O próximo semestre poderá ainda ser de proximidade condicionada, mas ficará marcado pelo regresso à normalidade. Para a formação de todos, é bom que assim seja. A tecnologia complementa, mas não substituiu, o contacto físico com professores e colegas, o ambiente dos laboratórios e salas e a interação social.
Por Paulo Jorge Ferreira *
A relevância da interação física nas instituições de ensino superior é sublinhada no artigo de opinião que o Reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, assina esta terça-feira, no Jornal de Notícias. Na sua opinião é essencial que a comunidade académica possa usufruir, já a partir deste verão, de todos os benefícios da dimensão presencial, sem comprometer a segurança.
A centralidade do conhecimento na sociedade contemporânea é inegável, e as instituições de Ensino Superior (IES) estão entre as principais fábricas de conhecimento. Mas uma universidade do século XXI é mais que um espaço de criação e transmissão de conhecimento: é um ambiente privilegiado onde interagem pessoas de culturas, idades, expectativas, línguas e origens distintas. O ambiente que daqui resulta é essencial para promover o desenvolvimento cognitivo e técnico, e favorece a aquisição de competências pessoais e afetivas importantes para o futuro de qualquer profissional.
A vivência académica extravasa em muito as paredes das salas de aula. Nasce do contacto direto com a língua e cultura das regiões em que as IES estão inseridas, e reforça-se com o convívio, a participação em atividades culturais, a prática desportiva, a participação no movimento associativo – que acompanham as experiências de aprendizagem, centrais e estruturantes em todo o processo.
A interação física com a instituição e na instituição, envolvendo os membros da comunidade académica e toda a sua envolvente humana, é determinante para um relacionamento interpessoal rico e equilibrado e para a formação cívica dos estudantes.
A relevância desta cultura de proximidade justifica o esforço enorme que as IES estão a empreender na reorganização das atividades letivas, das atividades extracurriculares e dos seus próprios espaços, para que já neste verão e depois em setembro possam oferecer às suas comunidades todos os benefícios da dimensão presencial, sem comprometer a segurança.
O próximo semestre poderá ainda ser de proximidade condicionada, mas ficará marcado pelo regresso à normalidade. Para a formação de todos, é bom que assim seja. A tecnologia complementa, mas não substituiu, o contacto físico com professores e colegas, o ambiente dos laboratórios e salas e a interação social.
Poderemos vir a ter um ano diferente, em hábitos de segurança, mas queremos e merecemos um ano igual a todos os outros, em dimensão presencial. Preparar para o conhecimento é uma necessidade permanente da sociedade, que não admite intermitências.
Vale a pena considerar.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Texto divulgado originalmente no site UA-pt.