Investigação florestal: Uma economia mais competitiva, resiliente e sustentável

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A defesa das espécies florestais face a pragas e doenças, a regeneração após a ocorrência de incêndios e a valorizando de sobrantes da floresta são exemplos de temáticas que cruzam a investigação florestal no CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, que tem por primeiro objetivo promover o uso eficiente dos recursos ambientais terrestres e aquáticos, contribuindo para uma economia mais competitiva, resiliente e sustentável.

Por Amadeu Soares *

O CESAM reconhece a floresta como um sector da maior importância para Portugal e é um dos poucos Laboratórios Associados cuja atividade promove os três grandes pilares da sustentabilidade: económico, social e ambiental.

As quatro linhas temáticas que norteiam a atividade deste Laboratório Associado são vastas e interdisciplinares – 1) Ecologia & Biodiversidade Funcional; 2) Ambiente & Saúde; 3) Ecossistemas & Recursos Marinhos e 4) Sistemas Ambientais Integrados – estando as florestas e os desafios que as cruzam presentes em grande parte delas.

Adicionalmente, a investigação florestal no CESAM procura ser flexível, dinâmica, robusta e inovadora, de modo que os seus resultados ajudem a orientar decisões, apoiando uma atuação informada em tempos de incerteza e contribuindo para assegurar um sector internacionalmente competitivo e voltado para o futuro.

As atividades desenvolvidas pelo CESAM no sector florestal englobam a investigação e inovação (I&I), a transferência de conhecimento e de tecnologia. De forma integrada, procuram dar resposta a alguns os principais desafios do sector: promover a gestão sustentável dos recursos florestais, reforçar a competitividade e valorização do sector florestal português e contribuir para a monitorização e mitigação dos impactos dos incêndios rurais.

De forma global, o objetivo principal do CESAM consiste em promover o uso eficiente dos recursos ambientais terrestres e aquáticos, de modo a contribuir para uma economia mais competitiva, resiliente e sustentável, procurando também fomentar a formação avançada e o emprego científico altamente qualificado, assim como assegurar a coesão territorial e social.

Em 2021, o CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar completou o seu vigésimo aniversário. Em 2022, esta Unidade de Investigação viu renovado o seu estatuto de Laboratório Associado por mais um decénio.

Estratégias para uma floresta mais resiliente

O CESAM desenvolve atividades de I&I para apoiar duas grandes vertentes da resiliência florestal: por um lado, a seleção de material vegetal mais resistente a desafios abióticos (seca) e bióticos (pragas e doenças); por outro lado, o desenvolvimento de estratégias de indução de resistência, baseadas na promoção da defesa das plantas.

Aqui incluem-se, por exemplo, o uso de fitoquímicos e a manipulação do microbioma, com potencial impacto na redução dos agroquímicos aplicados e dos custos de produção. A doença da murchidão do pinheiro e a sua interação com o inseto vetor ou o cancro resinoso do pinheiro são exemplos de doenças emergentes também estudadas pelo CESAM, que atua também ao nível do diagnóstico precoce de agentes patogénicos de espécies florestais para uma real proteção integrada de plantas.

Glória Pinto e Artur Alves são dois investigadores que contribuem para este conhecimento, procurando estratégias ecológicas e rentáveis para a indução de resistência nas plantas. O seu trabalho ajudará a uma produção sustentável de plantas (por exemplo, em viveiro), aumentando a capacidade inata de defesa destas plantas através da aplicação de bioestimulantes (indução química), de luz (indução física) ou da manipulação do microbioma. O seu objetivo é aumentar a qualidade geral da planta em estufa, não só em termos de crescimento, mas também pelo reforço das suas defesas, uma característica que, ao manter-se em campo, aumenta o sucesso da reflorestação.

Por sua vez, a investigadora Angela Cunha está a avaliar como alguns microrganismos que vivem naturalmente associados a plantas podem contribuir para a melhor adaptação destas plantas a diversos tipos de stress. Estuda, especificamente, as designadas “bactérias promotoras do crescimento” (plant-growth promoting bacteria, PGPB) associadas à oliveira e o seu objetivo é usá-las para formular ativos biofertilizantes e bio estimulantes capazes de atenuar os efeitos da salinização do solo (que se fazem sentir nos olivais regados) e de estimular as defesas naturais da oliveira contra agentes patogénicos emergentes, nomeadamente a bactéria Pseudomonas savastanoi, causadora da tuberculose (ronha).

Já Ana Cunha Figueiredo tem-se dedicado, entre outros temas, às interações hospedeiro-inseto vetor na doença da murchidão do pinheiro e ao desenvolvimento de fitoquímicos no combate a pragas e doenças agroflorestais.

