Modelo de desenvolvimento local é desafiado a reinventar-se

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Neste acordar do pesadelo da pandemia, que, apesar dos efeitos nefastos, nos obrigou a buscar forças dentro de nós e reforçar os laços que nos ligam enquanto comunidade que partilha um destino, temos oportunidade para idealizar novas soluções, novos estilos, que correspondam melhor aos nossos ideais individuais e coletivos, e aos desafios que se nos deparam.

Por Pedro Braga da Cruz *

Apesar de este ser o primeiro ano de mandato dos órgãos autárquicos saídos das eleições realizadas a 26 de setembro, e porque essa foi a vontade dos eleitores, há uma continuidade no projeto político que dirige o Município.

Aproveito para expressar público agradecimento a todas e a todos que cessaram funções, pelo trabalho desenvolvido em favor da Comunidade, e, se tal me for permitido, realçar os antigos Presidentes de Junta António Bebiano e Jaime Almeida.

Atendendo à continuidade da ação estou em condições de constatar que foi absorvido o impacto da pandemia, graças à vacinação, à descoberta de novos fármacos e, também, à diminuição da agressividade do vírus. No entanto, não poderemos afirmar que o tão ansiado novo normal tenha sido alcançado.
Como tantas vezes sucede, a realidade é caprichosa e à pandemia fez suceder o ressurgimento da inflação, hoje a níveis que só encontramos recuando aos anos 90, e sobreveio, mais recentemente, uma guerra na Europa, que se faz acompanhar das crises energética e alimentar.

Por vezes, vivemos o presente “entre a nostalgia de um passado que nunca existiu e a impaciência com que aguardamos uma manhã enigmática” e assim, tantas vezes, esquecemos de agradecer àqueles que contribuem para melhorar cada dia das nossas vidas, pois é sempre no hoje, no dia de hoje, que podemos concretizar o que quer que seja. O passado já lá vai. O futuro ainda demora.

Nesta sessão, há lugar ao reconhecimento daqueles a quem devemos um contributo positivo para que a nossa Comunidade seja melhor. Eles são a face visível de uma sociedade mobilizada para transformar a realidade em algo melhor, para benefício de todos.

A todos, em nome do Município, agradeço.

Com o passar dos dias as situações difíceis dão lugar a novas situações igualmente difíceis, e dessa forma se manifestam fragilidades, mas também algumas qualidades que se encontravam latentes.

O modelo de sociedade, o modelo de desenvolvimento que perseguimos localmente é desafiado a reinventar-se para se harmonizar com a realidade emergente, que não corresponde a uma qualquer “nova normalidade”.

A pandemia e a guerra puseram a nu debilidades do mundo globalizado à escala universal: bloqueio de cadeias de abastecimento extensas, abuso do poder de mercado pelos produtores de matérias-primas essenciais, sejam estas energéticas, produtos alimentares, ou minerais necessários à indústria dos produtos tecnológicos.

A reação que emerge é uma globalização menos global, se o posso dizer desta maneira, é um sistema de blocos regionais, em que a União Europeia será um bloco política e economicamente mais fechado sobre si mesmo.

Neste contexto iremos assistir a um robustecimento da indústria transformadora europeia, com uma disputa pela captação desses investimentos à escala local. Nesta disputa os melhores serão os que oferecem áreas de localização empresarial bem infraestruturadas, mão de obra versátil e competente, boas comunicações, habitação disponível e a preço que atraia a classe média e os jovens.

Uma outra frente a ter em linha de conta é a ambiental e da qualidade de vida. Não podemos deixar de fazer ouvir a nossa voz para que o Estado, porque é ao Estado que tal compete, para que o Estado proteja de forma eficaz o nosso litoral contra a erosão costeira, mas temos, igualmente, de olhar para as lagunas existentes no nosso território, seja a Ria, seja a Barrinha: são ecossistemas frágeis e sensíveis a exigir uma monitorização permanente e a atempada intervenção, quando tal se justifique. Temos de promover a adoção de modos de transporte suaves nas deslocações de proximidade e continuar o esforço em curso para adaptar os núcleos urbanos para que tal possa ocorrer. É necessário aumentar a consciência, individual e coletiva, de que vivemos num mundo de abundantes recursos, mas ainda assim limitados, e promover os estilos de vida que, mais do que reciclar, apostem numa economia circular, assente na reutilização.

Neste acordar do pesadelo da pandemia, que, apesar dos efeitos nefastos, nos obrigou a buscar forças dentro de nós e reforçar os laços que nos ligam enquanto comunidade que partilha um destino, temos oportunidade para idealizar novas soluções, novos estilos, que correspondam melhor aos nossos ideais individuais e coletivos, e aos desafios que se nos deparam.

Dia do Município é dia de encontro e celebração. Encontro daqueles que partilham um território, tradições e história. Celebração do passado, do que ao longo do tempo em sociedade conseguimos alcançar, e celebração do futuro que já antecipamos. Mas o Dia do Município é principalmente o Hoje, o Hoje em que construímos as cidades que queremos, em suma a Cidade querida!

Viva o Município de Ovar e as suas gentes!

* Presidente da Assembleia Municipal de Ovar. Discurso no sessão solene do Dia da Cidade de Ovar.

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