Invasão da Vespa Asiática, consequências ecológicas e possíveis medidas de mitigação

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Ninho de Vespa Asiática (arquivo).
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Tem sido o impacto na saúde pública que tem dado um lugar de destaque à Vespa velutina, sobretudo devido ao seu comportamento agressivo na proteção dos ninhos.

Olga Ameixa (artigo originalmente publicado pelo site UA_online)*

A ameaça à vida selvagem e as consequências económicas provocadas pelas espécies invasoras, como é o caso da cada vez mais preocupante Vespa velutina, ou vespa asiática, são tema de um texto de opinião de Olga Ameixa, investigadora do Departamento de Biologia da UA e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM). São sugeridas possíveis soluções. E atenção: não confundir a Vespa velutina com a Vespa crabro que possui um papel ecológico importante.

As espécies invasoras estão entre as principais ameaças à vida selvagem. Aproximadamente 42 por cento das espécies ameaçadas ou em perigo estão em risco devido a espécies invasoras. Na União Europeia os custos relacionados com as espécies invasoras rondam os 12 mil milhões de euros por ano.

Exótica e invasora

As chamadas espécies invasoras são espécies que crescem e reproduzem-se rapidamente, por vezes possuem várias gerações por ano, e possuem uma enorme capacidade de dispersão. Frequentemente competem ou excluem as espécies nativas do seu habitat. Assim, as espécies invasoras tem um impacto enorme nos ecossistemas, na saúde humana e consequentemente na economia, uma vez que muitas atividades comerciais, agrícolas e recreativas dependem de ecossistemas nativos saudáveis.

Embora a maioria das espécies invasoras seja exótica, existem espécies nativas que possuem comportamento invasor.

As espécies invasoras são primariamente introduzidas e disseminadas por atividades humanas, muitas vezes não sendo intencionais. Ao ser introduzida num novo ecossistema as hipóteses de não possuir nenhum predador ou controle natural são elevadas.

A maioria das vezes as espécies nativas podem não ter desenvolvido defesas contra o invasor, ou podem não ser capazes de competir por habitat ou alimento. A longo prazo podem ocorrer mudanças a nível das teias alimentares com importantes consequências para um ecossistema.

A Vespa velutina

A Vespa velutina ou vespa asiática é uma espécie que possui todas as características típicas de uma espécie invasora. Nativa de algumas regiões da Asia, ela foi detetada na Europa pela Primeira vez em França em 2004 onde se pensa que tenha sido introduzida acidentalmente, tendo vindo a espalhar-se a outros países próximos (Espanha, Portugal, Bélgica e Itália). Em 2011 foi detetada pela primeira vez em Portugal.

Vespa velutina – foto de Rui Andrade.

A sua presença tem vindo a aumentar afetando gravemente sectores como a apicultura, setor já afetado por outras ameaças (doenças, pragas ou mesmo as alterações climáticas) e o setor agrícola, pela diminuição da quantidade de insetos polinizadores.

Embora as abelhas do mel sejam os alvos mais óbvios da Vespa velutina, a ameaça a outras espécies de insetos com as crípticas abelhas silvestres é real. Estas espécies de abelhas silvestres são na realidade consideradas polinizadores mais eficientes em conjunto com algumas famílias de moscas e borboletas.

As recentes operações de limpeza das matas têm contribuído para mostrar a verdadeira dimensão da invasão da Vespa velutina sobretudo em áreas florestais de eucalipto onde pelo facto destas árvores possuírem folhagem persistente é mais difícil a localização e destruição dos ninhos.

No entanto, tem sido o impacto na saúde pública que tem dado um lugar de destaque à Vespa velutina, sobretudo devido ao seu comportamento agressivo na proteção dos ninhos. Tudo isto contribuiu para a criação do Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal e da Plataforma, a SOS-Vespa (www.sosvespa.pt), que tem como objetivo o apoio na identificação e o controlo da Vespa velutina em Portugal.

No entanto todas estas ações têm tido um impacto negativo em outras espécies de vespas nativas, particularmente na Vespa crabro. A Vespa crabro possui um papel ecológico importante, sendo um predador tal como a Vespa velutina, ela possui um papel regulador nas populações das suas presas, frequentemente eliminando indivíduos doentes contribuído para a limitação de algumas doenças nas colmeias. Esta vespa tal como os seus ninhos têm sido frequentemente confundidos com os da Vespa velutina, não se conhecendo o impacto destas ações sobre esta espécie.

A Vespa crabro. Não confundir com a vespa asiática – foto de Olga Ameixa.

O estado atual da invasão e todos os problemas para a saúde pública, agricultura e ecossistemas exigem mais medidas no combate a esta espécie a par das medidas atualmente em vigor, como sejam a destruição dos ninhos referenciados.

Parece assim incontornável o recurso ao controlo biológico da espécie. Recentemente foram encontradas rainhas parasitadas com a mosca Conops vesicularis (Diptera: Conopidae) o que resultou na sua morte e consequente colapso das colónias. As vespas são também suscetíveis ao ataque de fungos entomopatogénicos, e.g. Beauveria bassiana ou mesmo de nematodes.

Numa abordagem de controlo biológico mais clássica, será também importante considerar a possibilidade de introduzir outros parasitas e predadores existentes na zona de origem da vespa após criteriosas avaliações de risco, de forma a ajudar na limitação das populações de Vespa velutina.

Todas estas possibilidades deverão ser consideradas uma vez que a presença da vespa asiática, para além dos subjacentes problemas ecológicos, está a ter um impacto económico catastrófico na apicultura.

* Investigadora do Departamento de Biologia /CESAM da Universidade de Aveiroe coordenadora do grupo de trabalho “Benefícios e Riscos dos Agentes Exóticos de Controlo Biológico” da Organização Internacional de Luta Biológica e Integrada – Secção Regional Oeste Paleártica. (OILB/SROP).

Referências:

Darrouzet, Eric & Gévar, Jérémy & Dupont, Simon. (2015). A scientific note about a parasitoid that can parasitize the yellow-legged hornet, Vespa velutina nigrithorax, in Europe. Apidologie. 46. 10.1007/s13592-014-0297-y.

Poidatz, J., Plantey, R. L., & Thiéry, D. (2018). Indigenous strains of Beauveria and Metharizium as potential biological control agents against the invasive hornet Vespa velutina. Journal of invertebrate pathology, 153, 180-185.

Villemant, C., Zuccon, D., Rome, Q., Muller, F., Poinar Jr, G. O., & Justine, J. L. (2015). Can parasites halt the invader? Mermithid nematodes parasitizing the yellow-legged Asian hornet in France. PeerJ, 3, e947.

Links úteis

Fichas de identificação da espécie:

http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/patrinatur/resource/docs/exot/vespa/anexo-II.pdf

http://www.iniav.pt/fotos/editor2/ficha_identificacao_vespa_velutina_vespa_crabro_marco_2015.pdf

Outras ligações úteis

http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/patrinatur/especies/n-indig/vespa-asiatica-vespa-velutina/plano-de-acao

http://www.sosvespa.pt/web

http://www.iniav.pt/sos-vespa