“Não vamos resolver o problema da desertificação, mas estamos a conseguir minimizá-lo”, João Carlos Silva (ADRIMAG)

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Aldeia de Lomba, Vale de Cambra (Foto partilhada por João Monge).
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A caminho dos 35 anos de atividade, a ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das serras de Montemuro, Arada e Gralheira aprovou a ‘Estratégia de Desenvolvimento Local do Território Montanhas Mágicas 2030’ para dar ‘novo fôlego’ ao desenvolvimento do território e fixação da população nos concelhos associados (Arouca, Cinfães, Castelo de Paiva, Castro Daire, Vale de Cambra, Sever do Vouga e São Pedro Sul). Mote para uma entrevista com o coordenador da ADRIMAG, João Carlos Silva, que também destaca uma das iniciativas de 2024 que terá maior visibilidade na promoção do turismo de natureza, no caso duas provas na ‘Grande Rota das Montanhas Mágicas’, uma delas exclusiva para BTT’s elétricas.

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A ADRIMAG já leva mais de três décadas de atividade. Quer-nos recordar como foram dados os primeiros passos.

A ADRIMAG surge em 1991 por um conjunto de 11 privados, que nada tinham a ver com as autarquias, que se juntaram, porque à época havia um programa de iniciativa comunitária chamado Programa Leader, que mais tarde veio ser integrado naquilo que nós podemos chamar o mainstreaming dos fundos comunitários de desenvolvimento rural.
Em 1993, 94, os municípios também aderem e hoje tem 52 associados, se não me falha a memória, das mais diversas áreas, maioritariamente privados, por exemplo Caixa de Crédito Agrícola, associações, coletividades, grupos etnográficos, grupos de teatro e IPSS, entre outros. Digamos que são aquilo que eu chamo ‘a nossa base’. Como trabalham cá, também são estas entidades que pensam este território em termos daquilo que pode ser o desenvolvimento do mesmo, porque ninguém melhor do que as pessoas que trabalham em determinado local sabem o que é melhor para esse mesmo território. Se o pensarem como tal, conseguem, efetivamente, numa abordagem de baixo para cima, procurar depois aquilo que lhes pode efetivamente ser útil em termos de futuro.

Um percurso com muitas iniciativas com um denominador comum: combater a desertificação e a desigualdade para o litoral.

Quando nós olhamos para o interior do nosso país e vemos que o interior está cada vez mais a a ficar mais desertificado, isto tem a ver em primeiro com falta de postos de trabalho, de empresas, de serviços. Tudo isto faz com que as pessoas procurem outro local, para terem trabalho, para terem condições de residência, para terem acesso à cultura, a serviços de saúde, etc.
Os que trabalham cá e que vivem cá é que vão sugerindo as necessidades e aquilo que pode criar os tais postos de trabalho que podem fixar mais algumas pessoas, porque se nós olharmos para o nosso território temos já um conjunto de empresas, embora pequeninas, que se foram lançando nestas iniciativas, por exemplo de turismo ativo, alojamento, animação turística, e que foram surgindo em torno, obviamente, dos investimentos pensados e financiados. Qual é, afinal, a missão da ADRIMAG ? É procurar ir ao encontro daquilo que é definido pelas pessoas, pela nossa Assembleia Geral, pelos nossos associados, que vão dizendo o que querem. Uma aposta no turismo, numa marca turística, as ‘Montanhas Mágicas’, que está a fazer o seu caminho e, obviamente, depois também um trabalho estreito, com as autarquias locais. Surgem uns passadiços no Paiva, uma ponte suspensa, outras iniciativas aqui no território que fazem com que consigamos chamar pessoas e também chamar investimento, porque neste momento, por exemplo, em Arouca, estão em construção dois hotéis. Há uma razão para isso. E, sabendo que os empresários normalmente são cautelosos nos investimentos que fazem, é porque eles veem que no território há capacidade.
A mesma coisa está a acontecer, por exemplo, em São Pedro do Sul, onde a capacidade já existia devido ao fenómeno das termas, mas começa a surgir no território, cada vez mais, um novo tipo de turista que não procura só as termas e os tratamentos médicos que pode fazer, mas procura neste momento a serra e todas as atividades ligadas ao ar livre na serra.
Surgiram os passadiços, depois passados uns anos a ‘Rota da Água e da Pedra’, veio a ponte suspensa, agora a ‘Grande Rota das Montanhas Mágicas’. Isto foi surgindo à medida que fomos fazendo esses investimentos e vamos chamando outro tipo de turistas. A nossa preocupação é irmos acrescentando todos os anos algo de novo que possa atrair novos ou os mesmos turistas para que voltem. E o trabalho que temos realizado é um trabalho de conjunto, naquilo que nós chamamos o ‘Fórum das Montanhas Mágicas’, com parceiros, técnicos, autarquias, empresas, etc., todos vão dando ideias e estão envolvidos.

