Se visitar algum lugar abandonado siga as regras, não destrua, não roube, não ao grafiti ordinário, não deixe lixo, porque o universo não se esquece dos nossos actos.
Por Vasco Figueiras *
Complexo mineiro do Braçal
O complexo mineiro do Braçal (que inclui as minas do Braçal, Malhada e Coval da Mó) no rio Mau permitiu a exploração de um dos maiores jazigos mineiros da região de Aveiro.
A história do lugar remonta à época romana, tendo sido encontrados objectos em cerâmica que datam do ano 5 a. C. até ao ano 70 d. C., mas foi nos séculos XIX e XX que a exploração cresceu, chegando a ter mais de 700 operários, que extraíam filões de chumbo (Pb), zinco (Zn) e prata (Ag).
Quando pensamos em minas, surge a imagem de uma área sem árvores, árida, com montes de areias e outros inertes… aqui é o oposto.
A floresta tomou para si esta área, trepou, invadiu e destruiu quase tudo, restam algumas paredes que nos transportam para um cenário bucólico. Tentando descrever, porque nem as fotografias fazem justiça à beleza do lugar: uma flora luxuriante, uma floresta crescida e abundante, fetos e musgos que pintam o leito do rio de tons de verde, e as construções esmagadoras e belas.
Parte do rio Mau encontra-se canalizado em túneis artificiais de pedra e cimento, construídos pelo homem.
No entanto, o estado das estruturas é cada vez mais triste, as acácias proliferam junto às construções, os eucaliptos aproximam-se, os muros de bucho morrem, mais alguns telhados e paredes caem, os túneis são destruídos como o túnel do rio que começou a desabar. Atenção – quem lá for tem de ter cautela.
Posto de desnatação da Cooperativa Agrícola Vale do Vouga
Sever do Vouga é a capital nacional do Mirtilo, mas já foi uma das capitais do Leite.
A produção de laticíonios como indústria chegou a Sever do Vouga ainda no século XIX, e foi neste território que há quase 100 anos surgiram as primeiras cooperativas de produtores do nosso país.
Durante décadas, em cada uma das nossas aldeias, existiu um posto semelhante a este. Após o ritual diário de ordenhar (ou mungir, ou muger – era assim que eu conhecia) as vacas, as meninas e as senhoras transportavam para aqui as grandes latas com vários litros de leite, e também era nestes locais que de manhã e ao entardecer aconteciam belos momentos de convívio.
Estes edifícios têm sido destruídos porque as estradas precisam ser alargadas, as pedras aproveitadas… Mas também o tempo, a chuva e o sol… e é assim que este património se vai perdendo. Este é um edifício singelo que se ergue num lugar belo, central aos lugares da “serra do Couto”, Coval, Cerqueira, Cercal (de Arões) e Mouta, que histórias nos pode contar?
Acompanhe e partilhe deste desafio pessoal de conhecer melhor o nosso concelho, o gosto amador pela fotografia, por estes locais, pelas minhas e pelas suas histórias.
Trato cada lugar abandonado com o maior respeito na esperança de ser bem recebido, pois só assim conseguirei ter o melhor dele e me divertir. Peço-lhe que se visitar algum lugar abandonado siga as regras, não destrua, não roube, não ao grafiti ordinário, não deixe lixo, porque o universo não se esquece dos nossos actos.
* O autor dá a conhecer estes e outros locais abandonados em Sever do Vouga em https://www.facebook.com/vasco.figueiras