A Remote Portugal é um projeto que visa promover, inspirar e educar o ‘Trabalho Remoto em Portugal’ que ao longo de quatro meses desenvolveu em exclusivo o ‘1º Relatório Anual do Estado do Trabalho Remoto em Portugal.’
Por Miguel Costa *
Com o crescimento do trabalho remoto devido à pandemia começamos a debruçar-nos sobre algumas questões de fundo, nomeadamente como deveriam as empresas adaptar-se a este novo modelo; e o que pensam os seus colaboradores: a sua satisfação, os benefícios que identificam, as dificuldades que sentem e as expectativas que têm em relação ao futuro.
A Remote Portugal tentou responder a estas questões através de um inquérito direcionado especificamente a trabalhadores por conta de outrem que estiveram em regime de teletrabalho, ou que tenham tido essa experiência no passado. Este estudo visou assim ajudar na compreensão do panorama geral face ao tema no ano transato.
As principais conclusões
1 – O trabalho remoto proporciona uma melhor qualidade de vida
A satisfação com o regime de trabalho remoto é evidente.
Os resultados surpreenderam-nos com 85% dos inquiridos a responder que se encontram satisfeitos e muito satisfeitos com este modelo de trabalho (ver gráfico), mesmo quando 44% nunca tinha experienciado o trabalho à distância.
Os principais benefícios incluem a liberdade para as pessoas poderem trabalhar a partir de casa, ou outro local, aproveitando o tempo das deslocações para dedicar mais atenção à sua vida pessoal e familiar, aspetos que melhoraram claramente face ao trabalho presencial.
Outro aspeto que nos surpreendeu foi o facto de 52% dos inquiridos sentirem que a sua saúde mental e bem-estar melhoraram trabalhando à distância, e apenas 23% sentir que pioraram em relação ao trabalho presencial.
Os resultados do inquérito e a nossa análise levam-nos a concluir que este aspeto encontra-se diretamente relacionado com as condições em que vivemos atualmente, derivadas da pandemia e das restrições à nossa liberdade, assim como das condições que ainda podem ser ajustadas para melhorar o trabalho remoto, transformando esta experiência num fator potenciador de bem-estar pessoal e profissional.
2 – É preciso melhorar as condições do trabalho à distância
Apesar dos resultados positivos, claramente existem pontos em que as empresas ainda precisam de trabalhar, nomeadamente, agilizar a comunicação e a colaboração remota, entregando melhores ferramentas, gerir as expetativas e dar orientação em relação ao trabalho, e garantir um maior apoio a quem sente dificuldade em trabalhar à distância.
Existem também algumas aprendizagens que os colaboradores ainda precisam de fazer, nomeadamente, uma melhor gestão de horários para conseguir “desligar” do trabalho, e encontrar estratégias para melhorar a visibilidade do trabalho perante a Gestão.
Algumas dificuldades são certamente agravadas pelas restrições que decorrem da pandemia Covid-19, como o isolamento, aspeto apontado como o mais desafiante pelos inquiridos. Também aqui as empresas podem tentar ajudar ao promover encontros que estimulem a socialização, a partilha e o feedback.
Pedir feedback aos colaboradores sobre a experiência de trabalho remoto pode trazer respostas valiosas sobre os aspetos cirúrgicos em que a empresa precisa de agir para melhorar as condições de trabalho.
Nomeadamente, perceber se os colaboradores dispõem de todas as ferramentas para desempenhar as suas tarefas e estar disponível para comparticipar algumas dessas despesas, avaliando a possibilidade de disponibilizar um apoio financeiro para adaptar o espaço de trabalho e para fazer face ao aumento nas despesas de casa.
3 – As empresas precisam de se adaptar para o trabalho remoto
O futuro passa inevitavelmente por criar um regime flexível de trabalho, e aqui as empresas podem encontrar um sistema que funcione em conjunto com os colaboradores, de forma a definir os dias em que estão no escritório e os dias em que trabalham remotamente, possibilitando que o façam a partir do local que preferirem.
Quer seja em casa, em espaços de cowork ou em outros locais do país.
Dar a opção de trabalhar a partir de qualquer lado pode parecer arriscado para as empresas.
É preciso transformação e adaptação para que esta possibilidade se torne real, sem riscos.
Isto passa por dar formação sobre o trabalho remoto e sobre os cuidados a ter a nível de segurança digital, entregando as ferramentas adequadas para a comunicação e colaboração à distância, disponibilizando processos de documentação e comunicação assíncrona, implementando a avaliação de desempenho por objetivos e garantindo sempre uma cultura de proximidade, de escuta e de apoio.
O futuro do trabalho remoto já está a acontecer. É preciso escutar os colaboradores e adaptar os sistemas para que possa existir a máxima produtividade, com a máxima satisfação, potenciando uma relação win-win.
O inquérito decorreu entre os meses de Janeiro e Março de 2021, tendo sido obtidas 237 respostas válidas. A versão completa das conclusões está aqui. O relatório completo pode ser descarregado aqui.
* Co-fundador da Remote Portugal.