A falta de profissionais e de mercados para produtos não lenhosos e serviços dos ecossistemas, a pequena dimensão da propriedade e a carência de incentivos aos proprietários são desafios a superar para a implementação de um modelo de uso múltiplo da floresta em Portugal.
Por Patrícia Azeiteiro *
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Os produtos florestais englobam uma ampla gama de bens, dividindo-se em duas categorias principais: lenhosos e não lenhosos.
Entre os produtos lenhosos temos a madeira, matéria-prima essencial para a construção civil, móveis, papel e celulose, carvão vegetal, biomassa, entre outros.
Por sua vez, os produtos não lenhosos são todos os produtos que não advêm da madeira, representados pela cortiça, frutos, mel e outros produtos apícolas, resinas, óleos essenciais, pinhão, cogumelos, entre outros. Cada um deles desempenha um papel significativo tanto na economia quanto na ecologia global.
A destacar, neste conjunto de bens com origem na floresta, estão também os serviços de ecossistema que podem ser prestados pelos proprietários e gestores florestais, como a conservação da biodiversidade, a polinização, a preservação do solo, a proteção dos cursos de água ou o armazenamento de carbono.
Todos estes produtos e serviços de ecossistema decorrem da conciliação de várias boas práticas e para garantir a viabilidade deste uso múltiplo da floresta a longo prazo é essencial adotar técnicas de gestão florestal sustentável. Isto implica, conhecer, planear e implementar: inclui a realização de inventários florestais, o planeamento adequado das atividades de exploração e a implementação de práticas de colheita seletiva que minimizem os impactes ambientais.
A certificação florestal pode dar resposta a estes processos, garantindo a sustentabilidade do uso múltiplo da floresta, uma vez que preconiza a gestão responsável e sustentável de acordo com os pressupostos definidos pelo FSC – Forest Stewardship Council e/ou o PEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification.
Apesar dos benefícios do uso múltiplo da floresta, em Portugal ainda existem desafios a superar, como a pressão causada pelos incêndios florestais, muito dificultada pela ausência de cadastro, e a valorização e promoção de mercados para os bens e produtos não lenhosos.
Do ponto de vista do trabalho desenvolvido pela APAS Floresta, somos nós, como Organizações de Produtores Florestais, que estabelecemos a ligação com o proprietário e promovemos o aconselhamento técnico, no qual sentimos que o incentivo a outros usos da floresta, sem ser a produção de madeira, está ainda muito aquém do desejado.
No topo dos constrangimentos encontramos a pequena dimensão da propriedade (minifúndio), a falta de apoio financeiro que incentive outros usos, a falta de mão-de-obra especializada e a falta de eficiência no escoamento dos produtos.
De forma a contornar alguns destes obstáculos deveriam ser criadas – e ampliadas a todo o território nacional –, soluções económicas integradas e/ou apoios específicos que viabilizem a conservação associada à produção, que poderiam passar pela disponibilização de incentivos fiscais.
* Licenciada em Engenharia Florestal, no ramo da Gestão dos Recursos Naturais, pelo Instituto Superior de Agronomia. Técnica Florestal na APAS Floresta – Associação de Produtores Florestais. Artigo publicado originalmente em Florestas.pt.
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