O turismo interno está bem e recomenda-se

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Canal de São Roque, Aveiro.

Durante o verão de 2023 generalizou-se na praça pública a ideia de que muitos portugueses estão a viajar para fora do nosso país em vez de fazer férias cá dentro. Fomos analisar dados à procura de uma base estatística que sustentasse esta tese.

Por António Jorge Costa *

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Afinal, estão ou não os portugueses a trocar as férias em Portugal por destinos estrangeiros?
Vamos a números. Se analisarmos os dados das dormidas disponibilizados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) até ao momento, verificamos que entre janeiro e julho de 2023 Portugal registou 42 milhões de dormidas, sendo que 12,8 milhões foram efetuadas por portugueses. 2023 está a ser o ano em que Portugal registou mais dormidas de portugueses na sua história. Na verdade, são mais 5% de dormidas de portugueses face a 2022 e 13% face a 2019.

Se quisermos analisar mês a mês, verificamos que os meses de junho (-7%) e julho (-3%) registaram uma ligeira quebra nas dormidas de portugueses face ao ano de 2022. Porém importa realçar um dado muito importante: em 2022, estes meses registaram um recorde de dormidas de portugueses e nem sempre é possível crescer todos os anos. Aliás, o crescimento em volume não deve ser um objetivo isolado. Este crescimento deve ser enquadrado noutras dimensões, nomeadamente a económica. Ainda assim, os resultados de 2023 nestes dois meses são superiores aos de 2019.

Um elemento verdadeiramente importante nos dados que agora apresentamos é a sazonalidade das dormidas dos portugueses. E é, precisamente, esse aspeto que gostaria de realçar. Se por um lado, em junho e julho, mantivemos registos de dormidas similares aos excelentes resultados de 2022, os meses de janeiro, fevereiro e março tiveram um aumento significativo face aos meses homólogos de 2022, no que às dormidas de portugueses diz respeito (janeiro 2023 + 38%; fevereiro 2023 +18%; março 2023 + 16%).

No total, no acumulado do primeiro trimestre, tivemos mais 22% de dormidas de portugueses face a 2022. E isto é que é de facto assinalável e é o caminho que temos de continuar a traçar: crescer em valor e mitigar a sazonalidade. Não se trata de ter menos pessoas na época alta, mas sim, de ter mais dinâmica nos meses de época baixa.

Outro ponto a ter em conta prende-se com o facto de nos estarmos a focar apenas na quantidade de turistas. Que tal analisarmos a receita que estes geraram? Uma vez mais, os dados confirmam que o turismo interno está “de boa saúde”. De acordo com dados da SIBS, no primeiro semestre de 2023, os portugueses gastaram mais dinheiro no nosso país, face ao período homólogo de 2022, nos setores diretamente associados ao turismo: alojamento +11%; restauração +24% e serviços de lazer e viagens (onde estão as empresas de animação) +29%.

Porque é que os portugueses podem estar a viajar para fora?
2020, 2021 e uma parte de 2022 foram anos em que as viagens internacionais estiveram bastante restringidas. A percentagem de portugueses que viajaram, em férias, para fora do país, foi bastante baixa, comparado com o que acontecia por exemplo em 2019. Assim, após o “regresso à normalidade” é compreensível o desejo de voltar a viajar para descobrir outros destinos. Diga-se que este comportamento é similar ao que se verifica noutros países, motivo pelo qual o turismo está a recuperar tão rapidamente.

Como podemos então valorizar o turismo doméstico?
Tudo indica que os portugueses continuarão a escolher o nosso país para viajar e passar férias. A pandemia veio despertar a atenção para a enorme panóplia de opções que Portugal tem para oferecer o que fez com que sentíssemos que temos muito para descobrir no nosso país.

Por sua vez, Portugal tem feito um excelente trabalho na promoção dos seus ativos. Municípios e Comunidades Intermunicipais têm estruturas cada vez mais profissionais, o que é fundamental para alavancar o turismo doméstico. As Entidades Regionais e o Turismo de Portugal têm trabalhado de forma bastante positiva e os resultados deste esforço está à vista de todos. Destinos que outrora nem sequer eram considerados como opções para férias, são hoje atrações a não perder.

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Conclusões e lições a reter

É fundamental que os dados sejam cuidadosamente analisados e interpretados para que os agentes turísticos possam ter informação útil para tomar decisões. Nesta perspetiva, o IPDT lançou em 2006 o primeiro Barómetro do Turismo em Portugal, tendo como membros mais de 180 especialistas do setor, que são auscultados com regularidade sobre os temas do momento e que apresentam a sua perspetiva sobre a evolução do turismo.

Na última edição publicada pelo IPDT, em maio de 2023, as conclusões do Barómetro foram claras:

– 51% dos respondentes acreditavam que, em 2023, o número de turistas nacionais iria aumentar face a 2022;
– 72% acreditavam que as receitas iriam superar as de 2022;
– 71% acreditavam que o RevPAR iria, também, aumentar face ao resultado de 2022.

Como se verifica pelos dados apresentados acima estas perspetivas estão a comprovar-se acertadas e torna-se evidente que esta afirmação que se generalizou na comunicação social não corresponde à realidade. Seguimos fortes e de boa saúde, continuemos, pois, a trabalhar com empenho para um turismo mais positivo!

* Presidente do IPDT – Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo. Artigo publicado originalmente em Publituris.pt.

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