Locais abandonados ou esquecidos de Sever do Vouga: Escola de Paradela e quintas antigas

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Quinta do Linheiro, Sever do Vouga (Foto de Vasco Figueiras).
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O roteiro por locais históricos esquecidos de Sever do Vouga prossegue pela antiga escola primária de Paradela do Vouga, Quinta do Linheiro, Casa do Morgadio de Santo Antão e Casa e Capela da Senhora das Dores

Por Vasco Figueiras *

Antiga Escola Primária de Paradela do Vouga

Num lugar alto de Paradela, encontra-se esta antiga e pequenina escola primária, também conhecida como Escola das Hortas.

Quantas tabuadas, quantos recreios, orelhas de burro, quantas palmatórias, quantos hinos se cantaram dentro destas paredes?

Antiga Escola Primária de Paradela do Vouga (foto de Vasco Figueiras).

Quinta do Linheiro

No lintel da porta da grande casa está escrito 1774. Neste ano, João Tavares Mendes e a sua esposa Maria João da Fonseca já residiam no Linheiro e eram proprietários desta Quinta, com a sua capela que já recebia culto. Desta casa foram saindo vários notáveis em vária gerações… até que em certa altura D. Helena de Albuquerque Barbosa de Quadros, casada com o Capitão Bernardo Barbosa de Quadros herda a totalidade dos bens do seu tio Dr. José Maria Albuquerque Tavares Lobo que incluíam a Quinta do Linheiro, em Sanfins, e a Casa de Sequeiros, em Silva Escura. Devido à tuberculose de que sofria, o Capitão Bernardo Barbosa de Quadros resolveu vir morar para a Quinta do Linheiro. O casal não tinha filhos e, após a morte D. Helena, o Capitão legou por testamento o seu património no concelho de Sever do Vouga à Junta da Paróquia/Casa do Povo de Rocas do Vouga, acabando por falecer em 7 de Dezembro de 1939.

A Junta de Freguesia na impossibilidade de gerir este legado, arrenda, em 1941, a Quinta do Linheiro à Fundação Bissaya Barreto que lhe deu a designação de Casa de Educação e Trabalho D. Helena de Quadros. Esta Casa recebia entre 17 e 23 meninas carenciadas da freguesia e da região com idades entre 1 e 17 anos, em regime de internato, sobre a orientação de uma Regente e mais tarde de religiosas. Durante este período a Junta da Província do Estado Novo exerceu um controlo apertado sobre a administração e património agro-florestal da Quinta. Em 1956, a Quinta volta à administração da Junta de Freguesia por ter cessado o contrato, segue-se um período de subaproveitamento. Quatro anos mais tarde, no intuito de dar seguimento ao desejo do capitão, que doou o seu património em prol da freguesia, foi criada a Fundação Bernardo Barbosa de Quadros.

A quinta mantém um conjunto de edifícios, alguns modernos em uso e com boas condições para os utentes mas os mais antigos encontram-se abandonados ou usados como armazém. Destaque para o edifício da Casa da Quinta do Linheiro. Nesta casa, encontramos pormenores das várias fases da história da Quinta, atualmente tem mantido um papel importante na agricultura em Sever do Vouga, por exemplo, por ter sido o primeiro local de plantação de mirtilo no concelho de que ainda hoje mantém uma grande produção além de pecuária e florestal.

Muito mais haveria a dizer sobre este lugar, desde o início da produção de lacticínios, os belos postais das sombras do parque, dos campos da eira e canastro. Nesta quinta cresceram as escolas, o Centro de Saúde e o parque desportivo de Rocas do Vouga.

Quinta do Linheiro (Foto de Vasco Figueiras).

Casa do Morgadio de Santo Antão

Uma entrada singela virada a nascente no pequeno lugar das Presas apresenta-se a Casa do Morgadio de Santo Antão.

O morgado ou morgadio é uma forma institucional e jurídica para defesa da base territorial da nobreza e perpetuação da linhagem. Os morgadios constituíam um “vínculo” que não podia ser objecto de partilhas; era transmitido ao filho varão primogénito. Os bens das heranças estavam normalmente associados à instituição de capelas e ao cumprimento dos chamados “bens de alma” ou serviços religiosos por alma dos instituidores, nomeadamente a “aniversários” de missas.

É na vista de poente, no meio do campo, debaixo de duas velhas macieiras que me espanto com a beleza desta casa, umas janelas simples e dois arcos no piso inferior. Ao fundo do campo, não sei bem porquê, mas emociona, um edifício que parece ser de uso agrícola com dois andares entre velhos castanheiros. O gradeamento das janelas serviria para impedir a entrada do amigo do alheio ou impedir a fuga de um possível escravo?

Mais imponente, conservada, a fachada da capela virada para o espaço público com entrada particular. 1765 marcado no dintel da porta indica a data da construção. Sabe-se que foi mandada construir pelo Bacharel Joaquim Tavares da Silva, então dono da casa e dedicada a Santo Antão.

Os morgadios foram extintos em Portugal no reinado de D. Luís I em 1863.

Casa do Morgadio de Santo Antão (Foto de Vasco Figueiras).

Casa e Capela da Senhora das Dores

Casa rural do inicio do século XVIII que domina o vale de Silva Escura, toda ela indica um passado de abastança.

Agora é uma grande ruína que a natureza tomou para si.

Uma capela privada do final do mesmo século, com entrada pública onde o telhado vai resistindo mas já não cumpre a sua função para proteger o retábulo em talha dourada, onde outrora estariam imagens do santo António, Senhora das Dores, Santa Ana com a virgem e o Menino. Uma residência rica de que agora, apenas restam as paredes, uma escadaria fantástica com um parapeito granítico iniciado em espiral e as varandas elegantes e belas. Referir ainda as dependências agrícolas de grande dimensão e com interesse arquitectónico.

Gostava de poder dizer mais sobre este lugar abandonado, mas não sei.

Casa e Capela da Senhora das Dores (Foto de Vasco Figueiras).

* O autor dá a conhecer estes e outros locais abandonados em Sever do Vouga em https://www.facebook.com/vasco.figueiras

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