A Organização Mundial do Turismo estima que mais de 900 milhões de turistas viajaram internacionalmente em 2022. Ainda que os níveis pré-pandemia não tenham sido alcançados, tudo indica que, este ano, isso vai ficar mais próximo de acontecer. O impacto positivo do turismo na recuperação económica é inegável, mas o que pode ser dito na parte ambiental?
Por Basílio Simões *
Antes da pandemia de COVID-19 mudar as nossas vidas, as Nações Unidas indicavam que o turismo seria responsável por cerca de 5% das emissões de CO2, em 2030. O calendário marcava dezembro de 2019, altura em que o setor representava 14,6% da economia de Portugal.
Agora, quando importantes mercados turísticos, como o europeu e o americano, voltaram a ganhar força e na Ásia-Pacífico a abertura começa a ser maior, estamos perante um cenário de confiança, com mais pessoas a viajar e a pernoitar em unidades hoteleiras. Neste caminho de retoma, há outro que não pode ser alternativo, ligado à sustentabilidade, até porque os turistas têm cada vez mais preocupações nesta área e isso revela-se nas escolhas que fazem.
Os agentes do setor estão a perceber o momento que vivemos e Portugal, enquanto destino turístico de qualidade, poderá juntar a sustentabilidade às suas vantagens competitivas. Além do clima, das praias, da gastronomia, das tradições e da simpatia das nossas gentes, por que não oferecer a quem nos visita a possibilidade de conhecer um país que procura responder aos desafios do seu tempo? Um país que coloca as pessoas no centro da sua estratégia, valoriza a inovação e promove modelos socioeconómicos baseados no bem-estar, com benefícios para todos – e é aqui que entram as comunidades de energia renovável (CER).
As CER são a resposta aos grandes desafios da transição energética: a necessidade de descarbonização do planeta e os elevados custos da energia. Ao serem implementadas, através da instalação de centrais com painéis fotovoltaicos, vão satisfazer as necessidades da comunidade, a partir de uma fonte renovável. Além disso, terão a capacidade para armazenar a energia produzida localmente, flexibilizar os consumos energéticos, partilhar a energia entre os membros e providenciar serviços auxiliares à rede elétrica, para contribuir para uma maior segurança e qualidade de abastecimento.
Uma questão de eficiência energética
Falar em CER é também falar em eficiência energética. A sua implementação requer unidades de produção de energia renovável complementadas, por exemplo, com baterias, inversores, carregadores de veículos elétricos, assim como cargas controláveis, designadamente frigoríficos, bombas de calor, sistemas de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar-Condicionado), termoacumuladores, etc., associados a diversas soluções de monitorização e controlo.
As atividades turísticas ligadas ao alojamento têm aqui uma oportunidade única, em que promovem o uso adequado dos recursos ambientais e energéticos, garantindo também a viabilidade económica a longo prazo. Na Estratégia Turismo 2027 para Portugal, o setor é visto “como hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território, posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo”. As CER podem ter um papel central na prossecução deste objetivo, existindo soluções com investimento zero e sem a necessidade de qualquer tipo de alterações no contrato com o atual comercializador de energia.
A produção de energia das CER, com a possibilidade de partilha do excedente, permitirá aos agentes turísticos melhorar a vida de todos através de uma atividade sustentável, que cria valor social, económico e ambiental. Com benefícios socioeconómicos distribuídos de forma justa e por todos, podemos ter a certeza de que o amanhã vai ser (mesmo) ainda melhor.
* Vice-chairman e cofundador da Cleanwatts. Artigo publicado originalmente no site Publituris.
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