O poder do local

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Mercado de Cacia, Aveiro.

Ainda em contexto de incertezas pela COVID 19, mas também motivados pela esperança, realço a importância do “poder do local” e do “poder local” inerentes ao comércio e à produção.

Por Manuel Oliveira de Sousa *

O poder do local (esquecido tantas vezes) está a ganhar novas abordagens e oportunidades.

O consumo do descartável; a deslocalização (de empreendimentos), por mera extração de mão-de-obra barata e fuga às responsabilidades sociais, como por exemplo pagamento de salários dignos e de impostos nos países mais escrutinados pelos poderes do Estado de Direito e acordos sociais internacionais; a vida acelerada; algum pedantismo ou preconceito, tantas vezes preso à máxima de que “santos de ao pé da porta não fazem milagres”,… tantas circunstâncias, ou opções, foram relegando para segundo plano elementos fundamentais que o confinamento fez ressurgir: bens de primeira necessidade nas proximidades!

As escolhas de gestão pública, mais ou menos macro, que, pelos mesmos motivos apontados no início, agravados por complexos de afirmação bastante criticáveis, e outros por definição mais ou menos ideológica, tendem a criar periferias e a favorecer os mais poderosos na bizarra convicção que o mundo é uma selva onde os mais fortes impõem a lei! – felizmente há pensamento e prática política alicerçados na equidade, justiça e solidariedade social em ordem à reta distribuição dos bens e bem comum.

Ainda em contexto de incertezas pela COVID 19, mas também motivados pela esperança, realço a importância do “poder do local” e do “poder local” inerentes ao comércio e à produção. São setores, mas são essencialmente pessoas, famílias, pequenas unidades de produção familiar a quem é urgente dar destaque e incrementar como núcleos essenciais num mundo em mudança, porque induzem o que há de melhor na sociedade global, as potencialidades da ação local:

– adicionam valor nas cadeias comerciais de proximidade (relação direta de confiança de anos de convivência com os clientes de sempre, com redes que conciliam práticas de produção e relação clássicas com métodos inovadores, qualidade de produtos, sobretudo em matéria de bens de produção, evitam as consequências negativas do transporte demorado de produtos alimentares após a colheita, pesca ou abate, uma vez que os alimentos vão perdendo nutrientes. Por isso, quanto menor for o tempo de transporte e distribuição entre a origem e o consumo, maior será a qualidade nutricional do alimento);

– protegem e desenvolvem os patrimónios (história, culturas, biodiversidade, ciclos da natureza, gestão equilibrada dos recursos disponíveis,);

– garantem e empreendem a sustentabilidade socioeconómica das comunidades, famílias, organizações (clubes, associações, …) de vizinhança;

– mantêm a relação direta de confiança de anos de convivência, até porque estes proprietários precisam de ajuda para conseguirem chegar aos seus clientes de sempre, de uma forma mais prática e inovadora.

O mundo começa em cada um de nós – no local em que cada um vive, interage, influencia!
Na harmonia e biodiversidade do mundo, releva-se a importância de pensar e agir localmente, já!

O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial os mais frágeis. Não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental e económica, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social.

Manuel Oliveira de Sousa, líder concelhia do PS de Aveiro.

* Presidente do PS de Aveiro, vereador na Câmara de Aveiro.

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