O epílogo de um qualquer livro
Deve ser redigido
Individualmente ou em conjunto
Mas sempre por quem esteja
Mesmo dentro do assunto.
Por João Madalena *
Como Grão Mestre da Confraria
Muito mal me ficaria
Se não encarregasse dessa missão
Alguém que é o “fulcro” da questão
Ora encontrar esse alguém
É fácil e lógico… afinal
De quem é a Confraria???… do Bacalhau
E o Festival??… do Bacalhau
Será pois o Bacalhau
A tecer algumas considerações
Sobre aquele que é o seu Festival
Embora a sua linguagem seja aquática
Adaptámos um pouco a sintáctica
E de um modo ideográfico
Regemo-nos pelo mais recente Acordo Oceanográfico
É pois a partir daqui
Que tudo aquilo que escrevo ou digo
São palavras do nosso “Fiel Amigo”:
“Meus caros
É tempo de assumirem que na pirâmide alimentar
Há três classes de alimentos a destacar
A carne e o peixe em geral
E no topo, bem à parte Eu… o Bacalhau.
Eu sou aquele por quem vocês Ilhavenses arrojados
Em busca de mim, andaram por mares
nunca dantes navegados
Eu sou aquele que vos fez partir na louca aventura
a toda a prova
De viagens aos mares gelados da Terra Nova
Em barcos sem motor… lentos
Apenas impelidos pelos ventos.
Eu sou aquele que vos fez ausentar
durante longos meses
Deixando estas terras entregues às mulheres…
na maioria das vezes
Eu sou aquele por quem vocês
Nesses mares de além
E na ânsia de um bom lote
Abandonavam o barco mãe
Apenas dentro de um pequeno bote
E também sou aquele que vocês preparavam
Esfaqueando-me de lés a lés
Debaixo de chuva e gelo, em pleno convés.
Eu sou aquele que já em forma triangular
Vos obrigava quase a rastejar
Num esforço brutal
Naqueles porões de sal.
Sou também aquele que depois de meses de viagem
Baloiçando na onda destruidora
Empilhado e embebido em salmoura
Dava entrada nas secas onde os braços delicados
das moçoilas
Sem nunca perderem o alento,
Me estendiam nos arames ao sol e ao vento.
Hoje as coisas são bem diferentes
Já não é o “destino fatal”
Embarcar para o Bacalhau!
No entanto com mais ou menos despesas
Continuo sempre presente nas vossas mesas
E esta ligação, este constante conviver
Julgo que terá gerado em vós
Também a necessidade de me dar a conhecer
Às vezes penso
E julgo que não invento
Que terá sido, talvez, esta a razão fulcral
Para a existência deste evento
O Meu Festival
E fizeram-no com mestria
Vem gente de todo o lado
Do interior até à costa
E há quem fique até espantado
Pois a maioria só me conhece à posta
Durante cinco dias
Seguindo à risca as boas normas
Sou apresentado no prato, das mais diversas formas
Um festival onde a entrada é gratuita
Onde de manhã à noite decorrem
um sem número de acções
Desde showcookings a degustações
E os cookings são autênticos shows
Para não falar nos concursos e workshops
Que são coisas finas
As mostras de artesanato e as oficinas
As actividades desportivas
As artes performativas
Dispensando a psiquiatria
A corrida mais louca da ria
Concertos de partir a mobília
Enfim… diversão para toda a família
Mas… Para além disso
…e gratuitamente
Sentados
Podemos usufruir da visão de um sol poente
Que num adeus soberano
Vai mergulhando no oceano
Servindo de pano de fundo
À entrada das traineiras rodeadas de gaivotas
Que em grande algazarra
As acompanham desde a boca da barra
Tudo isto é o meu Festival
É uma autêntica viagem
E tudo isto eu aceito como homenagem
Uma viagem triunfal
Orientada por uma “tripulação” genial
Cujo desempenho profissional
É de tal modo eficaz, familiar e cordial
Que torna o meu Festival
Num evento de amizades
Que mesmo antes de terminar
Já nos deixa com saudades
E quem participa no meu Festival
Fica a saber e… …sente
Que o Bacalhau não é apenas um ingrediente
Um ingrediente
Que uma receita encerra
O Bacalhau é a história desta terra.
* Grão-Mestre Confraria Gastronómica do Bacalhau. Epílogo do livro “Samos, Caras e Línguas – A Gastronomia do Festival do Bacalhau” lançado no evento ‘Bacalhau ao cais’ 2021.
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