Existem comunidades que transcendem a sua mera existência ou definição administrativa, que chegam a atingir uma espiritualidade digna de um autêntico povo. Tornam-se num ideal, numa terra de esperança. O meu distrito, o de Aveiro, é o seu caso mais paradigmático.
Por Marco Dias Carvalho *
Todos sabemos que, enquanto humanos, inelutavelmente, sofremos de uma efémera passagem terrestre. Nesse sentido, à partida, nada deve ser mais importante para cada indivíduo do que a inesgotável procura do seu conforto e da sua felicidade durante a sua própria existência.
Ora, a história sempre nos ensinou que a humanidade migra para – e consequentemente estabelece-se – onde existem oportunidades. Por outras palavras, onde cada um possa usufruir da qualidade que deseja para a sua vivência quotidiana. Começámos por procurar as necessidades mais básicas, como alimento e água; já nos dias de hoje, por exemplo, os fatores como infraestruturas, segurança ou serviços, alinham a hierarquia pela preferência de cada assentamento humano.
Esta superficial reflexão serviu apenas para levar aonde este texto pretende chegar, de onde escrevo, o distrito de Aveiro, mais especificamente o concelho de Anadia, minha casa desde sempre.
Não querendo repetir o que são factos, pois que estes nada os altera, o distrito de Aveiro é uma terra sem par. É uma terra de “varandas”. De um lado contempla o mar, com toda a sua história piscatória e portuária, sem olvidar a reluzente costa de douradas areias; do outro contempla a serra, com as formas mais agrestes e mais selvagens, quase como um presente da natureza às nossas gentes, para respeitarmos e admirarmos a beleza de tais elementos. Já entre o mar e a serra, correm como veias os mais variados rios e ribeiros, que espelham os verdes campos e colinas, banhando as nossas lindas cidades e formosas vilas.
Mas nem só de natureza pode viver o Homem. O distrito de Aveiro é também uma terra de trabalho, de labor – é , além disso, uma terra de gentes pioneiras e empreendedoras. Onde muitos conseguiram entrar no elevador social e onde muitos mais certamente o farão. É uma terra que produz, que cria, que acrescenta valor.
Soma ao seu tecido empresarial invejável, com mão de obra de diversas qualificações, os saberes da sua academia, a Universidade de Aveiro (incontáveis vezes distinguida no continente europeu) e demais instituições superiores. Naturalmente, isto traduz-se, segundo dados do Ministério do Trabalho (2017), no facto do distrito de Aveiro possuir a 4ª mais alta remuneração média mensal, por conta de outrem, de todos os distritos de Portugal.
Ademais, a geografia foi generosa. O distrito de Aveiro faz várias transições, uma entre o Norte e o Centro, outra entre o Litoral e o Interior. É uma terra de caminhos, possuindo variadíssimas vias de comunicação, sejam estradas e autoestradas, ferrovia ou acessibilidades para o transporte marítimo.
Sem ainda esquecer o património riquíssimo que abunda pelo distrito, é de igual forma uma terra de história. Visível nos seus monumentos, nos seus museus, nos seus edifícios, nos seus azulejos e na sua calçada. Em qualquer sítio, respira-se um passado que abrilhanta o presente, sente-se o peso da história e das gentes que por aqui passaram, se sacrificaram, e abriram portas para todos os que vieram depois.
Aveiro é, acima de tudo, uma terra de liberdade. As gentes do distrito de Aveiro nunca discriminaram a coisa pública ou a coisa privada. Sempre souberam, sem pruridos ideológicos, que não importa a quem pertence o quê, importa sim a qualidade do que se presta e do que se faz com isso.
É, também, uma terra de liberdade porque, em vários dos seus municípios, o grande fluxo migratório de dois sentidos para a Venezuela, por exemplo, trouxe memórias vivas dos erros do socialismo e dos movimentos revolucionários autocráticos. É por isso que as gentes do distrito de Aveiro acreditam na força da iniciativa privada e do projeto individual de cada um, mas sem nunca esquecer a virtude da comunidade e dos estimados serviços públicos essenciais.
Aveiro, como distrito, como região, como sonho, é essencialmente uma terra de bem viver, de bem saber e de bem fazer. É uma terra que tem sabido dar aos seus, e aos que de si procuram, a fonte da qualidade de vida, tão cobiçada. No entanto, há que saber preservar este legado. Há que dar continuidade a este sonho para as gerações vindouras.
É a esse compromisso que me submeto. É por essa honra que me disponibilizo a lutar. Porque Portugal pode aprender com Aveiro e os seus 19 magníficos municípios. Faz falta a Portugal mais Aveiro.
O leitor pode questionar-se acerca da utilidade do que até agora escrevi, aliás, com toda a propriedade e legitimidade. Porém, como escreveu um dos heterónimos de Fernando Pessoa, todas as cartas de amor são ridículas, e se assim não fossem, não seriam cartas de amor. Esta não poderia ser exceção, porque amo o meu distrito e aquilo que representa.
* Jurista.Presidente da Comissão Política Distrital de Aveiro da Juventude Popular.