Legislativas 22: “A última legislatura foi de estagnação, em Aveiro como no País” – Moisés Ferreira (BE)

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Entrega de lista do BE às legislativas pelo distrito.

O Bloco de Esquerda (BE) acredita que verá os portugueses darem-lhe razão, e consequentemente força eleitoral, pelo voto contra o Orçamento de Estado que levou o Governo do PS a ‘cair’. Moisés Ferreira, cabeça-de-lista pelo circulo distrital, acredita ser possível manter dois deputados por Aveiro e reforçar a votação relativamente a 2019 (c/ registo vídeo).

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BE apostado em manter dois deputados pelo distrito mas também reforçar votação

Notícias de Aveiro – Os cidadãos que encontra durante a campanha não questionam a posição do Bloco de Esquerda que conduziu à dissolução do parlamento e a eleições antecipadas a meio do mandato?

As pessoas percebem cada vez melhor o que levou a eleições a 30 de janeiro. O próprio Primeiro-Ministro e principal candidato do PS vai deixando isso claro. A sua intenção é a maioria absoluta. Num debate recente disse que deixou de ter confiança na solução chamada de ‘geringonça’. No Orçamento de Estado, o PS achou que era um bom pretexto para tentar as eleições antecipadas. Há neste momento vários problemas que preocupam a população. A pandemia é incontornável e as suas várias consequências, na saúde, na economia e na área social. Percebe-se que nesta campanha para a nova Assembleia da República tudo isso está em cima da mesa. São os temas e as soluções que estão em debate, numa espécie de extensão do que foi o debate do Orçamento de Estado para 2022. O Bloco propunha intervenção e medidas concretas em três áreas: reforçar o Serviço Nacional de Saúde, para captar profissionais; reforçar os direitos dos trabalhadores, para combater a precariedade; e, também, medidas para combater a pobreza dos mais idosos, no que toca às pensões. Estas eleições legislativas são sobre esses problemas e as soluções também, nós temos as nossas. O PS fez uma crise política para tentar chegar à maioria absoluta. Estas eleições devem servir para debater os problemas do dia-a-dia.

Exemplos ?

As medidas que tínhamos respondiam a vários problemas do País. O SNS tem sido bóia de salvação do país. Tem falta de profissionais, incapacidade de fixá-los. Nos últimos concursos para médicos recém formados no SNS mais de 30% das vagas ficaram por ocupar, consideraram que não tinham condições para trabalhar. Acontece também com os enfermeiros, que são cada vez mais necessários. Todos os anos centenas, milhares, vão trabalhar para fora do País. As carreiras são pouco atrativas. Temos grupos profissionais, como os assistentes técnicos, que são imprescindíveis, e trabalham pelo mínimo. O Bloco propunha rever carreiras, criar carreiras que não existiam e um regime de exclusividade com benefícios associados.
Na área laboral a pandemia expôs precariedade. As pessoas ficam desprotegidas. Empresas que despediram precários, que estão mais vulneráveis. Propusemos contratos coletivos e medidas para dificultar despedimentos. Medidas que o PS já defendeu no seu programa, mas achou impossível para 2022.

Por questões orçamentais ?

Aí é que está a grande incoerência do Governo e do PS. Diz que há uma ‘bazuca’ que servirá para tudo e não tem dinheiro para aumentar pensões. Ao mesmo tempo o ministro das Finanças diz que o PIB vai aumentar 10% em 2021 e 2022, acima da média europeia, e o Governo diz que não pode mexer na legislação laboral para não ter problemas económicos. Não pode investir no SNS, não pode melhorar as pensões, não pode mexer na legislação laboral em crescimento económico e quando há fundos substanciais da União Europeia, então quando poderá mexer ? Mesmo do ponto de vista orçamental não há razão para as medidas do Bloco não terem sido aceites. Apenas uma: o PS não quer essas propostas.

Há muitas críticas cruzadas à esquerda, mas poderão estar condenados a entenderem-se.

