfa e se impõe a Revolução Fascista em Itália. E quando ambas parecem firmes e seguras, assiste-se ao advento da Revolução Nazi. Ganhou Lenine. Ganhou Mussolini. Ganhou Hitler.

Seguramente – perdeu a Europa e perdeu a Humanidade. Mas a regra confirmou-se – quando surge uma vitória na Europa, logo outra vitória se lhe opõe. Quando um génio desponta e dá o exemplo, logo abre caminho para que outros génios se levantem também. É necessário que tudo na Europa sejam vitórias para que a grande vitória permanente seja afinal a Europa.

* Pré-publicação de “A Ideia de Europa”, o mais recente livro sobre questões europeias lançado pelo autor. Título da responsabilidade de Noticiasdeaveiro.pt.

Uma incursão histórica e diacrónica sobre as principais manifestações da ideia de Europa ao longo dos tempos, desde os anseios de unidade europeia protagonizados por Carlos Magno até aos nossos dias e ao mais conseguido e relevante de todos esses projetos, protagonizado pela União Europeia – passando pelos contributos de Carlos V, de Kant, de Victor Hugo, até à atividade dos pais fundadores que ilustraram a segunda metade do século XX e as primeiras décadas do nosso século. Os diferentes projetos estudados e apresentados são enquadrados em três grandes categorias conceptuais – a dos projetistas da paz, a dos senhores da guerra e a dos referidos pais fundadores.

Subjacente a todos os projetos apresentados e elencados neste volume, uma premissa base em todos bem presente – a de que, desde tempos recuados e imemoriais, sempre grassou no Velho Continente um profundo anseio de conferir um princípio mínimo de unidade política à multiplicidade e pluralidade que define e tipifica o continente europeu, berço de uma civilização que é parte de um ocidente em processo de recuo ou decadência, mas também pátria dos maiores criadores nas diferentes áreas da cultura e do espírito humano, num ambiente profundamente influenciado e tributário da tradição greco-romana e judaico-cristã.

Apresentação pelo Professor Doutor Jorge Arroteia (Universidade de Aveiro) na Biblioteca Municipal de Aveiro, dia 13 de setembro, pelas 18:00.

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