Inteligência artificial no ensino – e agora?

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Quanto somos alertados para a possibilidade de um dia de chuva, é natural concluirmos que há mudanças a considerar no vestuário e no calçado e até, porventura, noutros aspetos desse dia, como sejam o tipo de transporte, compromissos ao ar livre e o inevitável guarda-chuva.

Por Alberto Costa *

Contudo, há sempre quem prefira ignorar os avisos e enfrente esse dia como outro qualquer, agindo como se possuísse a capacidade de adivinhar ou saber mais do que os outros, vaticinando que nesse dia não chove e evitando mudanças no seu dia. A verdade é que, numa ou noutra ocasião, até acerta e por isso se convence que a sua forma de pensar é vencedora.

Nas últimas semanas tem-se falado muito de inteligência artificial (IA) que, pensando bem, não tem nada de inteligente, nem de artificial. Temos sido brindados com notícias alarmantes, surpreendentes e preocupantes, que deixam, como primeira marca uma imagem de algo que coloca em causa o nosso futuro e a forma como temos vivido até agora. E pode bem ser verdade. Contudo, o futuro também é o que queremos que ele seja, considerando o livre arbítrio de que dispomos para transformar o presente. Desta forma, estamos colocados perante o desafio de perceber se a IA vai ou não deixar espaço para este livre arbítrio ou se vamos optar por nos deixarmos levar pela onda que já é, neste momento, impossível de parar.

A IA já existe há décadas e constitui-se como um ramo das ciências da computação que pretende desenvolver equipamentos, sistemas, aplicações, etc., que simulem o modelo cognitivo humano. A ânsia de evoluir neste domínio, tem levado ao aparecimento de equipamentos, sistemas e aplicações incríveis, com potencialidades (quase) infinitas e que contrastam com a nossa natural e tradicional forma de pensar e agir. Importa não esquecer que quem alimenta esta evolução são seres humanos, imperfeitos por natureza e que, dependendo daquilo em que acreditam, podem ser tendenciosos e conduzir o processo ignorando a importância da ética, do progresso social e da importância da existência do ser humano, com independência e autonomia intelectual. Contudo, também é possível utilizar a constelação de vantagens que a IA providencia, de forma positiva, construindo um futuro melhor para todos. O desafio é, como propunha o filósofo Aristóteles, encontrar a virtude, ou seja, o ponto de equilíbrio, evitando os extremos – proibir a utilização da IA não é apropriado e utilizá-la como se fosse solução para tudo, também não – e já temos exemplos que nos mostram o erro de escolhermos um destes extremos e não procurarmos o dito ponto de equilíbrio.

Os impactos da IA também já chegaram ao ensino e é fácil perceber que nada será como dantes – o problema é saber como será agora e no futuro? Julgo que ninguém tem resposta para esta questão, mas custa-me acreditar que o ser humano não será capaz de antecipar, prevenir e evitar os impactos negativos da IA. Dito de outra forma, acredito que temos de encarar a IA como uma mudança positiva e inevitável, avaliando constantemente os impactos da mesma, aproveitando o seu potencial de forma, esta sim, inteligente.

Yuval Noah Harari, no seu livro “21 Lições para o Século XXI”, além de outras mensagens deixa claro que, na educação, “a mudança é a única constante”. Sendo assim, há três palavras que, relativamente à IA no ensino/educação são, para já, importantes: informação, formação e regulação. Informação, porque é importante que estejamos atentos ao que vai acontecendo, ao que vai sendo discutido, debatido, refletido, sobre o assunto; formação, porque é fundamental que percebamos a importância de aprofundar o nosso conhecimento, ou seja, é necessário um exercício constante de humildade intelectual para encararmos este desafio e, sabe-se bem que, com a sabedoria, normalmente, instala-se a humildade; regulação, porque as implicações éticas e jurídicas associadas à IA impõem que se estabeleçam limites, com urgência e antes que seja tarde.

Portanto e voltando ao início, com tantos alertas para a imprevisibilidade associada à IA (chover), em vez de nos convencermos que sabemos o que vai acontecer, mais vale ‘jogar pelo seguro’, antecipando e preparando, sabiamente, o dia de amanhã que será, sem dúvida, muito diferente do dia de hoje.

* Professor Adjunto do ISCA-UA. Diretor do Mestrado em Contabilidade e Controlo de Gestão. Artigo publicado no site UA.pt.

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