O retorno ao mar

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Porto de Aveiro.

Portugal, ao longo da sua História, foi uma nação moldada pelo mar. Contudo, nas últimas décadas, testemunhámos uma preocupante inversão na nossa relação com o oceano. De uma nação que habita a terra onde o mar começa, tornámo-nos numa “terra onde a Europa acaba,” parafraseando Cunha (2011). Esta mudança não é apenas simbólica; representa uma rutura com cinco séculos de história e com o potencial estratégico que outrora nos diferenciava.

Por Luís Silva Lopes *

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Como bem apontou Cunha (2011): “Começámos a sentir o peso da periferia e da distância a que estamos do centro da Europa e de Bruxelas.” Esta decisão de “substituir o mar pela Europa” alterou profundamente o rumo estratégico do país. Portugal deixou de ser uma plataforma atlântica entre continentes para se tornar uma periferia europeia. Ao virar as costas ao oceano, negligenciámos a nossa maior vantagem competitiva: a localização geográfica, que nos posiciona como um ponto de interseção privilegiado entre rotas globais.

O Mar como Ativo Estratégico

Hoje, o mar continua a ser um dos maiores ativos de Portugal, se não o principal. O seu valor não se encontra apenas nas atividades económicas já estabelecidas, mas também no imenso potencial inexplorado que ele encerra. Por exemplo, o turismo representa atualmente cerca de 70% do emprego e do volume de negócios da “economia do mar” em Portugal.  Portugal tem uma posição geoestratégica única que o torna privilegiado para desenvolver um papel central no comércio global, sendo um ponto de conexão entre continentes e rotas transoceânicas. Contudo, maximizar este potencial requer uma abordagem integrada que contemple diferentes áreas da economia do mar.

Conectividade e Infraestruturas Logísticas

A localização de Portugal no extremo ocidental da Europa deve ser aproveitada para reforçar as conexões intermodais. Com a integração dos portos nacionais na Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T), com ênfase no Corredor Atlântico, é fundamental posicionar o país como um elo estratégico no comércio global.

Economia Azul: Aquacultura Offshore e Pescas Sustentáveis

O setor da aquacultura offshore apresenta um enorme potencial para transformar a economia marítima. Com a 5ª a Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Europa e 10ª do mundo e um consumo per capita de pescado em Portugal muito superior à média europeia (+ 2,5 kg), este segmento é estratégico para reduzir a dependência de importações e garantir a sustentabilidade da produção.

Energias Renováveis Offshore

O cluster das energias renováveis offshore representa uma oportunidade transformadora para a economia portuguesa. Pela primeira vez na nossa história, Portugal tem o potencial de se tornar autossuficiente e até exportador de energia renovável. A energia eólica offshore destaca-se como um vetor estratégico para criar emprego altamente especializado e revitalizar indústrias tradicionais, como os estaleiros navais.

Hub Digital e Conexões Submarinas

A instalação de cabos submarinos e data centers na costa portuguesa oferece uma nova perspetiva de crescimento económico.

Desenvolvimento Sustentável e Inovação

A ciência e a inovação desempenham papéis cruciais no desenvolvimento do setor marítimo, promovendo soluções que conciliam exploração e conservação dos recursos marinhos.

Estas oportunidades, devidamente articuladas, poderão transformar Portugal numa potência marítima moderna e sustentável, alinhando crescimento económico com a preservação dos recursos naturais.

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