Cerca de um terço da população (30-36%) sofre de insónia crónica. Os efeitos da insónia e sono de curta duração têm sido amplamente estudados na última década. Tem sido demonstrado um compromisso do sistema imunitário, assim como um aumento do risco de excesso de peso, obesidade, diabetes mellitus, demência de Alzheimer, doença coronária, hipertensão e até da mortalidade. Uma reflexão a pretexto do Dia Mundial do Sono.
Sílvia Correia *
No caso da insónia, verifica-se durante o dia uma maior variabilidade da tensão arterial (TA) e frequência cardíaca e, durante a noite, um aumento da TA sistólica noturna e ausência do declínio noturno normal da TA. Existe um aumento de 21% do risco de HTA nas pessoas com sono de curta duração e este aumento do risco surge até com privações ligeiras de sono, tal como dormir menos de 7h00 por noite.
Tanto os doentes com queixas de insónia, como os que referem sono de curta duração, apresentam um aumento do risco de eventos cardiovasculares não fatais e fatais, mas os que apresentam insónia associada a uma duração de sono inferior a 6h00 são os que apresentam maior risco.
A insónia tem sido também associada a um aumento do risco de doença coronária, incluído o enfarte agudo do miocárdio, bem como do risco de mortalidade cardiovascular, mesmo após ajuste de outros fatores de risco cardiovasculares. Curiosamente, os doentes com insónia inicial (demorar mais de 30 minutos para adormecer) e queixas de sono não reparador foram os que apresentaram maior risco de mortalidade cardiovascular. A insónia inicial (início da noite), terminal (acordar mais cedo sem conseguir voltar a adormecer) e sono não reparador foram associados a um maior risco de enfarte agudo do miocárdio. As mulheres apresentam um risco relativo ligeiramente superior aos homens assim como os doentes com insónia inicial.
As causas para o aumento do risco cardiovascular nos doentes com insónia e sono de curta duração incluem um aumento da atividade simpática e disfunção endotelial. De facto, os estudos mostram nestes doentes um aumento dos níveis de cortisol e dos marcadores de atividade simpática. A insónia está também associada a um aumento da TA sistólica noturna e ausência do declínio noturno normal da TA, colocando-os em risco para doença cardiovascular.
Assim, as pessoas com insónia ou sono de curta duração apresentam um maior risco cardiovascular, com aumento do risco de HTA e de eventos cardiovasculares. Estes dados mostram a importância da avaliação sistemática da qualidade e da duração do sono em todos os doentes com doença cardiovascular, para além da exclusão da apneia do sono.
* Pneumologista Coordenadora da Unidade Medicina Sono do Hospital Trofa Saúde Boa Nova (Matosinhos) e Trofa Saúde Braga Sul. Artigo publicado originalmente no site Healthnews.pt.
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