Nascemos escritores ou aprendemos a escrever?

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Feira do Livro de Aveiro (Arquivo).
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Costuma dizer-se que ler é por prazer. E escrever? No grupo “ProTextos” consideramos que há modos de trabalho em sala de aula que têm melhores hipóteses de contribuir para os alunos redescobrirem o prazer de escrever na escola. Muitas vezes esse prazer existe, mas associado somente a escritas livres, que a escola ignora. Porém, é possível trabalhar (com) a escrita na escola, aliando-lhe mais prazer, advindo também da confiança que o maior saber confere.

Por Lúcia Gomes Lemos, Rosa Lídia Coimbra e Inês Cardoso *

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Nesta comunidade de aprendizagem, professores/investigadores de todos os níveis de ensino, superior e não superior, dedicam-se ao ensino da língua, mormente da produção escrita, a favor dos textos e dos sujeitos que os escrevem.

Quando escrevemos por obrigação, é costume recearmos não saber adequar o discurso à situação comunicativa. No ProTextos estamos muito conscientes destes aspetos do contexto social em que o texto vai ser produzido e lido e das variáveis que condicionam a sua produção. Assim, para ensinar a escrever géneros textuais diversos, um dos dispositivos didáticos que preferimos são as “sequências de ensino”. Em geral, incluem uma versão inicial e todo um processo de ensino-aprendizagem, que se ancora nos conhecimentos prévios dos jovens, até à versão final. Temos conseguido, pois, aferir a evolução patente nos textos.

Uma dessas experiências de ensino, no âmbito de um programa de doutoramento, foi um projeto cujo objetivo era ensinar a escrever o texto de opinião no 9.º ano. Desde cedo já estamos a argumentar: um bebé que tem fome e chora está a argumentar. Todos já teremos testemunhado a capacidade argumentativa de crianças a procurarem convencer-nos de algo. Do oral ao escrito vai, porém, um caminho longo que a escola deve mediar, neste caso, para escrever um texto de opinião.

Começámos por criar condições para que os nossos alunos trouxessem para a sala de aula as suas vivências, preocupações sobre o mundo ao redor. Isto deu azo a pesquisas, reflexões, discussões. Fontes de informação variadas e outros textos de opinião que serviam de “textos mentores” foram alguns dos materiais usados. Estes textos circulam em meios acessíveis – revistas e jornais. Os temas atuais são múltiplos: saúde, ambiente, política, economia, finanças, justiça, preocupação com o futuro, envelhecimento, tecnologia, inteligência artificial…

Quem não conhece os textos de opinião do Ricardo Araújo Pereira? Selecionámos um que analisámos como “texto mentor”, desconstruindo-o para os alunos se aperceberem das estratégias argumentativas. O texto de opinião apresenta-se, assim, como um terreno fértil para trabalhar temas da atualidade, desenvolvendo o raciocínio crítico e criativo. Os alunos tiveram, então, a oportunidade de “escrever como sabiam”, de se informar, de debater, de reescrever. Mas tudo isto a partir de textos mentores, de referências e de uma maior consciência de estratégias argumentativas e do seu efeito.

Grosso modo, o texto de opinião é um género que mobiliza a argumentação para analisar, avaliar e responder a questões controversas. Não precisamos de mais argumentos para a importância de darmos aos nossos jovens estas oportunidades de leitura e de escrita que, eventualmente, se traduzirão em participação na vida comunitária.

Nunca serão, contudo, de mais os argumentos “pró” textos, em prol da escrita em aula, num caminho como o que advogamos e que conduz ao aperfeiçoamento desta habilidade argumentativa. Só temos de ter oportunidades para aprender a escrever e a estar no mundo global.

https://protextos.web.ua.pt/

* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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