Apenas uma estratégia concertada que promova, antes de mais, a prevenção adequada dos fatores de risco cardiovascular, poderá evitar esta epidemia, que só terá tendência a agravar-se pelo envelhecimento progressivo da nossa população.
Por Rui Baptista *
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A insuficiência cardíaca é, hoje em dia, um dos problemas de saúde mais comuns no mundo desenvolvido. É a principal causa de internamento hospitalar acima dos 65 anos e a sua mortalidade pode chegar aos 50% ao fim de 5 anos. Com base num estudo realizado em 1998, estimava-se que, na altura, mais de 400 mil portugueses adultos vivessem com insuficiência cardíaca.
No entanto, a realidade é diferente e bastante mais preocupante. Os resultados do estudo PORTHOS – uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da AstraZeneca, em parceria com a NOVA Medical School –, que envolveu mais de 6000 portugueses e apresentados este mês, indicam que uma em cada seis pessoas com mais de 50 anos sofre de insuficiência cardíaca, estimando-se deste modo que mais de 700 mil portugueses vivam com esta síndrome, um incremento substancial face aos dados de há 25 anos. Tão ou mais importante do que a elevada prevalência é o desconhecimento, visto que mais de 90% dos doentes identificados no estudo não tinha conhecimento da sua situação clínica.
De destacar ainda as assimetrias regionais encontradas. Depois de percorridos 22 municípios de Portugal Continental, o PORTHOS revelou importantes assimetrias de prevalência de insuficiência cardíaca entre as diferentes regiões. No Alentejo, por exemplo, a prevalência foi de cerca de 30%. Já na zona Norte do país este valor reduziu para 12%. Estes resultados são alarmantes e devem ser objecto de uma análise mais detalhada.
De um modo geral, podemos dizer que estes resultados foram surpreendentes e constituem um importante alerta de saúde pública que não pode ser ignorado pela comunidade médica e científica, decisores políticos e sociedade civil.
Apenas uma estratégia concertada que promova, antes de mais, a prevenção adequada dos fatores de risco cardiovascular (como a hipertensão arterial, diabetes e obesidade), mas também o diagnóstico precoce, a comparticipação pelo SNS dos exames necessários para o diagnóstico, uma referenciação hospitalar atempada, a implementação das terapêuticas recomendadas e a integração dos cuidados multidisciplinares poderá evitar esta epidemia, que só terá tendência a agravar-se pelo envelhecimento progressivo da nossa população.
A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração é incapaz de bombear o sangue para o corpo na quantidade necessária. Os sintomas mais típicos são cansaço, falta de ar, particularmente em esforço ou que obriga a dormir com a cabeceira da cama elevada ou com mais de uma almofada, aumento rápido de peso ou inchaço nas pernas ou no abdómen. Se tiver estes sintomas deve procurar ajuda de um médico para avaliar a possibilidade de se tratar de insuficiência cardíaca.
* Cardiologista e Co-Investigador do PORTHOS.
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