Rota da Água e da Pedra das ‘Montanhas Mágicas’

O território está mais capacitado ao fim de mais de 30 anos ? Neste trabalho certamente surgiram empresas,  equipamentos, infraestruturas. O território parece que está a responder bem à procura, as pessoas visitam  e se voltam é porque se sentiram bem. Foi criando aqui uma massa crítica capaz de responder a toda esta atividade ?

Sim, sem dúvida nenhuma. Eu enquanto estudante da Universidade de Aveiro, na área de planeamento, aquilo que me foi dito é que não há processos de desenvolvimento rápidos, os processos de desenvolvimento territorial são sempre lentos. Tivemos sempre altos e baixos, até, digamos, encontrarmos este rumo na área de turismo de há 15 anos para cá, sensivelmente. Temos orientado toda a nossa estratégia no sentido de desenvolver e promover também o território, para que as pessoas se sintam bem.
A verdade é que há alguns anos atrás já as pessoas vinham à Serra da Freita, por exemplo, da zona do litoral, de Aveiro ao Porto, toda a zona ribeirinha, chamemos-lhe assim, vinham à Serra da Freita, passavam o sábado, ou um domingo, não é? Traziam a família ou o farnel, a família juntava-se na Serra da Freita, faziam o seu percurso. Mas não passava disso. Hoje não. Hoje nós temos na Serra da Freita um Radar Meteorológico que deixa cá algum dinheiro. Nós hoje temos na Serra da Freita algo que tem milhões de anos, mas hoje deixa cá dinheiro, que são, por exemplo, as pedras parideiras. Hoje tem um centro de interpretação para as pessoas poderem perceber o que são as pedras parideiras. Inclusivamente, há um doce pedras parideiras. Hoje já há do lado de Vale de Câmbra o Centro de Interpretação da Serra da Freita que as pessoas podem visitar. Ou seja, há motivos para as pessoas virem, visitarem, pernoitarem, almoçarem, jantarem, etc. Hoje em dia já começam a vir por outras razões e temos de prestar serviço de qualidade que os possa motivar.

Cada município também foi tendo, apesar de estar associado, as suas marcas, as suas iniciativas. Como é que compatibiliza a necessidade de todos remarem para o mesmo lado, sendo que cada autarca, cada município tem também de tratar dos seus?

Nós temos que respeitar sempre cada um dos municípios, porque tem a sua realidade própria. Mas há aqui uma curiosidade na ADRIMAG e no seu território, que é o de não respeitarmos as barreiras administrativas.
Qualquer pessoa que visita a Serra da Freita, quando está nas pedras parideiras, saberá que está no concelho de Arouca, mas se andar um quilómetro para o Centro de Interpretação da Freita, está em Vale de Cambra… O que não é divisível é, efetivamente, o território, a paisagem. Temos que respeitar e honrar cada um dos concelhos, mas estão todos motivados no sentido de agregar qualidade, motivos para trazermos as pessoas. Neste momento, a direção da ADRIMAG é constituída exclusivamente por Câmaras municipais.

Discurso direto

“Eu diria que neste momento estão a começar a florir, até colhermos os frutos e ainda vai demorar algum tempo” – João Carlos Pinho, coordenador da ADRIMAG sobre os projetos lançados ao longo do tempo (mais declarações na gravação streaming).