Se as propostas do Bloco não foram aceites é porque o PS não as quis implementar. É preciso alterar a correlação de forças entre o PS e o Bloco para quando chegar à discussão das propostas que interessam às pessoas –  como já aconteceu – , mesmo não querendo, o PS tenha de aceitar para alterar a vida do País de forma muito positiva. Se continuar como até aqui vai ser difícil.
É óbvio que o BE não se põe de fora de entendimentos ou acordos. Sem ser aritmética por aritmética, temos de ver as propostas. Para chegarmos aí, o Bloco tem mesmo de sair reforçado a 30 de janeiro, para o PS não ter maioria absoluta, caso contrário vamos ter o PS da discussão do Orçamento de Estado de 2022, sem aceitar melhorias substanciais.

Há quem perspetive uma grande bipolização eleitoral.

Sobre a polarização de voto, a população percebeu que as maiorias absolutas não trazem coisas grandemente positivas. Ainda está fresca na memória a governação PSD-CDS, traumática, de 2011 a 2015, em que a cada ano aprofundavam-se os cortes, era a eito nos salários, pensões e SNS. Também não haverá grande vontade de voltar à maioria absoluta do PS que por si só decidia a política do País. Não vejo que haja bipolarização. A população na sua maioria deverá continuar a votar à esquerda, que é positiva para crescimento de direitos sociais, económicos e outros.
No distrito de Aveiro, há muitos anos que o partido à esquerda do PS que elege é o Bloco, isso é fundamental para permitir que várias medidas que o PS não quis sejam implementadas.

Como avalia a governação de forma particular no distrito ?

Para o distrito, a última legislatura pautou-se por uma estagnação política, de medidas. Por exemplo, no hospital de Aveiro, onde é prioridade a expansão, passaram-se dois anos sem a autorização necessária para avançar com o projeto. Dois anos de estagnação num projeto essencial para o distrito. No hospital de Ovar está identificada há muito como uma necessidade a intervenção no bloco operatório. Só em véspera de eleições o Governo autorizou para utilizar o dinheiro nesse investimento, foram dois anos de estagnação até chegarmos a uma espécie de pré-campanha.
Na Linha do Vouga, foi anunciado pelo ministro das Infraestruturas, que é cabeça-de-lista por Aveiro, que começou a obra de requalificação… É uma pequena empreitada, quase de manutenção do troço entre Oliveira e Azeméis e Feira. Mas a requalificação, a eletrificação, a alteração de alguns troços para ser mais cómoda e rápida, a reabertura entre Oliveira de Azeméis e Sernada, novas carruagens, nada aconteceu. São alguns exemplos que mostram que a última legislatura foi de estagnação, em Aveiro como no País. Não queremos estagnar, queremos que muitas necessidades sejam atendidas, como a proposta de criar o Parque Natural da Ria de Aveiro levada à Assembleia da República pelo Nelson Peralta; a inclusão da Linha do Vouga no PART, com passes mais baratos, a requalificação do hospital de Estarreja, tantas outras propostas de investimentos necessários.

Uma boa votação para o BE em Aveiro será ?

É ter o Bloco reforçado. Nas últimas legislativas conseguimos pela primeira vez eleger dois deputados, permitiu que mais assuntos concretos do distrito fossem a debate e a votação na Assembleia da República. Manter os dois deputados e reforçar a votação é o objetivo do Bloco. Não sei se vai traduzir em mais mandatos, mas é importante mais votos.

Também poderemos ter um Governo de direita, com muitos arranjos ?

Não creio que venha a existir. As pessoas lembram-se do que foi o último Governo de direita. Os vários partidos à direita, a extrema direita, a direita social democrata que está disponível a discutir prisão perpétua e outras barbaridades… Todo o programa da direita em Portugal é voltar à troika, desde privatizações de empresas públicas que dão lucro até ao ataque ao SNS para canalizar recursos para o sector privado. Vimos Rui Rio no debate com Catarina Martins a defender que o salário mínimo não pode aumentar como tem acontecido… é o programa da troika que está muito presente na memória das pessoas, que não querem regressar a isso.

Mensagem final

“O PS decidiu criar uma crise política para tentar uma maioria absoluta e não implementar medidas tão fundamentais como o reforço do SNS, reforço das pensões ou alteração à legislação laboral. O que está em jogo nestas eleições se queremos um país com SNS reforçado; dignidade no trabalho e mais direitos; ter mais justiça nas pensões de reforma; Se sim é votar em que apresentou essas propostas e não no PS, que preferiu uma crise política”.

Nas eleições legislativas de 2019, o Bloco de Esquerda teve no distrito de Aveiro 35.068 votos (9,96%) e elegeu dois deputados.

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