A análise dos resultados do concurso nacional de acesso ao Ensino Superior de 2024 expõe alguns dos desafios que o Ensino Superior português enfrenta.
Por Paulo Jorge Ferreira *
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O número de candidatos desceu pelo quarto ano consecutivo. Este ano, concorreram 58 301 candidatos, contra os 64 007 de 2021. Contudo, a percentagem de colocados na primeira fase subiu: os 49 963 estudantes colocados em 2024 representam 85,7% dos candidatos, contra 81% em 2021.
O número de colocados em primeira opção também cresceu, atingindo os 56,1%, sugerindo um maior alinhamento entre as preferências dos candidatos e a oferta formativa das instituições.
Mas o concurso não termina com as colocações – termina com as matrículas. E houve um número significativo de estudantes que não se matricularam. Depois das matrículas, nenhuma instituição de Ensino Superior portuguesa deixou menos de 5,7% de vagas para a segunda fase. No total, ficaram 9656 vagas (17,7%) para a segunda fase.
A queda pelo quarto ano consecutivo do número de candidatos reflete a demografia do país, que não deverá mudar. O aumento do número de não matriculados pode resultar de dificuldades sentidas pelos estudantes para encontrar alojamento junto das instituições nas quais tinham sido colocados.
É de notar a diferenciação entre politécnico e universitário. Cerca de 28,2% dos candidatos só escolheram cursos de cariz politécnico (25,4% há uma década) e 48%, escolheram cursos universitários (54,2% há uma década). Os candidatos ao Ensino Superior parecem estar cientes das diferenças entre os dois sistemas, fazendo uma escolha informada de acordo com as suas preferências; e a percentagem dos que escolhem só o subsistema politécnico tem crescido.
Estas questões merecem reflexão. Se queremos assegurar a sustentabilidade e a relevância do Ensino Superior português, temos de continuar a manter uma formação ajustada às necessidades dos estudantes que nos procuram, num quadro de flexibilidade e ambição das agendas institucionais e políticas. Também é importante continuar a dar atenção aos problemas do alojamento e da ação social, até porque o número de estudantes deslocados tem vindo a crescer.
Portugal tem feito progressos notáveis na área educativa e no Ensino Superior. Para que esse trabalho não se perca, temos de continuar a inovar e a adaptar a nossa oferta e a responder às dificuldades das famílias que querem investir na qualificação.
Vale a pena pensar nisso.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Artigo publicado original no Jornal de Notícias divulgado, também, no site UA.pt.
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