Jovem acusado de homicídio tentado diz que esmurrou homem após provocações e não sabia que arma era verdadeira

1962
Tribunal de Aveiro.

Um indivíduo de 26 anos, acusado de agredir violentamente outro homem de 42 anos, durante uma rixa, numa esplanada de um café, na freguesia Angeja, Albergaria-A-Velha, em novembro do ano passado, assumiu parcialmente os factos imputados.

“Em alguns pontos é verdade, outros são mentira” disse o arguido acusado de tentativa de homicídio e posse de arma proibida, que se encontra em prisão preventiva, ao falar, esta manhã, no início do julgamento a decorrer no Tribunal de Aveiro.

“Cedi às provocações” alegou o jovem ao relatar a sua versão dos factos, garantindo desconhecer, na altura, que a pistola usada fosse verdadeira.

Segundo o acusado, aquando dos factos, uma sexta-feira à noite, estava com amigos na esplanada de café. Apercebeu-se que dois homens que não conhecia saíram de um carro e entraram no estabelecimento, de onde saíram a discutir entre si.

“Um deles meteu conversa e do nada abordou o tema da pesca”, recordou. O homem ter-lhe-á chamado nomes (“és burro, volta para a escola”) quando discutiam sobre iscos. Como “a conversa azedou, disse-lhe ponha-se a andar daqui”.

Nessa altura, a vítima ter-se-á aproximado e “puxou de uma arma que tinha à cintura, destravou e apontou”, ameaçando disparar.

Ato contínuo, um amigo do arguido foi por trás do homem que estaria armado e aplica-lhe um ‘mata leão’.

Arguido diz que agarrou arma e deu “soco” / PJ fala em agressão com objeto contundente não apurado

“Agarro-lhe na mão onde tinha a arma e dou-lhe um soco na cara. Os dois caíram e eu fiquei com a arma da mão. Pensei que fosse uma airsoft, só para assustar e carreguei no gatilho. Não tinha apontado para lado nenhum. Abanei a arma e carreguei, foi impulsivo. Nunca pensei que fosse arma verdadeira, mas para nos assustar”, relatou.

A vítima foi internada em estado crítico, tendo corrido perigo de vida. A investigação da Polícia Judiciária (PJ) concluiu que o autor terá agredido a vítima “com um objeto de natureza contundente, ou atuando como tal, ainda não especificamente determinado”, causando-lhe “lesões extensas na cabeça”. “Quando a vítima se encontrava prostrada no solo, o agressor ainda a alvejou com um disparo de pistola, mas não a atingiu por circunstância meramente fortuita”.

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A Procuradora da República não deixou de sublinhar algumas “perplexidades” suscitadas, nomeadamente “a reação não muito normal”, dado o inusitado grau de violência empregue, perante “uma pessoa que estava com reflexos lentos e apático”, como o arguido retratou o estado da vítima na altura, ou não se ter apercebido, pelo peso, que a arma era verdadeira.

“Vi o meu colega atrapalhado”, justificou o jovem, negando que tivesse partido de si “comentários” depreciativos quando os dois homens chegaram ao café ou que tivessem discutido sobre “armas e carros”. Assumiu que tinha consumido droga (canábis) na noite com o seu grupo de amigos.

Vítima sem memória da noite em que correu perigo de vida

Nas declarações ao tribunal, a vítima, que se movimenta com auxílio de bengala, disse que perdeu a memória da noite em causa na sequência da operação à cabeça devido a agressão sofrida, que o deixou três semanas em coma. Os médicos terão-lhe dito que “era praticamente impossível estar vivo” e será “muito difícil” recuperar na “plenitude”. “A minha vida foi-me retirada”, lamentou.

O homem, residente em Cacia, Aveiro, que trabalhava como mecânico de bicicletas, não soube explicar a razão de andar armado com a pistola na noite da ‘rixa’. “Talvez para limpar ou afinar”, disse. A vítima, que tem licença de uso e porte de arma, tirou curso de segurança privada, assim como de formador, embora não tivesse exercido aquela profissão.

Arguido pede desculpa

Depois das declarações da vítima, o arguido quis falar novamente para “pedir desculpa” ao homem pelo sucedido e mostrou-se pronto para “ajudá-lo” com “alguma coisa que possa fazer”.

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