O cerco visto de fora

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F>ronteira Espinho / Ovar (foto de Manuel Dias, Facebook).

Registamos com agrado a mobilização da população civil, que percebendo a gravidade da situação tudo têm feito para manter a população informada e acudir aos casos de necessidade mais urgente.

Artur Duarte *

Estou ausente de Ovar desde o passado dia 14, um sábado, data em que regressei a Lisboa, onde resido com a minha família e fiquei aprisionado nesta quarentena.

No dia anterior, por acaso uma sexta-feira 13, dia agoirento, até para mim que não acredito em bruxas, tomámos conhecimento do verdadeiro choque que representou para nós e toda a comunidade o facto de, além das duas pessoas (mãe e filha) que já sabíamos estarem infectadas pelo Covid 19, se ter apurado a existência de mais oito casos, dos quais sete registados no pessoal clínico, auxiliar e utentes do Centro de Saúde de São João de Ovar. A situação passou rapidamente de preocupante para muito grave.

Houve de imediato a necessidade de tomar medidas, nomeadamente o encerramento do Mercado Municipal, precisamente na véspera do dia em que habitualmente regista mais movimento.

A situação evoluiu muito rapidamente, e dada a concentração de casos no Concelho de Ovar, o governo com o apoio das autoridades locais, decretou o cerco sanitário a todo o concelho.

Entretanto fomos confrontados com outro episódio que obrigou a um esclarecimento do Governo e que teve a ver com a suspensão da actividade das indústrias não produtoras de bens essenciais dentro do perímetro concelhio, que inicialmente como o despacho publicado no Diário da República, era omisso sobre a necessidade do seu encerramento teimavam em manter o seu funcionamento. Felizmente a situação foi aclarada e encerrou-se, no dia 18, o que havia a encerrar.

As autoridades locais, Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, Proteção Civil e autoridades sanitárias privilegiaram, como se impunha uma estratégia de defesa da saúde dos munícipes vareiros. Registamos com agrado a mobilização da população civil, que percebendo a gravidade da situação tudo têm feito para manter a população informada e acudir aos casos de necessidade mais urgente.

No plano pessoal é com pena que me vejo impedido de me deslocar à minha terra, estar com os meus familiares e amigos e poder colaborar de forma mais efectiva no apoio aos meus conterrâneos. Mas não há nada a fazer se não me conformar e ajudar no que posso à distancia.

E agora, o que fazer?

– Nas próximas semanas e enquanto a curva de pessoas infectadas no concelho não começar a descer sustentadamente urge manter o foco na proteção contra novas infeções, criando condições para que se proceda com a celeridade que a situação obriga aos testes do novo corona vírus, no sentido de identificar tanto quanto possível os focos de infeção. É também fundamental que se criem condições de prestação da assistência necessária às pessoas infectadas e que permanecem nas suas residências e dotar o Hospital de Ovar de condições para ajudar no combate a esta pandemia.

– Tememos que a partir do final do mês comecem a surgir problemas financeiros quer para as empresas que se encontram encerradas como para as famílias, daí que independentemente dos programas promovidos pelo governo para os próximos três meses, a própria Câmara deva investir através do Fundo de Emergência Social num programa que vise minorar os problemas da população mais carenciada, não esquecendo também o apoio ao pequeno comércio e indústria visando criar condições para manter tanto quanto possível o tecido económico em funcionamento.

– É também para nós fundamental uma nova estratégia de comunicação que passe por esclarecer que o que se passou em Ovar foi algo que infelizmente pode acontecer em qualquer outro município, pelo que os vareiros e as suas empresas não devem nem podem ser ostracizados. Aliás no meio de um problema tão grave que assola todo o mundo, poderá até o concelho de Ovar, vir a beneficiar do facto de tendo sido sujeito a medidas tão musculadas, conseguir minimizar os efeitos da pandemia e sair melhor desta crise.

Finalmente uma reflexão sobre o futuro:

Estamos a viver um problema sanitário sem precedentes no nosso tempo, que praticamente paralisou toda a Economia Mundial.

Num momento em que as prioridades estão concentradas em salvar vidas, não podemos esquecer o que virá depois.

Daí que entendamos que as medidas propostas até agora pelo Governo são meros paliativos, que podem resolver alguns problemas até Junho, mas não permitirão a retoma económica que tanto necessitamos. O desemprego vai subir em flecha e muitas empresas não sobreviverão. Só uma política de relançamento à escala europeia nos irá permitir sair deste verdadeiro buraco negro.

Temos de estar em alerta para que se não repita o que aconteceu com a crise de 2008, quando a comissão europeia aconselhou os governos a usarem a “bazuca” orçamental para combater a crise, e 3 anos depois quando pelas “Alemanhas” desta União o problema estava controlado surgiu a questão da divida soberana dos países do Sul, profundamente endividados pelo mau hábito de gastarem dinheiro em “gajas e copos”, levando à implementação de duros programas de ajustamento anti cíclicos, que tanto sofrimento causaram.

Desejo que, como algumas linhas de apoio do Banco Central Europeu vão ser encaminhadas pela Banca a operar em Portugal, o governo estabeleça e imponha regras muito rigorosas na gestão desses fundos, sob pena de, se tal não acontecer, o dinheiro beneficie uns quantos em detrimento de quem precisa.

Artur Duarte.

* Vereador do PS na Câmara de Ovar.

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