Não aceitamos que perante uma pequena redução dos fluxos turísticos, provocados também pelos alarmismos sociais, que o efeito do aparecimento do Covid-19 está a gerar nas sociedades, possa ser de novo utilizado, para mais uma vez atingir os trabalhadores nos seus direitos.
Por António Baião *
O sector do turismo cresceu sucessivamente desde 2013 em número de hóspedes, de dormidas e de proveitos.
Em 2019, os estabelecimentos de alojamento registaram 27 milhões de hóspedes e 69,9 milhões de dormidas, o que corresponde a aumentos anuías de 7,3 e 4,1%. Os proveitos totais aumentaram 7,3% e os de aposento 7,1%
O rendimento médio por quarto disponível aumentou para 49,4 euros e o rendimento médio por quarto aumentou para 88,7 euros, o que representa um grande aumento nestes 7 anos.
Contudo, os salários praticados no sector são muito baixos.
A maioria das empresas, unidades de Hotelaria e Restauração, usufruindo da postura das associações patronais, congelaram os salários durante um período de 8 anos de 2009 a 2017, recusando-se a negociar anualmente os salários com os sindicatos, tendo 2019 sido um ano em que isso mais uma vez se verificou, através da postura das associações APOHRT, AHISA E AHP.
Além disso, cresce a precariedade laboral, os contratos a termo, o trabalho ilegal e clandestino, os ritmos de trabalho intensos, os horários longos de 10 e 12 horas diárias e os horários imprevisíveis, pondo em causa a vida pessoal e familiar dos trabalhadores.
Estas são as razões porque não se fixam no sector os milhares de jovens formados nas diferentes escolas profissionais de todo o país. É uma mentira mesmo que repetida muitas vezes, a afirmação dos patrões de que faltam profissionais para o sector, o que falta isso sim são patrões que aceitem dignificar os seus trabalhadores, melhorando os salários e respeitando os direitos.
Os direitos da contratação colectiva são postos em causa todos os dias.
Por isso, não aceitamos que perante uma pequena redução dos fluxos turísticos, provocados também pelos alarmismos sociais, que o efeito do aparecimento do Covid-19 está a gerar nas sociedades, possa ser de novo utilizado, para mais uma vez atingir os trabalhadores nos seus direitos, ou até servir para tentar colocar entraves à intervenção sindical.
Preocupa-nos como estrutura responsável, os efeitos a nível da saúde da população, trabalhadores e clientes. De informação recolhida, em visitas e através de uma breve consulta aos nossos associados em diferentes unidades hoteleiras e de restauração, as medidas de prevenção estão a ser implementadas, mas com bastante atraso e sem a orientação superior adequada e sobretudo com pouca visibilidade, isso pode ser no momento, o factor que está a contribuir para uma maior
insegurança dos clientes.
Não temos dúvidas, e os dados assim o comprovam, que os patrões do sector pela política de baixos salários que praticam, possuem uma grande almofada financeira, que pode acomodar algumas possíveis quebras dos rendimentos previstos.
Exigimos que para com os trabalhadores da hotelaria e restauração, os patrões e os governantes, tenham também como objectivo, no presente e no futuro, a preocupação de tomada de medidas, que levem ao reconhecimento da qualidade da prestação de serviços, que todos os dias é prestada nas diferentes unidades em todas as regiões do País, valorizando o trabalho, os salários e respeitando os direitos.
* Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Centro.