“Janela de esperança” abriu-se com o início da vacinação

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Vacinação de idosos.

Espera-se que, ao perfazer um ano sobre a primeira medida adotada contra a progressão do Covid (cancelamento de visitas a Lares, em 6 de Março), seja completada a vacinação nos Lares.

Por Lino Maia *

1.Antes das festas da quadra natalícia, verificava-se uma tendência de descida da epidemia de COVID-19 em Portugal. Tendência, porém, que não se consolidou. Pelo contrário: confrontamo-nos agora com um número de contágios e de óbitos diários bem superior. Sobretudo na comunidade. Não tanto, porém, nos Lares, onde, se em 31 de Dezembro havia 321 surtos ativos, agora somam-se-lhes “somente” mais 12 (regista-se um surto quando há 2 ou mais pacientes).

Não se diferenciando a natureza dos Lares (sector social solidário, privados ou não legalizados), segundo informações avaliadas pela Segurança Social, se até ao último dia do ano se tinham realizado 65.000 testes, até então tinha havido 5.955 utentes e 2.308 trabalhadores positivos. Até àquela data, com um acumulado de 1.923 óbitos em Lares (o que correspondia a 30,4% dos óbitos por Covid), Portugal era o país com menor percentagem comparativa; a Alemanha era o segundo país e, aí, atingia-se os 38%, enquanto nos outros países a percentagem comparada de óbitos em Lares por Covid ia subindo, chegando aos 63% na vizinha Espanha.

Se, comparativamente com o que se passa noutros países congéneres, no que aos Lares diz respeito, estejamos menos mal, no sector social e solidário – e não só – continua-se a sofrer com um doente e a chorar uma morte, pelo que não se pode baixar a guarda. Sem exultar, devemos mesmo reforçar a guarda: se não fosse por outras razões – mas há muitas – até para não interromper o processo de vacinação.

2. Apesar dos sinais contraditórios, a “janela de esperança” abriu-se com o início da vacinação contra o Covid-19: pelas 15h15, do dia 4 de janeiro, na Casa do Idoso de São José das Matas, no concelho de Mação, Celeste Heleno, uma senhora com 100 anos, foi vacinada. Na primeira semana de vacinação nos Lares foi a primeira de cerca de 12.000 de um primeiro conjunto de Lares dos 25 concelhos com risco de contágio mais elevado. Na 2ª semana de Janeiro mais pessoas de um segundo conjunto de mais 59 concelhos com risco de contágio muito elevado do espaço continental estão a ser vacinadas. No total, utentes e colaboradores de Lares de 84 concelhos das várias regiões (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) são vacinados até ao dia 15 de Janeiro. No espaço continental, porque nas regiões autónomas o processo também já arrancou mas “num sistema autonómico”. Outros conjuntos de concelhos serão estabelecidos para as semanas seguintes. Poderão surgir eventuais adiamentos porque os Lares em que se verificarem surtos aguardarão por uma data posterior até que seja dado tempo para ultrapassar com segurança a situação.

Espera-se que, ao perfazer um ano sobre a primeira medida adotada contra a progressão do Covid (cancelamento de visitas a Lares, em 6 de Março), seja completada a vacinação nos Lares.

O anunciado programa de vacinação em Portugal prevê três fases.

Numa primeira fase serão vacinadas cerca de 950 mil pessoas. O grupo prioritário é o das pessoas com 50 ou mais anos e com patologias associadas, profissionais e residentes em lares e unidades de cuidados continuados, profissionais de saúde que prestem cuidados diretos no âmbito da pandemia e forças de segurança.

Numa segunda fase, será dada prioridade a pessoas com mais de 65 anos sem patologias associadas e pessoas com mais de 50 anos, mas com outras doenças associadas, como diabetes, neoplasias, entre outras, estimando-se que sejam abrangidos cerca de 1,8 milhões de cidadãos.

A terceira fase englobará o resto da população.

A vacinação é universal, gratuita, facultativa e vivamente aconselhada. Mas não é previsível que a imunidade de grupo seja alcançada antes do curso do segundo semestre do ano.

3. Nos Lares estão pessoas. Pessoas normalmente frágeis. Provavelmente com um histórico de saúde atormentado. Pessoas que, de muitas formas e por vezes com meios muito escassos, contribuíram para a sociedade que hoje somos. Pessoas que são cidadãos de pleno direito e com direito ao uso da cidadania. Nos Lares ultrapassaram um longo período em que até qualquer visita lhes foi vedada. Contaram, é certo, com dedicações inexcedíveis de dirigentes e de trabalhadores – sem isso não teriam vencido as dores do confinamento. Vivem, merecem viver e querem viver. E quando lhes foi explicado que o Natal na família acarretaria riscos, porque acima de tudo querem viver, compreenderam e mantiveram-se nos Lares, que adotaram como casas familiares.

São portugueses. Não compreenderiam que agora lhes fosse vedado o direito de participar na escolha daquele ou daquela que querem como presidente de todos os portugueses. Quando optaram pela manutenção nos respetivos Lares para não correrem riscos, não compreenderiam que os tivessem agora de enfrentar para exercerem o seu direito de voto.

Louva-se que o Governo esteja, como está, a preparar um quadro legal que, nestas eleições presidenciais, permita aos idosos votarem nos respetivos Lares

* Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). Artigo orginalmente publicado no jornal Solidariedade.

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