Não vou entrar em comparações com a Linha do Douro, pense antes que este comboio histórico vale por outros factores que o tornam diferente.
Bruno Soares*
Hoje, através do Movimento Cívico pela Linha do Vouga, decidi falar na primeira pessoa sobre a minha experiência de viajar no Comboio Histórico do Vouga.
No ano passado já tinha feito esta mesma viagem e como foi uma experiência inesquecível, decidi repeti-la este ano, mais concretamente no passado dia 7 do presente mês. Quando cheguei à estação de Aveiro, cerca de quinze minutos antes da hora de partida (13h40), já se encontrava um imenso grupo de pessoas na plataforma à espera da ordem para se entrar nas antigas carruagens, na habitual hesitação de se o poder fazer ou não.
Pelas pessoas ao meu redor, prometia ser mais uma viagem com lotação esgotada! Enquanto se espera, alguém devidamente trajado com vestimentas antigas se apressa em tentar vender os típicos ovos moles. À medida que se aproxima a hora da partida, cresce aquele nervoso miudinho enquanto avisto a garotada a tirar fotografias na locomotiva Alsthom junto do maquinista.
Assim que chegam os elementos do Grupo Folclórico e Etnográfico de Macinhata do Vouga e do TEMA – Teatro Espontâneo de Macinhata do Vouga, encarregues de animar a viagem ao longo de todo o trajecto, alguém ligado ao Núcleo Museológico de Macinhata do Vouga dá o aval para as pessoas comecem a entrar nas carruagens. Antes da viagem se iniciar, houve ainda tempo para uns momentos de canto e dança.
Finalmente, o comboio apita e seguimos em direcção a Macinhata do Vouga.
Ao longo da viagem somos brindados com actuações musicais e teatrais. Não esperem uma viagem silenciosa, pois as carruagens são do inicio do século e a malta delicia-se com as janelas abertas e a possibilidade de “tomar ar” nos varandins. Espere o barulho do andar da composição, espere os apitos constantes, espere o imenso cheiro a diesel queimado, espere o risco de levar com alguma silva ou arbusto na cara caso vá debruçado à janela, espere animação musical e teatral, espere ver adultos a comportarem-se como crianças (no bom sentido claro) e crianças extremamente curiosas e deliciadas como todo o ambiente.
Eu cá esperava tudo isso e se assim não fosse, não teria o mínimo interesse. Tudo o que descrevi anteriormente é algo genuíno e que faz parte de algo que nos transporta para o passado. Não vou entrar sequer em comparações com a Linha do Douro, no entanto se espera grandes paisagens, pense antes que este comboio histórico vale por outros factores que o tornam diferente.
A Linha do Vouga, cuja bitola métrica a torna praticamente única no país, atravessa zonas rurais passando pelo meio de quintas e quintais. Em Eirol, enquanto se espera pelo cruzamento com a automotora 9630, podemos sair da composição para tirar algumas fotografias e contemplar o único túnel que iremos encontrar em todo o trajecto.
Em Águeda, há novamente uma breve paragem. Daqui para a frente, só paramos em Macinhata do Vouga para a típica visita ao núcleo museológico. Tal como no ano passado, é aqui que se instala um pequeno “caos”, pois muita gente não sabe ao certo para onde se deve dirigir. E não parece haver “guias” que nos possa indicar o que fazer. Se eles existem, não os vi. Pode ter sido o meu “azar” e o de outras pessoas.
Se nas carruagens nos deram a provar os típicos pasteis de Águeda, o mesmo não se pode dizer do típico espumante da Bairrada que supostamente nos seria dado a degustar na chegada a Macinhata.
Na minha opinião, este era um problema simples de resolver. Bastava para isso que cada carruagem (três no total) tivesse um guia responsável. Esse mesmo guia, antes da chegada a Macinhata, ficaria encarregue de explicar a todos os viajantes da sua carruagem todo o processo de visita ao museu. A
os interessados em visitar o museu, seria oferecido uma pulseira com uma cor diferente por carruagem, o que facilitaria a habitual divisão dos grupos para entrarem nas instalações. Sim, porque a paragem em Macinhata é de cerca de uma hora e é impossível que todas as pessoas possam entrar ao mesmo tempo no museu.
Enquanto um grupo poderia degustar o espumante, outro visitava as barraquinhas de artesanato e o outro visitava o museu. Se todo este processo fosse mais organizado, toda a gente visitaria o museu, todas as pessoas saberiam onde se dirigir e o tempo seria melhor rentabilizado. Bom, porque me apressei, fiquei no primeiro grupo a entrar no museu. Aqui esperava uma encenação tetral, que presumo não ter ocorrido muito por culpa da falta de tempo. Valeu pela performance da pessoa responsável pelo museu, que nos brindou de forma fenomenal com as suas explicações à cerca das antigas locomotivas e carruagens ali presentes.
Visita concluída, não há muito mais a dizer. As pessoas ficam por sua “conta e risco” enquanto se espera pelo regresso do comboio histórico que fora a Sernada para inverter o sentido de marcha. Pena de facto que este comboio não vá até essa magnifica localidade…
No regresso a Aveiro, há paragem de mais uma hora para visitar a cidade de Águeda.
Aqui penso que o processo volta a não estar muito agilizado, pois principalmente os turistas forasteiros ficam ali na estação sem saber muito bem para onde se dirigir. No ano passado fomos recebidos por uma guia turística que se identificava facilmente pelo típico guarda-chuva de pano, que deu algumas indicações e nos levou a conhecer o centro da cidade. No entanto, uma guia turística para cerca de 150 pessoas não é de todo suficiente e penso que este ano foi algo que voltou a falhar.
Pouco depois das 18 horas, o comboio partiu em direcção a Aveiro para os derradeiros quilómetros da viagem. Aqui debrucei-me à janela enquanto acenava aos carros e às pessoas que nos diziam “adeus”.
Às 19h01 em ponto, o Comboio Histórico deu a sua jornada por concluída com o regresso à estação de Aveiro. Apesar de algumas falhas que parecem teimar em se repetir, o bilhete do Comboio Histórico do Vouga trata-se de um investimento numa memória futura que vale cada euro gasto.
* Impulsionador do Movimento Cívico pela Linha do Vouga