É uma má prática colocar a circulação de bicicletas entre a via de tráfego automóvel e o espaço para o seu estacionamento.
A propósito das recentes declarações do Presidente da Câmara Municipal de Aveiro ao Jornal Público sobre o projecto para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho e as condições para a circulação de bicicleta, lembramos que, ao contrário do que afirmou, não houve ainda qualquer discussão pública relativa a este projecto.
Houve, sim, apenas uma sessão de apresentação do PEDUCA – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Aveiro, em 17 de Março de 2018, que contou com a participação de cerca de 200 cidadãos, tendo muitos deles manifestado as suas preocupações e descontentamento para com o que foi apresentado sobre a intervenção para a Avenida Dr. Lourenço Peixinho, com especial ênfase na ausência de vias dedicadas para bicicleta e na proposta de via partilhada entre veículos de transporte público e bicicletas, tal como foi, aliás, amplamente destacado pela imprensa local e nacional:
A bicicleta é um veículo universal, usada por pessoas com diferentes condições físicas e níveis de experiência e de todas as faixas etárias, desde crianças a idosos. Não se está a promover o seu uso e uma alternativa à utilização e presença excessiva do automóvel na cidade, ao obrigar os utilizadores de bicicleta a partilhar uma via com veículos pesados. Esta situação constitui um desincentivo à utilização da bicicleta na Avenida Dr. Lourenço Peixinho, especialmente entre potenciais novos utilizadores, para quem a pressão do tráfego motorizado e a insegurança rodoviária, efectiva e percepcionada, são factores particularmente críticos.
O princípio da homogeneidade de massa e velocidade dos utilizadores da estrada, um dos cincos pilares da estratégia de segurança sustentável6, não é respeitado por este projecto, pois existem diferenças significativas entre a massa e velocidade dos veículos que partilham o mesmo espaço na faixa de rodagem.
Os manuais internacionais para o desenvolvimento de infraestrutura ciclável referem explicitamente que as soluções de vias reservadas a veículos de transporte público partilhadas com velocípedes (corredores bus & bici) não são aconselhadas sob o ponto de vista da segurança e conforto dos utilizadores de bicicleta, existindo vários estudos científicos que demonstram os inconvenientes desta solução
A cidade de Dublin, por exemplo, tem em curso o projecto BusConnects11 em que um dos propósitos é precisamente segregar totalmente a infraestrutura ciclável dos corredores BUS, através da implementação de mais de 200 kms de ciclovias dedicadas, de modo a evitar a partilha entre estes dois tipos de tráfego tão distintos e eliminar os inevitáveis conflitos entre autocarros, táxis, trotinetes e velocípedes.
Isto é ainda mais relevante tendo em conta que os condutores de velocípedes exibem frequências respiratórias 2 a 5 vezes mais elevadas que os condutores e passageiros de veículos motorizados e que a concentração de gases e partículas prejudiciais à saúde humana (nomeadamente de NO2) é cerca de 60% maior em corredores bus & bici do que em ciclovias segregadas.
A bibliografia de referência sobre a matéria é também clara ao documentar que, e porque, é uma má prática colocar a circulação de bicicletas entre a via de tráfego automóvel e o espaço para o seu estacionamento.
Isto é especialmente preocupante numa altura em que se exigem aos municípios responsabilidades no combate à sinistralidade rodoviária e medidas concretas e efectivas de redução do risco rodoviário, em especial sobre os utilizadores vulneráveis.
MUBi exige discussao Avenida – Consultar versão do artigo completa
Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta | Secção Local de Aveiro