Fogo: prever, medir, regenerar

A ocorrência de fogos, cuja frequência e intensidade se têm acentuado nas últimas décadas, representa um dos maiores riscos para o sector florestal e, como tal, é também uma das temáticas da investigação florestal do CESAM. Nesta área, desenvolve inúmeras abordagens e atividades de I&I, sendo inúmeros os investigadores e equipas dedicadas:

– estuda o impacto do fogo na qualidade do ar, com o desenvolvimento de ferramentas de modulação para prever a dispersão dos poluentes associados aos incêndios;
– faz simulação de fogos florestais e da sua propagação, com modelos meteorológicos acoplados a modelos de propagação de fogos florestais;
– analisa o papel aos insetos como bioindicadores na recuperação da biodiversidade em áreas florestais ardidas;
– estuda o restauro do solo em cenário pós-fogo;
– estima os impactos nos fluxos de carbono e nos recursos hídricos;
– avalia o uso de fogo controlado na gestão dos combustíveis e os seus impactos na produtividade florestal.

Por exemplo, o grupo APM – Atmospheric Process & Modelling, de Alexandra Monteiro, desenvolve trabalho ao nível da monitorização e estimativa das emissões provenientes dos fogos, bem como ao nível da avaliação do seu impacto na qualidade do ar, através de ferramentas de modelação numérica que permitem simular (e prever em tempo quase real) a dispersão e o transporte dos poluentes atmosféricos emitidos pelo fumo dos incêndios.

David Carvalho tem vindo a trabalhar na simulação de fogos florestais e na sua propagação com a ajuda de modelos meteorológicos acoplados a modelos de propagação de fogos florestais. Como existe uma relação próxima e de feedback mútuo entre as condições atmosféricas, a ignição e propagação de fogos florestais, o uso de ferramentas de simulação de fogos que consideram explicitamente e online a atmosfera e solo têm revelado resultados muito promissores e muito mais próximos da realidade do que as metodologias anteriores, que não consideravam de uma forma direta o feedback e interação que os fogos passam para a atmosfera.

Paula Maia tem desenvolvido trabalho de investigação sobre a regeneração da floresta e das comunidades vegetais, após perturbações como incêndios florestais e as problemáticas ecológicas subsequentes como a colonização por espécies invasoras. A investigadora está envolvida em vários projetos nacionais e internacionais de investigação aplicada à gestão e ao restauro ecológico, e tem participado em ações de divulgação para diversos públicos, com destaque para a colaboração com o Centro PINUS.

Olga Ameixa tem vindo a desenvolver investigação na área da biodiversidade entomológica em áreas florestais ardidas no centro do país, em colaboração com a associação Montis. O objetivo do seu trabalho é a utilização dos insetos como bioindicadores da recuperação da biodiversidade após os fogos de 2017. Em paralelo, está a realizar o levantamento da biodiversidade dos insetos na Quinta de São Francisco, em colaboração com o Raiz – Instituto de Investigação da Floresta e Papel.

Também a investigadora Sofia Corticeiro tem desenvolvido o seu trabalho no âmbito da recuperação da floresta em cenários de pós-fogo e na avaliação dos impactos da gestão florestal no solo e na produtividade florestal. Coordena o Projeto FirEProd (2021-2024), que integra uma equipa multidisciplinar experiente, composta por investigadores do CESAM/UA e do RAIZ e que conta com a experiência da Professora Margarida Tomé (ISA) e do Professor Paulo Fernandes (UTAD) como consultores. Refira-se que o FirEProd tem como principais objetivos avaliar o uso do fogo controlado na gestão dos combustíveis e sobrantes florestais e ainda determinar qual o impacte dessa prática no solo e crescimento e produtividade das plantações de eucalipto.

Refira-se, ainda nesta temática, que o CESAM coordena o projeto “FoRES – Development of Forests RESilience to fires in a climate change scenario”, no âmbito do concurso de projetos EEA Grants 2021 – Programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”.

Valorização de produtos e sobrantes florestais

Uma outra vertente também focada pela investigação florestal no CESAM está relacionada com a valorização dos produtos e resíduos de base florestal que se encontram subaproveitados, mas que podem ter propriedades farmacológicas, cosméticas e agroflorestais.

Por exemplo, o desenvolvimento e aplicação de corretivos alcalinizantes para solos, com base em cinzas de combustão de biomassa florestal residual, é um dos tópicos relevantes nesta área, enquadrado no conceito de economia circular, a que se tem dedicado Sónia Gonçalves.

Já Ana Cristina Figueiredo tem abordado uma série de outras temáticas nesta mesma vertente, incluindo o controlo de qualidade, caracterização química e determinação do potencial biológico de produtos florestais não lenhosos, como o mel, e a caracterização de fitoquímicos voláteis provenientes das espécies florestais em Portugal.

* Coordenador Científico do CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site Florestas.pt.

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