Nas últimas semanas, a Câmara Municipal de Aveiro (CMA) e a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) emitiram comunicados onde pretendem explicar o relacionamento, ou a ausência do mesmo, entre as duas instituições. Assim sendo, enquanto aluna da UA e munícipe de Aveiro, faço a reflexão sobre qual o impacto da ação de cada uma delas na minha vida.
Por Joana Zúquete *
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A Universidade de Aveiro fez com que milhares de estudantes se deslocassem para o nosso município para prosseguir os seus estudos, sendo os benefícios inegáveis. Como tal, a escolha da Universidade de Aveiro pelos estudantes não só pelos estudantes da região como também fora dela deve ser algo capitalizado pelo executivo. E não deve ser só para estudar mas também para vejam em Aveiro uma cidade desejável para trabalhar e construir a sua vida futura cá. No entanto, será esse o contexto que se verifica atualmente?
A habitação é onde a CMA mais falhou aos jovens. Segundo o INE, o preço médio de arrendamento de um quarto ronda os 330€ por mês, estando este valor a aumentar desde 2020. Estes preços não estão ao alcance de todas as famílias e continuar a residir em Aveiro depois de concluídos os estudos, já começa a ser uma opção difícil de tomar.
Em vez de se investir na construção de habitação pública, onde poderiam estar incluídas as residências para estudantes universitários a preços acessíveis, a escolha deste executivo de não implementar uma Estratégia Local de Habitação, entrega completamente o Município de Aveiro às mãos dos privados e da especulação imobiliária o mercado de compra e venda de casas e de arrendamento. Desta forma, há uma escolha premeditada em construir prédios a preços claramente inatingíveis aos jovens, relevando uma falta de preocupação deste flagelo da comunidade estudantil.
Tomando como referência o valor de uma bolsa de Estágio ATIVAR.PT, 1 018,52€ como é possível pagar alojamento e despesas de transporte, em Aveiro? Se a rede de transportes públicos para o Campus é deficitária, imagine-se para as zonas industriais, onde muitas empresas laboram continuamente.
Passando para a questão da mobilidade, a desconsideração deste setor é óbvia. Os passes sub23 são gratuitos para a deslocação dentro da comunidade intermunicipal. No entanto, a atribuição do título gratuito é só aplicável para o trajeto casa-escola. Qualquer outra deslocação que o estudante queira fazer já não é gratuita. Quando se compara com outras áreas metropolitanas como Lisboa e Porto, é evidente que não é este cenário a que os estudantes são sujeitos e claramente deturpa a ideia de um passe grátis.
Não só esta questão, como a falta de oferta de carreiras dentro do município de Aveiro e a falta de autocarros mais tardios e noturnos. Um estudante não pode apanhar um comboio na estação de Aveiro depois das 19h08, porque este é o último horário da linha 11, circuito que serve a zona da UA. Adicionalmente, os horários da manhã consistentemente são insuficientes para a quantidade de estudantes que chega à estação de Aveiro. Consequentemente, há passageiros que têm de aguardar que outro autocarro chegue o que ainda demora algum tempo e o autocarro que parte à hora mais conveniente tem de ir sobrelotado.
Por fim, o facto deste edil não ter ainda criado um sistema de atribuição de bolsas para estudantes universitários com dificuldades financeiras é outro exemplo da falta de apoio à comunidade estudantil do seu município. Por exemplo, as autarquias de Oliveira do Bairro e de São João da Madeira atribuem bolsas para estudantes oriundos do respetivo município de forma a atenuar os custos da formação superior.
Por outro lado, a AAUAv sendo uma associação estudantil não tem o alcance nem o objetivo de uma câmara municipal, não podendo ser uma comparação direta. No entanto, é evidente o esforço que esta associação faz para sensibilizar os jovens para combater problemas da nossa geração, nomeadamente a saúde mental, o acesso ao emprego, a inclusão, entre outros. Tal como investe em várias atividades relacionadas com o desporto, realçando a sua importância na vida dos estudantes. Relativamente à cultura, promove uma série de eventos culturais ao nível da música, teatro, comédia, aproximando a cultura dos jovens. A Feira de Emprego é um exemplo da vontade desta associação de aproximar o mercado de trabalho aos jovens, não só por estabelecer a ligação entre as empresas e os estudantes, como também por transmitir certos aspetos relevantes como a apresentação do CV, algo essencial para melhorar a empregabilidade jovem.
Estas situações revelam que este executivo não tem em mente facilitar a vida dos jovens nem retê-los neste município. Enquanto estudante, sinto que a AAUAv me representa e se preocupa comigo. Enquanto munícipe de Aveiro, sinto que a CMA, cujo executivo elegi, não se preocupa em criar condições para que eu continue em Aveiro.
* Estudante no Mestrado em Engenharia de Materiais na UA. Militante do PS.
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