O Aveiro esquecido

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Pedra de Eirol.
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O município de Aveiro é um território a duas velocidades, os territórios urbanos ganham população, os territórios rurais perdem, os territórios urbanos com uma população mais jovem, os territórios rurais com uma população mais idosa, os territórios urbanos têm cada vez maior oferta de serviços, os territórios rurais perdem-nos, ou seja, os territórios urbanos desenvolvem-se, os territórios rurais retraem-se.

Por Miguel Branco *

Existe um Aveiro que não é conhecido, até mesmo pelos habitantes da nossa cidade, um Aveiro sem ria, sem sal, sem moliceiros, sem prédios, sem shoppings, sem avenidas, o Aveiro profundo.

Um Aveiro com problemas idênticos aos dos territórios do interior, envelhecido, quase sem serviços, que perde população, um Aveiro esquecido. Mas é um Aveiro em que quase toda a gente se conhece, com verdes campos cultivados, com florestas, com a pateira, o rio Águeda, o Vouga e com fontes de água potável, com tanques públicos onde ainda se lava a roupa, onde o final de missa ainda é o principal momento de convívio.

O município de Aveiro é um território a duas velocidades, os territórios urbanos ganham população, os territórios rurais perdem, os territórios urbanos com uma população mais jovem, os territórios rurais com uma população mais idosa, os territórios urbanos têm cada vez maior oferta de serviços, os territórios rurais perdem-nos, ou seja, os territórios urbanos desenvolvem-se, os territórios rurais retraem-se, sendo que na minha opinião, os territórios onde este processo tem sido mais gravoso são as antigas freguesias de Eirol e Requeixo.

Dou o exemplo de Eirol, a minha terra e que conheço melhor o caso. Nos últimos anos em Eirol a escola fechou por falta de alunos, a pré-escola por falta de crianças, o posto médico fechou, o multibanco foi assaltado e não foi reposto, e por último deixámos de ser uma freguesia autónoma e fomos agregados a Eixo, ou seja, entrámos no círculo vicioso de menos pessoas levam a menos equipamentos e menos equipamentos levam a menos pessoas. Sim, existem territórios em Aveiro assim, esquecidos.

Estarão os territórios rurais de Aveiro condenados a retraírem-se?

Que estratégia existe para valorizar os territórios rurais do município?

Para valorizar os territórios rurais de Aveiro, é essencial aproveitar as características únicas destes territórios que os diferenciam do resto do município.

Desde logo estes territórios, apesar de serem rurais estão perto de cidades, ou seja, existe relativa proximidade de grande oferta de bens e serviços. Estes territórios rurais também têm oferta de transportes públicos, desde logo o transporte ferroviário com a linha do Vouga, e mais recentemente os autocarros públicos da rede intermodal de Aveiro ou também fácil acesso a autoestradas como a A1.

Estes territórios rurais também têm acesso a habitação a custos mais baixos, num ambiente mais tranquilo, pacífico e com um maior contacto com a natureza, apesar de também estarem próximos de zonas industriais como as de Aveiro, Águeda ou Oliveira do Bairro.

É essencial a partir destas características únicas criar uma estratégia de desenvolvimento para estes territórios, criar uma maior uniformidade no desenvolvimento do nosso município e valorizar os territórios rurais de Aveiro. Nós estamos aqui, não se esqueçam.

* Vogal na Assembleia de Freguesia de Eixo e Eirol, licenciado em Geografia pela Universidade de Coimbra e mestrando em Planeamento Regional e Urbano na Universidade de Aveiro.

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