“O Presépio é lugar de encontro para todos”

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Natal, Aveiro.

O caminho de renovação que se pretende passa por uma nova compreensão do que é a Igreja e uma nova maneira de viver a fé cristã.

Por António Manuel Moiteiro Ramos *

O Natal está a chegar e na singeleza do Presépio resplandece a luz que veio habitar connosco e nos convida a “pôr a caminho”.

«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade» (Lc 2,14) foi o anúncio feito pelo anjo. É esta voz que nos chama e diz que nos ama que deve reclamar toda a nossa atenção. A Deus, que vem ao nosso encontro, os pastores, gente humilde e pobre, responderam pondo-se a caminho e oferecendo-lhe o que tinham de melhor. Também os Magos quiseram associar-se à alegria do nascimento do Filho de Deus e guiados por uma estrela encontraram o Deus Menino «envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2,12) – descobriram a realeza do amor.

Tal como aconteceu com os pastores e com os Magos, que não só se puseram a caminho, mas a partir daquele momento começaram algo novo, também cada cristão e cada comunidade são chamados a interpretar os sinais que nos vêm de Deus e a ir ao seu encontro. Viver o Natal é fazer o caminho que eles percorreram para se encontrarem consigo mesmos e com Aquele que vinha apontar um caminho de salvação.

“Da alegria trazida pelo Senhor, ninguém é excluído” (EG 3). O contexto social que vivemos solicita que cada um de nós percorra um caminho de encontro: encontro connosco próprios e com os outros. Sem encontro e abertura a todos, em especial aos mais humildes, não poderemos encontrar Jesus. Em cada Natal, somos convidados a acolher o projeto que Jesus veio apresentar e fazer dele o critério fundamental da nossa vida.

Este Natal encontra a Igreja a viver um tempo de preparação para o próximo Sínodo dos Bispos, com o tema “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”. Isto exige que, individualmente e em comunidade, nos escutemos uns aos outros de modo a discernir o que o Espírito de Deus tem para dizer à Igreja e à sociedade.

O caminho de renovação que se pretende passa por uma nova compreensão do que é a Igreja e uma nova maneira de viver a fé cristã. Cada vez mais se torna necessário fazer um caminho em conjunto, onde todos se sintam implicados na construção de um mundo mais justo e fraterno. A nossa diocese não pode ficar indiferente a esta exigência. Há famílias a necessitar de se reconciliarem e de serem as protagonistas da sua história de amor; quem procure um salário mais justo para sustento da própria família; quem procure uma habitação condigna; quem procure reconstruir vidas; quem anseie por um mundo mais harmonioso e ecológico.

A par do amor afetuoso que o Natal exige, a Igreja não pode calar a verdade que recebeu do Filho de Deus, vida e luz para a Humanidade. Enfrenta vários desafios e, na fidelidade à voz do Espírito, tem de encontrar respostas adequadas: a formação cristã como desafio premente para as nossas comunidades cristãs, onde a fé e a vida se entrelacem em caminhos de renovação; o acolhimento aos que pensam de modo diferente e aos que andam afastados; a atenção redobrada a todas as situações que ferem a dignidade do ser humano, a começar pelos mais débeis e frágeis.

O Presépio é lugar de encontro para todos. Nele aprende-se uma lição de vida familiar e comunitária. A Sagrada Família de Nazaré – Jesus, Maria e José – é fonte de inspiração para a vivência do verdadeiro Natal. Maria ao aceitar ser a Mãe do Salvador entregou-se totalmente nas mãos de Deus e o seu Sim dado ao anjo marcou toda a sua existência. Foi um sim na Anunciação, tal como junto à cruz de Jesus e no nascimento da Igreja na vinda do Espírito Santo. São José, no silêncio e no cumprimento da vontade de Deus, foi modelo de trabalhador e dedicação à família. Jesus foi crescendo em “sabedoria, estatura e graça”, dando exemplos concretos de como cumprir a vontade de Deus, seu Pai.

Estimulados pela caminhada sinodal da nossa igreja diocesana, sejamos também nós capazes de aprender as lições que brotam do presépio: uma vida simples de dedicação aos que mais precisam; uma atenção constante à família, para que esta se torne protagonista e interveniente do anúncio do Evangelho a outras famílias. Estou convicto que se pusermos isto em prática a paz reinará e o caminho da justiça e do perdão levar-nos-ão a acreditar que é possível edificar a comunidade à imagem da Boa Nova que Jesus traz.

Viver o Natal é dar primazia ao amor e à esperança. Desejo a todos um santo e feliz Natal e que o novo ano seja um tempo de renovação.

* Bispo de Aveiro. Mensagem de Natal de 2021.

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