O grito do Ipiranga

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Serviços de socorro (ambulância).
Natalim3

Passaram muitos anos e muitos incumprimentos dos Governos para com os parceiros, os Bombeiros, a quem haviam pedido ajuda.

Por António Nunes *

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Tornou-se uma expressão comum da nossa linguagem. O rio brasileiro Ipiranga ficou associado a um episódio do passado, em 7 de setembro de 1822, que marcou a independência do Brasil.

Em linguagem comum a expressão, genericamente, passou a ser associada a independência ou emancipação. O episódio retratado, e que agora é associado diretamente à independência do Brasil, na época, porém, não terá tido o impacto que ao longo do tempo a tradição lhe veio a atribuir. Terá havido depois dele a necessidade de muitos outros “gritos” até à concretização definitiva da independência do Brasil.

O sentido da expressão tem-se aplicado a muitos processos, a muitos temas cuja situação denota ou identifica encalhes difíceis de resolver. Um deles, sem dúvida, pese embora o esforço e os resultados positivos do trabalho desenvolvido pela Liga dos Bombeiros Portugueses, é o transporte de doentes não urgentes.

Nos idos anos setenta/oitenta do século passado as associações de bombeiros corresponderam ao desafio do Governo de então de montar e desenvolver uma rede de transporte de doentes não urgentes. Tratava-se de apoiar e alargar o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde socorrendo-se da única entidade que tinha capacidade e dinâmica para aderir e fazer crescer esse serviço.

Passaram muitos anos e muitos incumprimentos dos Governos para com os parceiros, os Bombeiros, a quem haviam pedido ajuda. Ao longo desse tempo, a Liga dos Bombeiros Portugueses fez o seu papel, denunciando e negociando novas condições muitas vezes com resultados assinaláveis. Mas mesmo assim, pela diversidade das características do território, das distâncias e dos muitos custos associados e até pela falta de respeito das entidades servidas (ARS, hospitais e outras entidades congéneres) em, desde logo, cumprir atempadamente com o pagamento dos serviços prestados, a Liga tem tido a tarefa quase impossível, mas sem quebras nem intervalos, de lutar pelo cumprimento da lei e dos contratos assinados com os Bombeiros e pela sustentabilidade das suas Associações.

Uma associação, de Salvaterra de Magos, entendeu agora dar o “grito do Ipiranga” e suspender os serviços de transporte de doentes esclarecendo, mais que sabido, que têm encargos que dependem diretamente da regularização da faturação de SGTD em atraso.

A demonstração deste estado de alma não acontece por acaso. Surge de quem tem consciência das suas responsabilidades para com a comunidade, mas também o alerta para a falta de consciência e de respeito das entidades servidas para com as associações de bombeiros.

* Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

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