Mulher nega que tivesse ateado fogo a casa para matar ex companheiro por não querer manter relação

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Tribunal de Aveiro.
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Uma mulher de 50 anos disse estar “muito arrependida” de ter ateado fogo à casa do seu antigo companheiro, em Pardilhó, concelho de Estarreja, num caso que terá sido motivado por razões passionais, mas negou que a intenção fosse matar o homem.

A arguida, divorciada, que está em prisão preventiva, começou a ser julgada, esta manhã, no Tribunal de Aveiro, por crimes de homicídio na forma tentada e incêndio.

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Os factos em causa remontam  a 3 de agosto agosto de 2021. Segundo a acusação do Ministério Público (MP), a mulher, residente em Esmoriz, que até ser detida trabalhava numa serração, ficou insatisfeita com a decisão do ex companheiro de colocar um fim definitivo à relação  e decidiu vingar-se. Assim, sabendo das rotinas domésticas do ex companheiro, ‘regou’ com gasolina trazida de Esmoriz numa garrafa de plástico uma porta e uma janela de um dos quartos da casa, ateando fogo. O homem, contudo, apercebeu-se do cheiro a combustível e conseguiu apagar as chamas sem consequências de maior.

O casal juntou-se em 2018, numa relação que prolongou-se durante dois anos até à separação. “Sempre continuámos a falar e depois tornámos a estar juntos. Ele não gostava que eu andasse atrás dele, a vigiá-lo, eu fazia-o”, assumiu, adiantando que foi agredida pelo homem no dia em que terá sido obrigada a deixar a casa de Pardilhó. Atribuiu como outra razão para o afastamento, a senhoria, por não a querer a viver lá.

Em resposta a perguntas da juíza presidente, a arguida assumiu a autoria do incêndio, mas negou que pretendesse tirar a vida ao ex companheiro, tanto mais, porque, assegurou, o mesmo estava ausente de casa, num café no centro da vila de Avanca. “Tenho a certeza que ele não estava lá dentro”, disse, adiantando que deslocou-se a pé ao centro da localidade vizinha, onde viu a motorizada ‘acelera’ do homem estacionada. Depois regressou a Pardilhó, onde lançou fogo à casa. “Não pus a gasolina toda”, ressalvou, garantindo que não ateou chamas à janela do quarto onde o casal tinha por hábito dormir. Depois afastou-se e caminhou até Avanca, novamente, mas para apanhar o “último comboio” com destino a Esmoriz. “Eu nesse dia não estava bem, foi assim, no momento. Tomava medicação pela depressão, às vezes não tinha dinheiro para isso”, contou, adiantando que no dia dos factos pensou suicidar-se.

A Procuradora do MP confrontou a arguida com a possibilidade do ex companheiro ter regressado a casa naquela noite do café de Avanca antes da arguida, que estava a pé.

“Eu tinha bebido. Era para pregar um susto, para ele ficar na rua como eu fiquei… A ver se a senhoria o mandava de lá para fora. Tudo o que lá tinha, sem ser os móveis, era meu, os lençóis, as louças”, disse.

A Polícia Judiciária juntou ao processo mensagens de telemóvel, em que a arguida conversava com o irmão do ofendido, fazendo ameaças em tom de vingança.

“Estou muito arrependida”, declarou a mulher em resposta à advogada de defesa reportando-se à noite em que ateou fogo.

A relação com o ex marido também foi conturbada, tendo o casal sido sinalizado por violência doméstica, motivando medidas de proteção que levaram à institucionalização dos três filhos (atualmente de 19, 15 anos e 13 anos).

“Se não apagasse com baldes de água, aquilo ardia tudo” – ofendido

Nas declarações em tribunal, o ofendido contou que estava em casa, no sofá, há pouco mais de meia hora depois de regressar do café em Avanca, quando foi ateado fogo. Só nos dias seguintes, através de mensagens reenviadas pelo irmão, “juntou tudo” e percebeu de tinha sido a autora. “Ela incriminou-se no que escreveu”, referiu.

“Se não apagasse com o balde de água, aquilo ardia tudo. A porta continuou a arder, veio a senhoria ajudar”, recordou o ex companheiro da arguida, acusando-a de resistir sempre ao fim definitivo da relação. “Mandava sms ou tentava ligar. Eu queria que me deixasse em paz, dizia-lhe que tinha acabado, que devia seguir o seu caminho. Ela insistia, que me amava, que me queria”, contou,  confirmando que a mulher, na última fase do relacionamento, estava na casa às escondidas da senhoria, porque ambas tinham tido “desentendimentos” e ele corria o risco de ser “posto fora”.

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