Provavelmente, já ouviu dizer que o Ensino Profissional não é “bem visto”, que é dirigido àqueles que “não dão para os estudos” ou que é “o fim da linha”. Será mesmo assim? O que origina tais perceções? Quem são, hoje, os estudantes do Ensino Profissional?
Por Ana Traqueia *
Provavelmente, já ouviu dizer que o Ensino Profissional não é “bem visto”, que é dirigido àqueles que “não dão para os estudos” ou que é “o fim da linha”. Será mesmo assim? O que origina tais perceções? Quem são, hoje, os estudantes do Ensino Profissional?
A Sofia pensou que poderia ajudar no supermercado da família, se aprendesse mais sobre gestão. O Paulo, “desatento e pouco empenhado” na infância, é um bom eletricista. Todos acreditavam que a Maria, excelente aluna, iria seguir medicina, como os pais. Não foi fácil enfrentar a surpresa, quando optou pela área do apoio social. Também foi um desafio para o Manuel, que decidiu estudar dança; para a Soraia, que teve de conciliar a maternidade com a vontade de estudar; para o Rashid, programador industrial, que fugiu da guerra no país onde nasceu…
Nomes fictícios, exemplos que ilustram a realidade. O que têm em comum estes jovens? Foram alunos de Cursos Profissionais, oferta formativa em que se têm matriculado cerca de 30% dos estudantes do Ensino Secundário, nos últimos anos. Uns, por opção própria; outros, porque foram encaminhados. Uns, com uma sede imensa de conhecimento prático e direcionado para os seus interesses; outros, para quem a Escola e a Vida foram (ou são), por si só, espaços de resiliência.
Em Portugal, a origem do Ensino Profissional, orientado para o saber-fazer e para o mercado de trabalho, remonta ao Séc. XVIII, com a criação do Ensino Técnico e Profissional. Durante a Revolução Industrial, este expande-se, com o objetivo de satisfazer das necessidades de mão-de-obra, sendo, portanto, dirigido a estudantes oriundos de classes populares urbanas e rurais. Mais tarde, no regime do Estado Novo, é implementada a Reforma do Ensino Técnico-Profissional, Industrial e Comercial. Porém, destaca-se o facto de este sistema permitir uma intencional reduzida mobilidade social e a manutenção da estratificação social. A Revolução de 1974 trouxe a tentativa de democratização do ensino. Em 1989, surgem as primeiras Escolas Profissionais e são criados os Cursos Profissionais, expandidos às escolas secundárias da rede pública, a partir de 2004. Hoje, é inegável o papel que o Ensino Profissional ocupa no sistema educativo português. Contudo, a estigmatização e o preconceito continuam associados a este sistema de ensino.
Qual será, então, o papel da Educação na construção de um futuro digno e com qualidade de vida? Que histórias escutamos nas vozes de jovens que seguiram o seu percurso de vida pelo Ensino Profissional? E será que as mesmas poderão contribuir para uma sociedade mais justa e para a garantia da inclusão social entendida como um Direito Humano?
É assim que surge o projeto de doutoramento “Percursos de In(ex)clusão Social no Ensino Profissional: Rumo a uma proposta socioeducativa com e para os seus protagonistas”, que me encontro a desenvolver, com bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e orientado por Manuela Gonçalves e Rosa Madeira, do DEP/CIDTFF.
* Docente do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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