Neste Natal sejamos guardiões uns dos outros!

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Presépio comunitário, Vale de Cambra (2022).

Chegou Dezembro e com Dezembro chega o Natal e com o Natal acentua-se a angústia da solidão, do isolamento social que, não sendo inexistente no resto do ano, nesta época embrenha-se em muitos de nós com outra intensidade.

Rosa Aparício *

Cada vez mais existem pessoas a viverem sozinhas, particularmente idosos, mas viver sozinho no Natal, num período em que a magia da reunião familiar simboliza o expoente máxima desta época, e saber que para muitas pessoas não passará apenas de mais um dia, deve obrigar-nos a uma profunda e seria reflexão.

Na verdade, a solidão não tem de ser uma inevitabilidade da velhice, mas acontecimentos que vamos vivenciando à medida que envelhecemos como é o luto, a doença, a diminuição de mobilidade e a diminuição das capacidades psíquicas, potenciam o isolamento e a solidão.

Igualmente, não deixa de ser uma realidade que muitos idosos, com receio que os seus familiares os vejam como um fardo, escondam os seus sentimentos de tristeza e de solidão e aleguem que preferem passar essa época no recanto das “suas casinhas”.

Indubitavelmente, o Natal tem a magia de evocar em nós sentimentos muito fortes, como são as lembranças das vivências natalícias da nossa infância mas, em paralelo, também nos traz à memória recordações dos nossos entes queridos que já partiram e isso provoca em nós, sentimentos dolorosos de angústia e de tristeza.

Contudo, estar só não tem de ser obrigatoriamente um estádio de solidão. Quantas vezes não desejamos, e precisamos, de uns momentos só para nós, de estarmos sozinhos. Efetivamente, de vez em quando temos vontade de nos encontrar interiormente, de vivermos momentos só nossos, mas não podemos ignorar que se trata de um desejo momentâneo, pontual, e não de um padrão repetitivo e contínuo.

Certamente que já nos aconteceu a todos estar num local com muitas pessoas e sentirmo-nos sozinhos. A verdade é que precisamos de pessoas à nossa volta, não pela sua presença mas pela sua compreensão, pela sua dedicação, pelo seu amor e pelo que se importam connosco.

As pessoas sozinhas refugiam-se na solidão e deixam-se invadir por sentimentos de tristeza. E, a solidão não sendo uma ferida física dói, chegando a ser uma dor muito mais letal que uma dor física e, naturalmente, no Natal esta dor é muito mais desgastante por isso mesmo, por ser Natal.

De facto, as pessoas ficam com o humor mais depressivo sentindo-se mais tristes, tristeza essa que arrasta outras emoções ou sentimentos como a desvalorização, a baixa auto-estima, a deceção, o desleixo e, em alguns casos mais extemos, o desinteresse pela vida.

Perante este cenário só existe um caminho, promover a interacção entre as pessoas, sejam elas família, amigos ou vizinhos, como alavanca para reverter esta carga de negatividade

Por tudo isto, sejamos guardiões uns dos outros porque, por vezes, só nos apercebemos da solidão e da tristeza de algumas pessoas quando nada já há a fazer. E, nessa altura de nada valerá a pena dizer “como não me apercebi”

Um Feliz Natal com muito calor humano!

* Assistente Tecnica Especialista na empresa Centro Hospitalar do Baixo Vouga.

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