A ADRIMAG aprovou a nova estratégia de desenvolvimento, para o Portugal 2030, que tem a ver com os novos fundos comunitários, portanto querem continuar o trabalho dos projetos para o desenvolvimento do território e fixar a população. Não se ressuscitaram aldeias já sem população, como a emblemática Drave, mas sintomaticamente ela ganhou uma nova vida graças a quem ali passa todos os dias.

Exatamente. É preciso mais esta viagem. É muito difícil nós conseguirmos estancar, é muito difícil, quase impossível, estancarmos a sangria a que o território tem sido sujeito, começou com os destinos de emigração. E obviamente este território está a pagar um preço elevado disso. No entanto, estamos a conseguir minimizar o impacto, começam a surgir pequenas empresas lideradas por jovens, pessoas com menos 35 anos. Empresas de animação turística que conseguem ver no território motivos para criarem o seu negócio, para se lançarem numa iniciativa, para comparem viaturas para transporte, para investirem em equipamento para receber turistas, ou até em casas de turismo em espaço rural. Jovens que decidem recuperar o património que herdaram, por exemplo para novas atividades.
É sinal que há motivação para eles ganharem dinheiro aqui, para criarem equipas, postos de trabalho. Surgiram no território diversas empresas de animação turística, empresas de alojamento turístico, de restauração, lideradas por jovens, e isto é sintomático. Agora, se vamos conseguir ultrapassar o problema … É difícil. No nosso território, aquilo que nós estamos a apostar, é, efetivamente, numa área que pode trazer dinheiro ao território e, com isso, criar pequenos negócios e fixar alguns jovens. E, em muitos casos, acho que já estamos a conseguir, não vamos resolver o problema da desertificação, mas estamos a conseguir minimizá-lo. Se for ver a nossa estratégia aquando do Portugal 2020 e a estratégia agora do 2030 tem pouquíssimas alterações. Não andamos a inventar a estratégia só porque há um quadro comunitário diferente, um novo envelope financeiro. A estratégia foi definida há uns anos atrás, em torno do conceito ‘Montanhas Mágicas’ e fomos focando sempre nisso. Claro que vamos fazendo alguns ajustes em função do quadro comunitário novo.

‘Montanhas Mágicas – eMTB Grand Tour 2024’

A primeira edição da prova de BTT ‘Montanhas Mágicas – eMTB Grand Tour 2024’, de 18 a 20 de outubro deste ano, poderá ser disputada em duas modalidades: o ‘Grand Tour’, que ocupa os três dias do evento, a fazer a grande travessia das ‘Montanhas Mágicas’ (280 Km’s) dividida em 14 etapas, reservada a bicicletas com assistência elétrica e número limite de participantes (50); e o ‘Short Tour’, a 20 de outubro, no loop sudoeste da GR60, num total de 62 km’s, em duas etapas, e uma variante, a GR60.1 (aberto a utilizadores de bicicletas BTT convencionais ou com assistência elétrica, tendo um limite máximo de 300 participantes).

Discurso direto

O objetivo aqui é promovermos a grande rota GR60 após dois anos desde o lançamento, que está homologada pela Federação Portuguesa de Ciclismo, que é o nosso parceiro neste projeto desde o início” – João Carlos Pinho, coordenador da ADRIMAG (mais declarações sobre ‘Montanhas Mágicas – eMTB Grand Tour 2024’ na gravação streaming).

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ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento Local

Com sede em Arouca, a ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento Rural das Serras de Montemuro, Arada e Gralheira, é uma ADL – Associação de Desenvolvimento Local, que se dedica, há mais de 30 anos, à gestão e implementação de programas comunitários e nacionais, tendo por fim defender o património endógeno; desenvolver e incentivar o turismo rural; empreender e apoiar iniciativas culturais; dar suporte às atividades artesanais e etnográficas; ajudar o escoamento de produtos endógenos; contribuir para a animação do espaço rural; promover a formação profissional e desenvolver contactos com organismos e entidades que atuam nas áreas de interesse.

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