O Rossio, a Governação e o Resto…

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Aveiro.

Aveiro atrasou-se e nós permitimos que tal acontecesse. Gastámo-nos com o acessório e descorámos o essencial.

Por Pompílio Souto *

1.
É verdade que sou contra a construção de um parque de estacionamento no Rossio, mas sou – sobretudo – contra a sua transformação “no caso da cidade”, coisa na qual uns têm mais responsabilidade do que outros, mas a maior e mais decisiva é a deste modo de governo da Cidade.

11.
Um modo que esquece a resolução dos problemas e das ameaças que nos tolhem a vida e o futuro. Um modo focado no arrebanhar do dinheiro e dos alheamentos que permitam fazer muito e depressa seja lá o que for. Um modo que depois a todos esgota em confrontos com quem não se conforma com os ditames da “revolução em curso”.

12.
Cidadãos, Entidades e até Correligionários, mesmo que empenhados e competentes, são afastados do processo de construção da Cidade.
Quem a governa tem uma maioria eleitoral de facto muito expressiva, mas cada vez mais enquistada e radical.
Daí que nela já haja alguns que se queixem da falta de contraditório na Assembleia Municipal e outros logo se apressem a declarar, desde já, apoio à reeleição do atual Presidente.

2.
Aveiro atrasou-se e nós permitimos que tal acontecesse. Gastámo-nos com o acessório e descorámos o essencial.

21.
– Alguém hoje continuaria a apoiar a Ponte sobre o Canal Central e os disparates que foram os demais “Parques” – todos mais ou menos “(in)sustentáveis”?
– Quantos acharão que os Estudos e Projetos da Avenida, os Planos de Urbanização e de Pormenor e o Polis, não tinham mesmo nada que se aproveitasse?
– Será que todos podemos assumir como nosso um PDM pouco participado, estrategicamente débil e que mesmo antes de estar aprovado parece já legitimar decisões que poucos conhecem e ninguém discutiu?

22.
– O que é que já nos foi dito – e sobretudo feito –, relativamente à incapacidade que a Cidade tem de reter os muitos que atrai?
– Estamos a ser capazes de aproveitar os “ativos” que a Universidade, o Porto e a Ria, as Empresas de referência e a Cidade-região constituem?
– E sobre a Habitação e Convivialidade, o Bem-estar e Saúde, a Cultura e Educação, e a inter-relação e acessibilidade de tudo isso, e o mais que nos falta, e falta também aos muitos que precisamos de fixar, o que é que de substancial se fez?
– Como é que vamos ser uma cidade de futuro com políticas e modos de operar do passado seja no Ambiente, mas também na promoção de Lugares, Bairros e Comunidades com menos desigualdades, mais coesos, cultos e corresponsáveis pela construção dos seus futuros coletivos?

23.
Somos uma Cidade-região muito dinâmica do ponto de vista empresarial, é certo, mas, mesmo a esse nível, com muitas debilidades estruturais, de competências e de modernidade.
Temos Salários e Índices de Escolaridade piores do que a “média nacional”, e se no Emprego estamos acima dessa média, a verdade é que estamos pior do que Leiria, Santarém e Viana do Castelo.
Conformamo-nos?

3.
Nem tudo está mal e nem tudo tem sido mal feito. Há coisas boas e muito boas, mas é tempo de acabar com o “badanal”.

31.
É tempo de unir e não de dividir.
Não estaremos todos em tudo, mas há coisas nas quais é possível estarmos juntos e custa-me a crer que quem elegemos para governar não queira ou não seja capaz de o fazer.

A Intervenção no Rossio – e o “caso” em que se transformou – vão dificultar tudo isto, o que é lastimável.

E mais lastimáveis poderão ser algumas motivações subjacentes e muitos dos subprodutos emergentes:
. Talvez o “caso & badanal” não nos deixem ver, quer tudo o que era bom que soubéssemos dele e de quem os promove ali, quer de muitas outras coisas noutros lugares da cidade, e
. Temo, também, pela sorte de um dos mais promitentes espaços e oportunidades de uma nobre, moderna e “familiar” relação do Bairro e da Cidade com a Ria: o Canal das Pirâmides, as suas margens e desembocadura poente.

32.
Mas não adianta “chover no molhado”.

As nossas dificuldades no “Centro” são, sobretudo, as resultantes do excesso de Equipamentos pesados magnetes de trânsito não local, ao que acresce pouca Residência, muito Alojamento e Outros afins do interesse dos “não residentes” que, sendo bem-vindos, não podem ser razão para que transformemos espaços e comunidades em cenários e farsas típicas de um qualquer Parque Temático:
. Estas, meus caros, são coisas que temos para ir gerindo e resolver!
Mas temos, também – e é bom que ninguém se esqueça – a Cidade nascente por nuclearizar e reabilitar; a Cidade Poente por conceber e reutilizar, bem como as muitas outras coisas decisivas que não têm a ver com “obras & estradas” mas com “conhecimento & competências”,
. Sendo estas, meus caros, coisas com que temos de avançar – e já!

Ou seja, para além do Rossio, temos mesmo muito em que também nos ocuparmos e seria pena que, mais uma vez, ficássemos “presos a um caso”.

33.
Outro tipo de posturas e outra ordem de prioridades poderiam ser mais eficazes, eficientes e bondosos do ponto de vista sociocultural, económico e político, quer para a Cidade quer para a Cidade-região – e até, também, para a bondade do legado que governantes e governados, por certo, querem deixar.
A isso voltarei com mais propostas.

https://drive.google.com/file/d/16mrGRgUZ3IxIC1bdIi13SnDke_kAW-ye/view
Texto da PLATAFORMAcidades cuja leitura recomendo.

Pompílio Souto.

* Arquiteto, Urban Designer, Urbanista e ex-Docente Universitário
http://pompiliosouto.blogspot.com/

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