Jovens em busca do futuro: nem estudar nem trabalhar

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Foto de arquivo.

O inquérito “Viver, Trabalhar e COVID-19” realizado pela Eurofound no primeiro trimestre do corrente ano, permitiu concluir que os jovens, durante o período de confinamento, estão a lidar com os níveis mais baixos de bem-estar mental e altos níveis de solidão.

Por Marta Ferreira Dias, Marlene Amorim, Mara Madaleno, Angélica Souza e Roberto Rivera.

Os níveis crescentes de desemprego jovem, decorrentes da última crise financeira e do seu impacto na zona Euro, motivaram a procura de razões para esse fenómeno.

Daí o conceito de NEET (jovens que não trabalham nem estudam). Em Portugal, a maior percentagem de NEET corresponde aos jovens desempregados de longa duração (36,3%) e desempregados de curta duração (31,4%). Os NEET são igualmente uma preocupação das instituições do ensino superior, nomeadamente na Universidade de Aveiro (UA).

Apesar de o termo NEET ter sido usado anteriormente em vários países, foi desde 2010 que os Estados-Membros da União Europeia reconheceram a utilização deste conceito como um indicador para associar a empregabilidade, a educação, a formação e a inclusão social dos jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos.

NEET é o acrónimo em inglês para a situação dos que se encontram “sem emprego, nem envolvidos em educação ou formação” (not in employment, education or training), utilizado para designar os jovens que não estando integrados no mercado de trabalho não estão a estudar ou em formação. Frequentemente este segmento da população é também referido como jovens “nem nem”.

Logo após as crises financeiras de 2009 e 2011 segundo a Agência Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), em 2013, a população NEET atingiu um pico de 16.1% dos jovens pertencentes à faixa etária dos 15-25 anos. Esta evolução desencadeou a implementação de ações na estratégia europeia, nomeadamente a “Garantia para a Juventude”. O objetivo da estratégia europeia neste domínio é de garantir ofertas de emprego de boa qualidade e educação ou formação contínua no prazo de até quatro meses após ficarem desempregados ou abandonarem o ensino formal.

Esta linha de ação foi reforçada em 2016 com o lançamento da iniciativa “Investir na Juventude da Europa” que permitiu aumentar as ajudas disponíveis para o Emprego dos Jovens até 2020. Em 2018 foi reforçada a cooperação entre Estados-Membros para reforçar o envolvimento e capacitação dos jovens para o período de 2019-2027. Como resultado da iniciativa europeia e com a recuperação económica, a taxa de NEETs atingiu o valor de 12,6%, em 2019, o menor registo da última década.

Note-se ainda que este fenómeno, tal como o desemprego jovem em geral, é efetivamente influenciado pela conjuntura económica. Desta forma o contexto atual de crise e incerteza económica, associado à pandemia pode novamente ter impactos importantes nesta categoria da população.

O inquérito “Viver, Trabalhar e COVID-19” realizado pela Eurofound no primeiro trimestre do corrente ano, permitiu concluir que os jovens, durante o período de confinamento, estão a lidar com os níveis mais baixos de bem-estar mental e altos níveis de solidão.

Para fazer face à previsão do agravamento das condições que determinam o aumento de NEETS, a Comissão Europeia lançou no passado mês de julho, um pacote de Apoio ao Emprego de Jovens. No comunicado, menciona-se o aumento do número de pedidos de prestações por desemprego, em especial por jovens, sendo que um em cada seis, deixaram de ter emprego após o início da pandemia. A acrescer a isto, o desemprego ocorre numa altura em que muitos setores, por razões óbvias, deixaram de recrutar.

De acordo com a EUROSTAT, Portugal manteve-se abaixo da média europeia com 9,2% dos jovens correspondente a esta situação. Na figura 1 podemos observar as sete categorias adotadas pela Labor Force Survey que permite melhor compreender a diversidade presente no grupo de jovens nesta categoria, um melhor entendimento das suas características e necessidades, e pode ajudar a formulação de políticas mais eficazes na integração destes jovens no mercado de trabalho ou na continuação da formação.

Em Portugal, a maior percentagem de NEET corresponde aos jovens desempregados de longa duração (36,3%) e os desempregados de curta duração (31,4%). A análise específica destes dados, tem sido fundamental para a criação de diversos projetos e programas de ação para minorar a taxa NEET e, consequentemente, o impacto deste fenómeno na economia do país.

Os NEET são igualmente uma preocupação das instituições do ensino superior e a Universidade de Aveiro, atualmente é parceira num projeto Erasmus + (“My Career Our Game”) que pretende desenvolver ações e instrumentos que permitam melhorar a integração profissional dos jovens, de forma a que não entrem para a estatística NEET, por meio da introdução de metodologias inovadoras de orientação no início das suas carreiras e através de ferramentas sustentáveis para a sua adequada inserção no mercado de trabalho.

O projeto encontra-se em fase de desenvolvimento e junta à Universidade de Aveiro, instituições da Polónia e da Macedónia do Norte. O desafio é reunir experiências de orientação de carreira e fornecer recomendações que permitam a prevenção dos fatores que levam a que um jovem se torne NEET e contribua para a diminuição da taxa de desemprego juvenil de curta e longa duração.

Foto do site UA.pt.

* Equipa de investigação REMSI, composta pelas Docentes Marlene Amorim, Marta Ferreira Dias e Mara Madaleno e pelos Bolseiros de Investigação Angélica Souza e Roberto Rivera (DEGEIT/UA). Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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