O périplo prossegue dando a conhecer os antigos Silos das Indústrias Vouga, o antigo jardim de infância de Rocas do Vouga e a desaparecida igreja de São Mamede de Doninhas.
Por Vasco Figueiras *
Antigos Silos das Indústrias Vouga
Percebe-se que estes tubos gigantes serviam para fazer o melhor esparguete. A antiga Fábrica de Massas Alimentícias Vouga deu lugar ao Vouga Park, em Paradela do Vouga.
O Vouga Park possui uma área de acolhimento empresarial, uma incubadora associada à rede da Incubadora de Empresas da Região de Aveiro-IERA e, ainda a Escola Profissional de Aveiro, com a Unidade de Tecnologias, o maior polo da Região de Aveiro, com cerca de 400 alunos, o VougaPark-Centro de Inovação entre outros espaços e/ou atividades.
Sucintamente, as origens desta antiga fábrica remontam aos anos 30, quando Joaquim Martins, aposta na construção do que viria a ser a maior fábrica do seu género na Península Ibérica. Viveram-se várias fases, a unidade foi um caso de sucesso durante largos anos, empregando centenas de trabalhadores das regiões de Aveiro e Viseu. Na década de 70, a fábrica entra em declínio e acaba por fechar portas em 1982.
Hoje, mesmo ao lado do VougaPark ficaram por recuperar os silos cerealíferos das IndústriasVouga. Este edifício foi construído vários anos depois da fábrica estar em laboração, mas ainda hoje impressionam pela dimensão. Qual seria o melhor aproveitamento futuro deste edifício?
Antigo jardim de infância de Rocas do Vouga
Esta foi uma construção que se previa, à partida, como sendo temporária. Por vezes, as obras temporárias tornaram-se perenes no imaginário colectivo. Este é um lugares que reflecte o modo como as construções “efémeras” se estabelecem neste imaginário. Quando entrei neste espaço pensei que não tivesse interesse nesta coleção de fotografias, por ser uma construção pobre, temporária e de baixo valor arquitectónico.
Mas penso que basta navegar nas fotografias para ver o que me cativou. O mobiliário, os livros, os brinquedos, os mapas antigos estavam dispostos como se as crianças tivesses acabado de sair devido a uma tempestade de vento, areia e pó que cobriu toda a sala.
A desaparecida igreja de São Mamede de Doninhas
Esta é uma história caricata em Doninhas, e de um lugar que já não existe:
“Sim, Doninhas teve uma igreja…”.
Isto foi o que tentei explicar a algumas senhoras desta aldeia quando questionado por me verem a tirar várias fotografias junto à capela.
Terá sido onde se encontra hoje a capela de Santo Amaro que existiu a antiga igreja matriz de São Mamede. Pouco se sabe desta igreja, porque parte dos registos perderam-se. Sabe-se que em 1686, devido ao descontentamento da população pela pequena dimensão face a população e estado de conservação da igreja, se iniciou o processo de construção de uma nova igreja.
A questão da localização da nova igreja levou uma luta entre as aldeias de Doninhas, Macida e Póvoa contra as restantes da freguesia, que durou anos. As oponentes conseguiram deslocalizar a igreja para as Talhadas. Durante o século XVIII vários clérigos já alertavam para o abandono, degradação e profanação do lugar onde haveriam sepulturas. Encontravam currais de cabras e estrumeiras a funcionar naquele lugar.
Sabe-se que em 1898 foi mandado plantar um olival no lugar onde já só existia uma parede de uma antiga pequena igreja em ruína segurada apenas pelas heras. Essas pedras terão sido usadas nos muros para terraplanagem do terreno que sustentaria o olival. Nesta altura terá havido uma tentativa de construção de uma capela no mesmo lugar, mas terá ficado incompleta.
Só em 1988 houve um restauro/nova construção. Hoje, pouco se pode encontrar da antiga igreja. Destaque para duas pias um pouco toscas da água benta, uma mais trabalhada em forma mais ou menos octogonal sustentada por uma base. Acredita-se que esta seria a pia baptismal.
Voltando à história das senhoras de Doninhas… Quando estava a tirar estas fotos com o telemóvel, verifico que umas senhoras me fitavam desde o centro da aldeia. Logo que entrei no carro e arranco espanto-me ao ver uma das senhoras a correr na direcção de outra. Ao passar por elas, observavam-me com ar inquisitor. Hesito, mas não paro… mais a frente uma senhora não hesita, pondo-se quase na frente do carro com uma mão no ar.
Tive mesmo de explicar o que tenho andado a fazer, quem sou, de onde venho e a história da antiga igreja. Bem haja a estas senhoras por se preocuparem em salvaguardar o património da nossa terra.
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Trato cada lugar abandonado com o maior respeito na esperança de ser bem recebido, pois só assim conseguirei ter o melhor dele e me divertir. Peço-lhe que se visitar algum lugar abandonado siga as regras, não destrua, não roube, não ao grafiti ordinário, não deixe lixo, porque o universo não se esquece dos nossos actos.
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* O autor dá a conhecer estes e outros locais abandonados em Sever do Vouga em https://www.facebook.com/vasco.figueiras