“Apesar dos tempos difíceis, temos a sorte de viver numa cidade e região que tem potencial maior do que coletivamente temos conseguido materializar, se conseguirmos criar alguns consensos relevantes”.
O apelo foi deixado pelo economista António Nogueira Leite, esta quarta-feira à noite, ao intervir como convidado na sétima edição do ciclo de debates ‘Diálogos Colaborativos’ organizado online pela concelhia de Aveiro do PS para preparar o programa a apresentar nas próximas eleições autárquicas.
“É preciso modificar um pouco e empurrar algumas dinâmicas presentes na comunidade, temos muitos dos ingredientes necessários para o desenvolvimento da cidade e dar maior bem estar aos vizinhos e região”, acrescentou o economista e professor com raízes familiares em Aveiro, que foi Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças (1999-2000) no Governo de António Guterres (PS), mais tarde, conselheiro nacional do PSD e conselheiro económico de Pedro Passos Coelho.
“Recuperar a economia – potencialidades do município e região” foi o mote da intervenção a que seguiu um debate com questões dos participantes. Na perspetiva de Nogueira Leite, Aveiro tem de “continuar a assegurar boas infraestruturas, que facilitem o desenvolvimento” mas “precisa de focar-se mais nas pessoas e na melhoria da qualidade das instituições, mesmo aquelas que já têm revelado excelência”.
“Fazer obras é muito mais fácil do que criar uma superestrutura e envolvente em que se obtenha coletivamente o melhor de cada um nas suas atividades. Temos de potenciar os excelentes recursos humanos, organizacionais e das instituições da região ,que podem produzir mais do que temos sido capazes coletivamente de gerar”, referiu o antigo presidente da Assembleia Municipal de Aveiro, que cumpriu o mandato entre 2013 e 2017 eleito pela coligação PSD-CDS.
Nas áreas de crescimento que Aveiro pode aproveitar, destacou em primeiro lugar o sector da saúde, “que vai ser mais importante nas próximas décadas, sendo já central”, mas que “pode dar um salto grande”.
A cidade poderia transformar-se “num dos centros importantes na área das biotecnologias e das ciências da saúde, com reflexos na prestação de cuidados de saúde”. O que pode ser “uma alavanca para ter mais valências e estruturas para a população”. Um projeto que “está a ser trabalhado” (Centro Académico Clínico, ampliação do hospital), mas precisa de ser acarinhado e desenvolvido, aproveitando a proximidade da Universidade de Aveiro. Deveria haver uma base institucional que promova um relacionamento muito maior,”, aconselhou Nogueira Leite que trabalhou como gestor da José de Mello Saúde (CUF).
O cluster tecnológico de Aveiro foi também referido, com oportunidades novas na ‘digitalização’ que surgem inclusivamente em apoios a atribuir no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “De certeza que as empresas vão estar muito ativas, é uma boa altura para desenvolver capacidades”, disse.
Já na indústria mais tradicional, deu o exemplo da cerâmica, pela importância que tem na região, que poderá continuar a aproveitar “o que de bom tem feito nos últimos anos”.
“Ambiente para inovação não é construir grandes edifícios para meter investigadores”
Para Nogueira Leite, Aveiro precisa, contudo, de “criar os elementos para que as várias iniciativas possam passar de potencial a realidade. A pegar nas dinâmicas que já temos e a potenciá-las”.
“Temos as valências certas para sermos um player mais importante nos próximos 10 anos do que fomos nos últimos 10 ou 20 anos”, enfatizou, deixando também alguns “desafios” nesse sentido.
O economista entende que “Aveiro precisa de instrumentos” para tirar partido das suas capacidades, recomendando que sejam analisados “os sucessos” em duas cidades: uma autarquia do PSD (Braga) e outra do PS (Lisboa), que foram apontadas como “exemplos a seguir” na atração de investimento privado, através de entidades locais a que os respetivos municípios surgem associados.
“Aveiro tem atraído investimento, mas Braga atrai muito mais através da sua entidade, que faz um ‘showcase’ internacional, ajuda a atrair mais riqueza”, referiu.
“Não é edifícios, um parque de ciência, são pessoas que sabem fazer e conseguem ter resultados”, sublinhou Nogueira Leite destacando ainda Lisboa, que “tornou-se um ponto importante no ecossistema de inovação privado na Europa, por muitos factores, mas devido também à persistência da política pública local de ampliar os aceleradores de instituições e empresas, assumindo um papel importante”.
“Aveiro tem de olhar para isto hoje em dia, precisa de criar ambiente para inovação. Não é construir grandes edifícios para meter investigadores. Mais importante é criar ambiente, pessoas, processos e metodologias que façam com que as coisas se possam concretizar. É o tipo de instituições importantes para tirar o máximo de potencial do que a região tem”, defendeu.
Discurso direto
“Aveiro tem imenso potencial. Se tivermos boas políticas públicas, boas instituições e entrosamento, poderemos retirar muito mais para a região e para nós próprios. Aproveitaremos melhor, com mais capacidade, para o fazer de uma forma concertada, organizada e planeada”;
“Nas grandes questões é preciso um amplo consenso, há problemas que se forem bem resolvidos beneficiam todos. Uma postura mais colaborante dá mais e melhores resultados do que o homem ou mulher providencial. Nas grandes questões é preciso um amplo consenso”.