Encaremos a IA como uma fonte que nos informa, mas não nos determina, ou seja, não define o nosso pensamento, as nossas decisões e ações. Utilizemos a IA como uma ferramenta que nos auxilia, mas não nos substitui.
Por Isabel Martins *
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A inteligência artificial (IA) é uma ferramenta poderosa que tem dado provas dos seus múltiplos benefícios. Porém, os riscos emergentes da sua utilização são questões prementes que requerem a nossa atenção, especialmente em aspetos que exigem competência de pensamento crítico.
Esta é uma caraterística eminentemente humana que envolve a capacidade de analisar, avaliar e interpretar objetivamente informações e que, de acordo com Paulo Freire (1921-1997), representa uma forma de inteligência voltada para resolver problemas do mundo real. Mas como podemos nutrir essa inteligência perante a IA, que permanentemente nos oferece informações e recomendações, cuja origem ou veracidade nem sempre questionamos?
Uma possível resposta poderá ser encontrada ao analisar a teoria da autodeterminação (self-determination theory – SDT), proposta pelos psicólogos Ryan e Deci. Segundo esta teoria, o ser humano possui três necessidades psicológicas básicas que, quando identificadas e supridas, promovem o seu bem-estar e crescimento: autonomia, competência e conexão social. A autonomia é a liberdade de escolher e agir conforme os nossos valores e interesses. A competência é a aptidão para realizar as tarefas e alcançar os nossos objetivos. A conexão social é o sentimento de pertença e a possibilidade de se relacionar bem com outras pessoas. Porém, estas necessidades podem ser afetadas pela IA de várias formas. Ora vejamos:
A IA pode reduzir a nossa autonomia, ao nos expor a conteúdos personalizados que nos induzem a pensar e a agir de acordo com ideologias alheias aos nossos verdadeiros interesses ou valores. Um exemplo típico é o das redes sociais, que utilizam algoritmos para filtrar as informações facultadas, o que pode dificultar o debate saudável, e conduzir à criação de bolhas de opinião e antagonismos;
A IA pode afetar a nossa competência, na medida em que confiamos cegamente nas suas recomendações, sem explorar outras opções ou desenvolver o nosso próprio raciocínio. Um exemplo, relativamente comum, é quando recorremos a assistentes virtuais para nos fornecer opções de produtos, serviços ou trajetos, cuja qualidade ou conveniência nem sempre questionamos; e
A IA pode prejudicar a nossa conexão social, ao mostrar informações falsas ou manipuladas, que dificultam a distinção entre o que é real e o que é ficção. Isto pode levar a duvidar da honestidade das pessoas. Um fenómeno recente são os deepfakes, que são textos ou vídeos gerados pela IA, que substituem, de forma convincente, o rosto ou a voz de uma pessoa real por outra, de forma a enganar a quem os visualiza.
Por tudo isto, encaremos a IA como uma fonte que nos informa, mas não nos determina, ou seja, não define o nosso pensamento, as nossas decisões e ações. Utilizemos a IA como uma ferramenta que nos auxilia, mas não nos substitui, e empreguemos a IA como um meio que nos conecta, reconhecendo e respeitando as nossas semelhanças e diferenças em relação aos outros, interagindo de forma colaborativa e empática.
Em síntese, é preciso preservar o nosso pensamento crítico perante a envolvência da IA, procurando identificar e satisfazer as nossas necessidades psicológicas básicas. Isto implica apostar em fontes de informação confiáveis e diversificadas, questionar as recomendações facultadas pela IA e interagir com pessoas que nos respeitem e nos estimulem a evoluir. Só assim, poderemos maximizar os benefícios da IA, sem colocar em causa uma das nossas maiores habilidades como seres pensantes.
* Professora Adjunta Convidada do ISCA-UA. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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