Monocultura de Eucaliptos, Incêndios e Interesses Económicos

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A floresta portuguesa, outrora diversa e rica em espécies autóctones, tem vindo a ser progressivamente substituída por extensas plantações de eucalipto, uma árvore exótica de rápido crescimento, mas também de alto risco quando falamos de incêndios.

Por Diogo Fernandes Sousa *

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Esta aposta contínua na monocultura do eucalipto, impulsionada por interesses económicos ligados ao setor das celuloses, tem-se revelado desastrosa para o equilíbrio do território e a segurança das populações.

Portugal, em particular a sua região Centro, tem sido ciclicamente devastado por incêndios florestais de proporções alarmantes. O problema, como muitos especialistas têm vindo a alertar, não reside apenas nas condições climatéricas, como ondas de calor e ventos fortes, mas também numa gestão florestal que privilegia o lucro imediato em detrimento da sustentabilidade a longo prazo.

O eucalipto, apesar de ser altamente rentável para a indústria de papel e celulose, não oferece a mesma resiliência que as espécies autóctones, como o sobreiro, o carvalho ou o pinheiro-manso. Estas árvores, além de terem um impacto mais positivo na biodiversidade e no ecossistema, são naturalmente mais resistentes ao fogo.

No entanto, é precisamente essa resistência ao fogo e a promoção de uma floresta mais diversa que parece ser continuamente ignorada. Os interesses económicos que estão por detrás da venda da madeira de eucalipto prevalecem, levando à perpetuação de uma monocultura que, em vez de mitigar os riscos, acaba por ampliá-los.

Não podemos desconsiderar que o mercado de eucalipto movimenta milhares de pequenos e grandes produtores, mas o que está em causa não é apenas o lucro imediato de uns poucos, é a segurança e proteção de todos.

As monoculturas de eucalipto, pela sua densidade e pelo comportamento desta espécie, funcionam como autênticas bombas-relógio. Quando o calor aperta e o vento sopra, estas florestas tornam-se numa catástrofe à espera de acontecer. Ao contrário das espécies autóctones, que conseguem retardar a propagação das chamas, os eucaliptos libertam óleos altamente inflamáveis que aceleram o fogo e tornam o seu controlo muito mais difícil. Além disso, as grandes manchas contínuas de eucalipto contribuem para a degradação do solo, comprometendo o futuro do território.

Face a isto, a questão que se impõe é até quando continuará a ser permitida esta aposta cega no eucaliptal? Até quando os interesses económicos se sobrepõem ao bem-estar das populações e à preservação do nosso território?

A falta de vontade política para mudar este paradigma é evidente, como demonstram várias propostas de reordenamento florestal que são engavetadas ou ignoradas. A implementação de medidas para reduzir a área de eucalipto e promover o regresso de espécies autóctones tem sido travada por lobbies poderosos que continuam a influenciar a política florestal.

A aposta no eucalipto, em detrimento de espécies mais adequadas ao nosso clima e ecossistema, não pode continuar a ser vista como uma solução viável. Os incêndios florestais que têm assolado Portugal nas últimas décadas são prova disso mesmo. A mudança é urgente, e passa por uma gestão florestal que priorize a diversidade, a segurança e o futuro sustentável e resiliente das nossas florestas.

Enquanto o interesse económico imediato continuar a sobrepor-se a estes valores, Portugal continuará a ser vítima das suas próprias escolhas. Não podemos continuar a arder violentamente todos os verões por causa de uma árvore que, apesar de rentável, tem um custo incalculável para o país.

* Docente do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte.

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