Um septuagenário negou ter esfaqueado mortalmente o vizinho de 38 anos durante uma discussão nas escadas do prédio com quartos alugados pela Segurança Social onde residiam na cidade de Aveiro, a 30 de julho do ano passado. “Tenho a firme certeza que não fui eu, alguém foi”, disse após ser questionado pela Procuradora do Ministério Público.
No início do julgamento que está a decorrer no Tribunal de Aveiro, esta segunda-feira, o homem, reformado da manutenção dos caminhos de ferro, assumiu apenas “umas bofetadas e empurrões”, alegando que deixou o falecido “desmaiado” junto à porta do seu apartamento, no primeiro andar, após cair e bater com a cabeça.
Segundo explicou, já de noite, no prédio da Rua do Príncipe Perfeito, terá ido ao encontro da ex-companheira, quando esta gritava ao ser agredida pelo vizinho, residente no segundo andar.
“Eu não tinha nenhuma faca ou navalha”
“Estava no meu quarto, ela chamou-me quanto ele estava a bater-lhe. Cheguei ao pé dele, dei-lhe umas estaladas e um empurrão, ficou sentado. Levantou-se e deu-me um chapadão quando eu estava de costas. Dei-lhe o segundo empurrão e bateu com a cabeça numa quina junto à entrada do meu apartamento”, relatou, afastando, no entanto, agressões com objeto cortante. “Não tinha faca nenhum comigo”, garantiu.
“Há uma semana que ele andava embirrar com a ela por causa dos assados que fazia na varanda, mandava água. Andava sempre nisto. Dei-lhe o segundo empurrão e fui para o meu quarto.
Ouvi dizer que tinha sido esfaqueado, mas eu não tinha nenhuma faca ou navalha. Ao segundo empurrão ficou desmaiado”, insistiu, negando a autoria dos golpes no torax e pescoço que causariam a morte do homem. “Ela metia-se na pinga e ele na passa, andavam sempre a embirrar um com o outro”, referiu.
A faca, segundo relatou, seria da ex-companheira, que a usaria para cozinhar e guardava no quarto dela.”Quando vi a faca estava ao lado do corpo. Usou-a para amanhar o peixe que estava a assar na varanda”, disse.
A Polícia Judiciária, na inspeção feita no local após conhecimento da ocorrência, encontrou sangue da vítima no pé esquerdo do arguido de 73 anos.
Segundo a acusação, o septuagenário e o vizinho não tinham boas relações. Após a discussão com o residente no segundo andar, o mais velho terá aguardado que o falecido voltasse de costas e desferiu um golpe no torax. Já com a vítima caída, esfaqueou pela segunda vez ao nível do pescoço. O arguido terá regressado ao apartamento, trocou de roupa e ordenou à suposta ex-companheira que limpasse a navalha.
Mulher diz que só lavou faca ensanguentada
Já a mulher que dividia o apartamento com o arguido negou que mantivessem relacionamento íntimo. Confirmou que o falecido lhe deu uma bofetada, quando subiu ao seu apartamento procurar uma amiga. Regressaria ao quarto, onde se manteve.
Quanto à navalha, disse que era do arguido e não a usou para amanhar peixe naquele dia, ou sequer que tivesse estado a grelhar o jantar na varanda.
Pegou na navalha quando o colega de apartamento lha entregou para “lavar”, o que faria na casa de banho. “Estava toda cheia de sangue”, referiu, acrescentando desconhecer a existência de mau relacionamento entre os dois homens.
(em atualização)